Portugal Faz Bem
Texto de Francisco Vaz Fernandes
Um dos grandes problemas do design e da indústria em Português tem sido, desde sempre, estarem de costas voltadas, sem conseguirem estabelecer pontes. Os industriais precisam de matéria crítica, inovação para renovar o produto e tornarem-se mais competitivos no mercado global e os designers precisam de industriais para poderem desenvolver o seu exercício criativo e serem mais produtivos.
Esta evidência é , contudo, apenas uma parte da equação da qual Joana Beirão, arquiteta de interiores e business designer, tinha consciência, dadas as dificuldade que, por vezes, enfrentava em encontrar os fornecedores certos para desenvolver os seus projetos pessoais. Havia a necessidade de uma plataforma, onde pudesse encontrar profissionais e capacidades produtivas, uma lacuna que contornou, quando em 2017 no âmbito da feira, Alimentaria & Horexo que decorreu na FIL, foi convidada a criar e a gerir um projeto a que chamaram, “O mais Português Hotel do Mundo”. A orientação dada era recriar um espaço hoteleiro com áreas que cobriam da receção ao quarto de hotel, recorrendo unicamente a marcas 100% portuguesas. Era pois urgente existir essa informação essencial compilada para um acesso de forma rápida e cómoda. Daí que tenha saído a ideia de criar o 1º Diretório pesquisável de marcas de produção portuguesa ligadas à ideação e ao desenvolvimento de espaços interiores. Nascia assim a plataforma – Portugal Faz Bem –, uma página digital, com a apresentação de uma landing page que anunciava um guia on-line dedicado às marcas portugueses. Estávamos em 2018 e a aceitação por parte dos profissionais da arquitetura, design e decoração foi muito positiva o que permitiu que o projeto tivesse uma expansão para novas áreas complementares.
Na fase inicial, a plataforma contou com a colaboração de Carla Gago, uma economista apaixonada pelo design, dona de uma loja de Decoração em Carcavelos. com quem a Joana Beirão tinha trabalhado na realização do seu hotel português. O plano inicial passou por um levantamento de interessados o que as levou a entrevistar e ter um relacionamento mais próximo com os arquitetos, os designers e as marcas. Foram, no essencial, encontros presenciais, grande parte deles nas fábricas ou nos ateliers, nos quais se tentava averiguar quais os estrangulamentos que tornavam impossíveis as relações entre produção e criativos a que estávamos aparentemente condenados. Em conversas aperceberam-se que da parte das marcas o que era pedido no essencial era uma proposta nova, o storytelling da produção e não tanto a do produto. Nesse sentido a plataforma, não procura vender o produto, mas no essencial identificar as marcas nacionais mostrando o seu universo pelo lado dentro. Ou seja, como se fosse o seu lado íntimo na sua cadeia de relações fortes e emocionais que estabelece na esfera local bem como na nacional. A presença das marcas na plataforma faz-se a partir de uma subscrição anual de permanência no diretório, que garante igualmente serviços de comunicação e marketing se pretendidos. Como utilizadores da plataforma encontramos, essencialmente, profissionais da arquitetura, design de interiores e de produto e proprietários. Contam com nomes de marcas de referência nacional como a “Renova”, a “Castelbel”, o “Bordallo Pinheiro”, “Viúva Lamego” mas também entidades mais pequenas como a “Corkart”, a “Serip”, a “João Bruno design”, igualmente relevantes. O feedback tem sido positivo, porque para muita gente é de facto, uma grande descoberta a quantidade de áreas, onde Portugal produz em grande qualidade ao melhor nível internacional, sem que isso seja muito divulgado.
Nos últimos anos, com o conhecimento de tantos interlocutores em fábricas e oficinas em laboração ou antigos complexos industriais, com equipamentos museológicos que lhes proporcionaram tantas histórias emocionantes, as responsáveis da “Portugal Faz Bem”, ganharam uma nova consciência do vasto património industrial que há a descobrir e a preservar. Foi quando surgiu a ideia de cruzar a plataforma Portugal Faz Bem com a área do turismo industrial, levando à programação de visitas a locais de produção industrial ou artesanal. Esta nova perspetiva trouxe novos clientes ligados ao turismo e foi relevante para o crescimento da plataforma. É nesta fase que a equipa teve que crescer e foi lançado o desafio a Maria Jose Cuesta, arquiteta fundadora do atelier CVMJ, de criar os roteiros que, hoje em dia, estão disponíveis. É uma aposta num produto turístico, inserida na agenda do Turismo de Portugal, que procura desenvolver uma rede Nacional de Turismo Industrial português com a participação dos Municípios e Entidades Regionais do Turismo de Portugal. Tornam-se assim intervenientes relevantes e para isso contam ainda com Sónia Freire da “Come by”, que traz o conhecimento ligada à operação turística.
Joana Beirão acredita que o – Portugal faz Bem – permite levar o que de bom se produz em Portugal aos quatro cantos do mundo, de forma acessível e organizada, através dos portugueses espalhados por esse mundo fora e pelos turistas que nos visitam. Certamente é um projeto que necessita de afinações, como por exemplo, ter uma plataforma a funcionar em várias línguas que a tornasse mais robusta, e atendesse a outros sectores da economia.
O Covid trouxe-lhe alguns impasses que têm sido verdadeiros desafios. O projeto que tinha sido pensado para estabelecer encontros pessoais entre profissionais de diferentes áreas complementares, tinha que ser adaptado às circunstâncias do distanciamento social imposto. Resolveram então, promover encontros on-line, onde o número circunscrito de interessados inscritos nunca baixou e até aumentou. O modelo mantém a mesma estrutura, um designer convidado conferencia com responsáveis de duas marcas portuguesas. Nestes novos tempos houve até a possibilidade de se intensificar esses encontros mensais. O último juntou o designer Pedro Ferreira (Pedrita) a Rui Salgado (Fiu Jardins Suspensos) e Aquiles Barros (Castelbel). Nas sessões anteriores passaram nomes como os designers Christophe de Sousa e André Teoman a título de exemplo, que se encontraram com Vanda Jorge (Cool Hunting Society), Susana Baptista (Investwood) e Carlos Coelho (Portuguese Musk). Todos os encontros estão documentados e disponíveis no canal Youtube. Basta consultar o site da Portugal faz Bem.