A Coroa, da Netflix, está de volta e coberta por um véu negro de luto
Texto por Bernardo Semblano
Após uma quinta temporada com uma receção relativamente fraca, pela crítica e pelo público, a mais recente, e última, temporada de The Crown volta dividida em duas partes. Tendo a primeira estreado a 16 de novembro e, a segunda, que sairá pouco antes do Natal, a 14 de dezembro.
Esta primeira parte traz uma grande mudança para a história. Pela primeira vez na série, a Rainha Isabel II perde o trono de protagonismo para uma digna sucessora – Diana, a Princesa de Gales.
Diana, interpretada por Elizabeth Debicki, nas temporadas 5 e 6, vê-se dentro de um jogo de xadrez onde acaba por, involuntariamente, se tornar um peão para diferentes antagonistas. A Princesa tenta, assim, ganhar algum poder contra a imprensa, a família real e a família Al-Fayed.
Elizabeth Debicki revela-se, mais uma vez, como sendo um dos grandes trunfos da série. Se não fosse o facto de ser uma das mulheres mais altas a trabalhar à frente das câmaras de Hollywood, com 1,90 metros, diríamos até que estamos perante a verdadeira Princesa Diana. Claro que, uma grande parte deste sucesso de “adaptação” se deve aos departamentos de cabelo, guarda-roupa e maquilhagem. No entanto, a humanidade, e os maneirismos, que Debicki traz para as gravações são inspiradores e de quebrar o coração.
A atriz faz-nos lembrar que mais que um título, Diana é uma mulher que pretende passar ao público o amor que nunca recebeu, dentro das famílias Spencer e Windsor.
Esta primeira parte, da última temporada da série, vai-se centrar nas últimas oito semanas de vida da Princesa de Gales. Aos poucos os dominós vão-se alinhando até ao seu culminar, a 31 de agosto de 1997, no túnel Pont de l’Alma, em Paris.
Com o divórcio, em 1996, o programa televisivo vai encontrar Diana como uma protagonista com agência, a tentar gerir uma vida de mãe solteira, afastada da família real, mas nunca longe do foco das câmaras e do olhar do público. Aliás, tal como quando estava casada com o, na altura, futuro Rei do Reino Unido, cada passo que Diana dá é digno de uma fotografia ou de um escândalo num tabloide.
Apesar desta proatividade, que a meu ver, é a grande carta de amor que a série redige à verdadeira Princesa, Diana é uma mulher ansiosa e deprimida. Um contraste curioso com as férias paradisíacas em iates, em Saint-Tropez.
Como nem tudo é negativo, The Crown vai introduzindo, e explorando, a relação amorosa de Diana com Dodi Al-Fayed. Duas pessoas que se encontram perdidas entre o dever e o livre-arbítrio. E, sem sombra de dúvidas, que os momentos mais felizes desta primeira parte são passados com o trio Diana, William e Harry.
Por muitas críticas negativas que recebe pela ficção de alguns acontecimentos e diálogos, a série, como até aqui, tem trabalhado para dar um tratamento justo e multifacetado a cada um dos membros da família real. E, sendo Diana o coração da série, mesmo só tendo sido introduzida na quarta temporada, interpretada por Emma Corrin, The Crown demonstra que os maiores erros que esta cometeu foram a procura por atenção e o contornar de algumas regras da instituição, independentemente das suas boas intenções. Estas pequenas ações foram-se somando para que a sua perda fosse tão grande e trágica. Tanto nos noticiários, como nos episódios da Netflix.