Texto e fotografia de Francisco Spratley para PARQ_78.pdf (parqmag.com)
No passado mês de Novembro estive de visita à cidade de Tóquio. Uma cidade intensa, cheia de contrastes e onde se “respira” criatividade. Durante a minha estadia deixei-me levar pelos encantos desta cidade. Passear, levou-me a encontrar recantos que não tinha tido a oportunidade de conhecer antes.
Foi assim que descobri o incrível trabalho do Hiroshi Naito, arquiteto japonês (1950, Yokohama), que foi trabalhar uns anos na Europa no escritório do arquiteto Fernando Higueras em Madrid, para enriquecer os seus conhecimentos e mais tarde fundar a Naito Architect & Associates em 1981.
O primeiro projeto realizado em Tóquio foi a galeria TOM (acrônimo para “Touch Our Museum”), que é um edifício de três andares que alberga uma residência particular no piso térreo e nos andares superiores, um espaço de exposição. O edifício, concluído em 1984, apresenta uma cobertura em zinco com clarabóias de vidro, a todo o comprimento, que conferem ao espaço uma atmosfera cálida e luminosa, e que contrasta com a estética robusta do betão. Estas clarabóias permitem que os raios de sol entrem destacando diferentes ângulos no interior. A luz natural ajuda a reforçar o papel deste elemento no espaço.
A galeria não é muito grande, mas dividi-se em dois níveis, com acesso a um terraço exterior no topo, de onde se pode entrever a confusão da cidade. No primeiro andar existe uma pequena cozinha e um escritório, com uma vasta coleção de livros do proprietário da galeria. Um espaço que tendo sido construído há quase 40 anos, sente-se como um edifício atual.
Depois de visitar esta galeria, fiquei com mais vontade de conhecer a restante obra do arquiteto. Decidi então visitar uma das obras mais recentes, o edifício Kioi Seido, muito peculiar porque foi um projeto que foi pensado sem se decidir o seu uso ou função. Um cubo de betão de 15 metros de lado, revestido com uma membrana de vidro. O edifício parece um Panteão moderno, onde a combinação de rigidez e subtileza cria uma atmosfera especial.
A luz natural é o tema principal neste edifício. No rés do chão, a luz é lateral, enquanto que nos andares superiores é zenital, o que nos provoca sensações completamente diferentes: no rés do chão como há pouca iluminação, sentimo-nos como numa gruta, enquanto que nos pisos superiores o espaço é inundado com luz.
Quando visitei o edifício, havia uma exposição chamada “A Raiz do Pinheiro Milagroso”, uma homenagem ao grande terremoto e tsunami em Fukushima em 2011. A raiz do pinheiro que sobreviveu ao tsunami e foi colocada no centro da sala. O espaço escuro combinado com a ilusão de estar no subsolo fez me sentir como se estivesse enterrado. Tive a sensação de que o tronco do pinheiro crescia do átrio para os outros andares, como se o edifício tivesse sido criado a partir da raiz deste pinheiro.
Em ambos os projetos e com o desfasamento de quase 40 anos conseguimos identificar uma coerência na pratica deste arquiteto: a dualidade dos espaços, onde o mesmo espaço é capaz de nos provocar sensações totalmente distintas.
TOM Gallery
Kioi Seido