Lara Mather relembra Bronson para a edição da PARQ_78.pdf (parqmag.com) em que festejamos 15 anos. Tal como em 2008, quando a Parq dava os primeiros passos, este filme é obrigatório.

Realizado por Nicolas Winding Refn, o filme independente “Bronson” estreou no BFI London Film Festival no dia 17 de Outubro de 2008. Baseado numa história verídica, Tom Hardy interpreta o papel de Charles Bronson, considerado o prisioneiro mais violento do Reino Unido.

Começando com um monólogo com falas diretamente para a câmara, conhecemos Michael Peterson que desde pequeno se envolvia em lutas na escola. Michael, casado e pai de um filho, decide em 1974 assaltar um posto de correios, sai apenas com uns trocos, no entanto, é condenado a sete anos de prisão. Ao fim de quatro anos, devido a mau comportamento, é condenado a confinamento solitário. É transferido várias vezes de prisões e hospitais psiquiátricos e em 1987 é declarado são e libertado, não porque cumpriu a sua pena mas porque o Estado britânico chega a considerar que ele causa grandes danos financeiros com atos de destruição e vandalismo dentro da prisão. No pouco tempo que esteve libertado começa uma “carreira” de lutador de rua em que cria um alter ego com o nome de Charles Bronson em homenagem ao famoso ator dos anos 70. Rouba uma loja de joalharia e volta a ser preso no ano seguinte.

Em certos momentos do filme, Hardy aparece em personagem para falar e explicar os acontecimentos da sua vida de uma forma muito dramática, a um público num teatro mal iluminado em que percebemos que Bronson não está bem psicologicamente e é como se estivéssemos dentro do teatro da sua mente.

Charles Bronson foi estendendo a sua estadia na prisão ao longo dos anos por continuamente não cooperar, agredindo guardas prisionais e muitas vezes obtendo reféns. No ínicio do filme vemos que torna o bibliotecário do estabelecionamento prisional refém e mais para o fim, o seu professor de arte.

Tom Hardy falou com Bronson ao telefone para se preparar para o papel tendo sido elogiado pelo próprio pela verossimilhança na sua atuação. É talvez dos papéis menos conhecidos do ator mas merece reconhecimento pela sua entrega e dedicação. Hardy recebeu o prémio de melhor ator nos British Independent Awards em 2009 e o filme recebeu o prémio de melhor filme no Sydney Film Festival no mesmo ano.

O filme foi filmado em película notando-se a estética granular da imagem, uma escolha acertada do diretor de fotografia Larry Smith e foi montado por Matthew Newman que voltou a trabalhar com Nicolas nos filmes “The Neon Demon”, “Drive”, “Only God Forgives” e “Valhalla Rising” da autoria do realizador.

A impressão com que ficamos de Bronson é que este de facto quer passar o resto dos seus dias na prisão. Várias vezes ao longo do filme perguntam-lhe o que ele quer e quando lhe é sugerida a liberdade reage violentamente. A prisão é o único sítio em que ele se sente importante e reconhecido apesar da solidão.

Charles Bronson continua preso até hoje tendo sido condenado à prisão perpétua em 1999 apesar de nunca ter morto ninguém. Casou-se e divorciou-se algumas vezes dentro da prisão, já escreveu alguns livros e dedica-se muito à pintura. Em 2014 mudou legalmente o seu nome para Charles Salvador em homenagem a Salvador Dalí, o seu pintor favorito.

“Bronson” é um filme violento que contém cenas gráficas e cenas de nudez frontal, não sendo por isso aconselhável a audiências mais novas.