Crónica por Patrícia César Vicente

Ilustração por Manuel Branco

E ele está presente, e sempre. Em todo o lado. À nossa volta, dentro, fora, aos poucos e em muito. Mas é uma consequência da existência. Nossa e das situações que geramos, herdamos, criamos, fazemos e acontecemos.

Os egos são a origem, quase sempre de batalhas campais que resultam em nada. E deste nada continuamos com nada. Não conseguimos estar fora de nós e ver o nosso ego a transformar-se num boneco de neve gigante. Com a cenoura a fazer de nariz, uns olhinhos, e ainda leva um gorro ou chapéu de cowboy se for preciso.

É um boneco de neve que vai sendo construído com crenças, ideias e afirmações que juramos a pés juntos serem verdadeiras. O ego que se vê ao espelho como um cavaleiro que vem ditar justiça e moralidade está ali, e afinal é só um boneco de neve.

Quando o Inverno acabar será apenas água. E desta água não convém beber.

São criadas histórias na nossa cabeça que têm de terminar assim e assado. “Porque é o que é correcto.” Diz o nosso ego.

Não nos conhecemos assim tão bem, é por isso que da água criamos bonecos de neve. E de simples mortais nos consideramos cavaleiros reais.

E no final do dia resta-nos não ceder, sem sabermos ao certo muito bem porquê. E quando sabemos dali a uns tempos não era assim tão importante.

E é por isso que desde antes dos tempos medievais sempre se fizeram bonecos de neve. Não estive por lá, mas sempre houve água, gelo, inverno, e acima de tudo ego gigantes, enormes, do tamanho de montanhas.

Eles resistem ao tempo, multiplicam-se e intensificam-se. Agora que o Inverno está a chegar, é preciso ter muito cuidado com os bonecos de neve sentados à mesa para a ceia de Natal.

Muitas vezes são apenas poças de água pelas quais passamos durante o ano, e depois ali estamos nós. A dividir uma travessa de filhoses e rabanadas com bonecos de neve. E o pior mesmo, é olharmo-nos pelo espelho da sala e vemos uma armadura, um escudo e uma espada pronta a defender o nosso ego real.

texto por Patrícia César Vicente para PARQ_77.pdf (parqmag.com)