Vem aí a segunda edição de QUENGA, a nova festa da SoundPreta, nome já cultuado no underground queer. O Arroz Estúdios volta a acolher, na próxima sexta-feira, dia 9 de junho, esta celebração de corpas “Quyr e pretes”, onde poderão dançar ao som de electro, electro-funk, baile funk, techno, techno brega entre outras sonoridades da música electrónica da diáspora.
SoundPreta é natural de Curitiba e oriunda de uma família com muitas pessoas ligadas à música. Desde sempre que esta arte fez parte da sua vida e, desta forma, foi bebendo de várias influências e géneros, focando-se atualmente “na abrangência do hip hop, trap, grime e drill e também novas sonoridades de funk como mandelão, tuim e mtg”.
Começou a tocar por volta de 2013 em eventos públicos, venissages e em baladas. Em 2016 é quando apura mais sua pesquisa e passa a se dedicar mais às produções, pesquisa e discotecagem. Com SoundPreta sendo criada em 2018, atinge outro nível de reconhecimento profissional, tendo já tocado por cidades como Lisboa, Porto, Paris, Berlim e Ponta Delgada.
“O conceito da Quenga está na celebração desses corpos e das pluralidades dessas culturas. É BIPOC, Quyr, no sentido de que privilegia essas pessoas, esses corpos e esses encontros e o urbano está ligado ao rolê de rua mesmo, de festa, noite de acompanhar as tendências da rua. Dança, sedução e deboche acho que sintetiza bastante também esse conceito de rua e do ser urbana nesse aspecto.” SoundPreta
Com um vasto currículo de mixagem, produção de eventos e pesquisa de música preta, Lola Rodrigues tem também no seu currículo outras produções de eventos no Porto e Lisboa, nomeadamente a festa Making Love, “com uma pegada mais r&b, low e cremosa, voltada para o rebolar devagarinho, e trará novidades em breve”.
Outro evento de sua curadoria e que contou com duas edições na cidade do Porto é o Sonora, festival que curou e produziu com mulheridades de diversas áreas artísticas como performers, DJs e bandas. Lola decide então criar a Quenga no início deste ano. A Parq colocou algumas questões à artista sobre o seu percurso e esta sua nova festa.
Parq: Quando começaste a tocar e como aconteceu?
SoundPreta: Essa é uma boa pergunta, porque eu não tenho bem certeza. Pelo que tenho memória foi em 2016, mas acredito que tenha sido antes! Diria que 2016 foi quando comecei a tocar mais, mas antes de realmente me dedicar a isso eu já tinha tocado muito na minha cidade, a minha motivação inclusive veio disso. Sem ser Dj, eu era muitas vezes chamada para tocar em festas de amigos, em vernissages até mesmo em baladas. Aí comecei a produzir eventos e tocar nestes eventos. E eu posso dizer que comecei a tocar nessas esporádicas em 2013, praí.
Parq: Desde então em que sítios já tocaste?
SoundPreta: Quando diz em sítios são países, cidades? Bom, fora Lisboa, toquei no Brasil, toquei no Porto, Paris, Berlim, toquei nos Açores, em Ponta Delgada no Walkie and Talkie… E esse ano vamos ver o que vem por aí!
Parq: O que te levou a criar a Quenga e qual o seu conceito?
SoundPreta: O que me levou a criar a Quenga, foi mais uma possibilidade de espaço e diversão para as Quyr e as pretes. Bem nessa interseção mesmo nem tanto lá, nem tanto cá, numa de juntar as pessoas em pontos em comum tanto do cotidiano, como da luta mesmo… promover mais uma possibilidade de encontro e troca dentre as outras que já rolam, só que com o meu toque.
O conceito da Quenga está na celebração desses corpos e das pluralidades dessas culturas. É BIPOC, Quyr, no sentido de que privilegia essas pessoas, esses corpos e esses encontros e o urbano está ligado ao rolê de rua mesmo, de festa, noite de acompanhar as tendências da rua. Dança, sedução e deboche acho que sintetiza bastante também esse conceito de rua e do ser urbana nesse aspecto.
Parq: Houve ainda um prémio atribuído ao melhor outfit da festa na primeira Quenga, uma peça exclusiva da Alex BaXana Modas, e nesta próxima edição haverá de novo este concurso e quem vencer receberá uma peça Kahumbi. Quais as motivações por detrás desta ideia?
SoundPreta: As motivações do prêmio estão ligadas mesmo ao incentivo das gatas se sentirem bonitas e se montarem para vir pra festa se verem e se sentirem gostosas e olhar pras outras e perceber o mesmo, babado de auto estima mesmo. Sem carão, só no amor. E também no lance do urbano em relação ao conceito é de saber as tendências que andam por aí, o que o pessoal tá vestindo o que estão criando.
Parq: A balada além da libertação e do prazer, tem um cunho politico bastante importante. Qual o teu entendimento sobre esta perspetiva da rave e de que forma procuras aplica-la nos teus eventos?
SoundPreta: O meu entendimento sobre a perspectiva de “fervo também é luta” está diretamente ligada a minha vivência de Brasil e de rua, de rolê. Mas acho que isso se aplica também a diferentes países e contextos. Para estarmos onde estamos e celebrando a nossa existência muita gente veio antes de nós lutou pela possibilidade de ser e de estar então celebramos a nós e a nossa (re)xistência mas também as dos que vieram antes de nós. É uma celebração por estarmos vivas, mas sem esquecer do passado e sem apagar o presente de quem ainda está lutando, não estamos sós 🙂
No dia 9, constam no cartaz as DJs Millian Dolla, Lil Bukkakke, Kebra e SoundPreta. Com um alinhamento 100% no feminino e cartaz desenhado pela Marco Maiato, espera-se uma noite de libertação, elegância e fruição. Os bilhetes encontram-se à venda na plataforma Shotgun por 7€ e também poderão ser adquiridos na bilheteira do Arroz Estúdios, pelo valor de 10€.