Um nome pelo outro

Texto por Rita Ramos


Foi em 2017 que o Festival de Cinema Sundance foi brindado com a simplicidade e beleza do filme realizado pelo italiano Luca Guadagnino, Call me by your name. Adaptado do romance homónimo de André Aciman, é um filme romanticamente belo sem cair em lugares comuns nem em amores gritantes.


A história tem lugar nos anos 80, numa casa de férias no norte de Itália. A família Perlman (pai,mãe e o filho Elio) pertence a uma elite intelectual que lhes dá o à vontade de viver de forma despreocupada com questões terrenas. Numa espécie de mecenato, Mr. Perlman recebe em sua casa Oliver, um jovem americano sedento de cultura e experiências novas. Na lentidão quente do Verão, entre livros, notas musicais ao piano e passeios de bicicleta, Oliver e Elio Perlman desenvolvem uma relação discreta e poderosa que lhes deixa marcas para o resto da vida. Sempre num tom dourado e soalheiro, o amor inocente e sem preconceitos de ambos remete-nos para os verões infinitos e distantes da nossa adolescência em que tudo era permitido e nada era em vão.

A descoberta de Elio do seu próprio prazer e sexualidade pelas mãos mais experientes de Oliver é suave e atabalhoada. Trocam de quarto, trocam de roupa, trocam de nome e trocam de corpo. É nesta partilha constante que a beleza digna de uma pintura deste filme reside. Tudo é bonito, tudo é refrescante e ao mesmo tempo nada é imposto e nada é artificial. Call me by your name deve o seu nome à extraordinária cena de amor onde Elio e Oliver se confundem como uma só alma em dois corpos. Um filme de relações que não deixa de relevar o amor primeiro dos pais de Elio para com o seu filho e que de alguma forma nos faz invejar a naturalidade e a igualdade com que todos se relacionam em família.


Um filme sem julgamentos que nos eleva do chão através de um amor sem escolha. Nomeado para mais de 30 prémios e vencedor de 11, Call me by your name não é um filme novo mas é um filme imperdível

texto de Rita Ramos para PARQ_73.pdf (parqmag.com)