crónica de Patrícia César Vicente
ilustração de Nicolae Negura
Quem me conhece sabe que não sou de falar de assuntos mais íntimos, mas todos os temos. Talvez se identifiquem. Haverá alguém que vai ler e sentir que podia ter sido escrito por si. E as crónicas são isto mesmo. São minhas, são vossas, são nossas.
Já experimentaram ser amados e não conseguirem dar o mesmo amor de volta? Como se estivessem presos a um passado que nem sequer vos aprisiona. Medos, visões de futuro com base nas acções que vêm à nossa frente. E se estivermos a ignorar as red flags? E se isto for a fase em que as pessoas lutam desenfreadamente para demonstrarem que merecerem o melhor de nós, e depois simplesmente não são como se mostravam?
Talvez eu não seja assim tão boa a lidar com o amor, mesmo que o tenha para dar. Ou simplesmente nem todos nos apaixonamos assim tão perdidamente. Mesmo que gostasse, não aconteceu. E tu mereces alguém que olhe para ti da forma que um dia olhaste para mim. Alguém que se apaixone ao ponto de nos primeiros tempos nem perceba os teus defeitos, em vez de teres alguém que os caçava.
Seria egoísmo da minha parte aproveitar-me de quem me quer dar a Península Ibérica, e eu só estar disposta a dar-lhe a ilha das Berlengas. Bem bonita por sinal, mas quem já lá foi sabe que não é grande coisa.
Não perdi o pé, não me atirei. Acho que me permiti, mas não estou preparada para não ter tempo para coisas que demorei a consertar em mim. Desde que saíste da minha vida, fiquei triste não o vou negar. Mas aliviada por não me forçar a estar em situações que me fazem sentir culpada. Não dizer “estou apaixonada por ti” ou colocar-te nas minhas visões de futuro. Não senti confiança de que fosses para mim, não senti a segurança de que soubesses no que te estavas a meter. Acreditares que me fazes acreditar no amor…Honey, eu sempre acreditei no amor e irei sempre acreditar. Simplesmente, há atitudes que me fazem duvidar se estarias ao meu lado nos meus piores dias. A vitimização como red flag, sentir-me a vilã e ter atitudes com que não me identifico…Honey, acho que nem te apercebes do potencial que tens.
És incrível, tens a parte boa das pessoas boas do mundo, mas e o resto? Não podemos ser sempre levados ao colo. E tu sabes disso. Eu adorava as tuas palavras, mas f iquei atenta às tuas atitudes também. E se algo me faz desconfiar, se algo me diz que o caminho não é por ali…aprendi a confiar no meu instinto, e a saber o que não é para mim. Os nossos caminhos cruzaram-se pouco tempo e não me arrependo de nenhum dia. Tivemos muitos momentos felizes. Gostava que soubesses disso. Mas o que também gostava que soubesses é que tenho a certeza de que serás muito feliz. Que um dia vou passar por ti na rua, e ver-te feliz com outro alguém. Um dia vais agradecerme por não me ter aproveitado, ou continuado numa relação que nos podia magoar. Um dia não vais lamentar este fim, garanto-te.
Dedico-te esta crónica, mereces. Tiveste um papel curto na minha vida, mas importante. E a minha maior prova de amor por ti é esta. Não a dedicatória, mas sim, voar para longe de ti para que a tua luz não deixe de brilhar. Sê feliz.
texto de Patrícia César Vicente para PARQ_73.pdf (parqmag.com)