Texto por Alex Couto
Fotografia por Maria Rita
T-Rex, nome artístico de Daniel Benjamim, é um artista musical a viver o que tantos outros desejam para si: um hype enorme, que fez por merecer.
Depois de projectos milionários em streams como Gota D’Espaço (2020) ou Castanho (2022) e de duas datas esgotadas no Tivoli, a antecipação paira sobre o seu próximo disco. Vamos ouvir as expectativas de T-Rex acerca de Cor D’Água, mas também vamos conhecer como a versatilidade e a mente aberta são essenciais para ele.
Aliás, vimos como essa postura se revelou durante a sessão fotográfica onde nos encontrámos e onde pudemos conhecer um T-Rex descontraído, com uma naturalidade face às câmaras apontadas para si. Também descobrimos o seu entusiasmo acerca da roupa que ia vestir, o que revelou o quanto as múltiplas inspirações não são um exclusivo da sua música – aproximam-se também da sua forma de ser e de estar.
“Para mim é dope, eu gosto de experimentar cenas novas. Acho que isso também me inspira para o meu estilo do dia. Por exemplo, ter feito estas fotografias, já vou ter vontade de experimentar coisas novas que nem sequer sabia que podiam ser o meu estilo. Essa versatilidade ajuda-me a manter a mente aberta.”
Isto fica muito claro na forma como T-Rex reage com entusiasmo ao que o viewfinder da máquina fotográfica da Maria Rita revela. Apesar de o associarmos a um look moderno e urbano, a naturalidade com que veste um fato ou assume uma peça mais disruptiva revela-nos que o estilo é dele, seja em que estilo for.
Obviamente, tento levar esta percepção de versatilidade para a sua relação com a música.
“Eu já sou rapper do feto. A música está no sangue, cresci numa casa de músicos. O meu pai é músico, os meus irmãos são fãs de música e ouviam de todo o tipo.”
É fácil perceber isto a ouvir a música do T-Rex. Se em certas faixas encontramos um rapper que cresceu durante a era mais mainstream do trap, por outro lado encontramos detalhes e sonoridades que acrescentam um colorido diferente, que não só desperta uma audição mais interessante, como nos deixa curiosos com qual será o caminho a ser explorado a seguir.
“Cada um tinha o seu estilo, a minha irmã mais velha e a minha mãe ouviam música tradicional, a minha irmã do meio era Backstreet Boys e a minha irmã mais nova era da Kizomba. O meu irmão curtia mais rap e como dormia no quarto com ele, deve ter vindo logo daí. Cada um do seu estilo.”
Ouvido aberto, mente aberta. Quando conversamos sobre isto, parece que há uma continuidade na forma como T-Rex encara o mundo. A inspiração está em todo o lado e ele tenta manter-se curioso para que chegue até ele. Pergunto-lhe como é que isso se relaciona com o hip-hop, um estilo que durante tanto tempo pareceu ter regras formais e até uma certa obrigação com a dureza da pose.
“Dizeres que és rapper pode ser muito ingrato. Se calhar é mais importante veres-te como um artista. Eu alimento a cultura hip-hop, mas o rap já sofreu uma evolução (assim como toda a música). E essa evolução do rap, ajuda a levar a cena gangster para longe, uma certa postura associada também, é algo que tem de parar de ser colocado numa box.”
Pergunto-lhe se é por isso que o associamos tão rapidamente a um artista que mistura géneros e influências e percebo de imediato que isso não é por acaso. No seu projecto mais recente, Castanho, até na cadeira do produtor se sentou, sendo capaz de contribuir com dois beats.
“Hoje há muitos estilos de rap, há rap que se junta com punk rock. Como tens outros mais soul e mais jazzy como o Kendrick Lamar e o Isaiah Rashad.”
Noutras entrevistas dele, percebi que também não fazia diferenciação entre falar para um público português ou angolano. Há uma paz de espírito na sua singularidade que deve ser uma fonte inesgotável de inspiração.
“Cada um é como é e o rap sempre fez por proteger isso.”
Exacto. E um rapper que defende esta liberdade com tanta naturalidade tem desde logo a nossa atenção. Pergunto-lhe se é por isso que tem tanto orgulho em dizer que não é um artista de singles, mas sim de projectos. Encontro a simpatia de T-Rex na forma como esclarece que estamos numa era de imediatismos e que não crítica quem assume a doutrina do banger. No entanto, esclarece o porquê de acreditar na complexidade.
“Isso é o que eu mais gosto na música, ouvir um disco, faixa a faixa e ficar a conhecer melhor um artista. Num single tu só ouves o single. É como um filme, ninguém consegue avaliar um filme só por uma cena. É o conjunto, o todo, que te permite saber a história e apreciar a arte.”
Adoro a metáfora e acho que remata bem o assunto. Só que eu já estou à espera do trailer, quero saber mais sobre o novo disco do T-Rex e tenho a certeza que a curiosidade é geral.
Começo por lhe perguntar se também vai ter uma cor associada, como os projectos anteriores, mas isso seria um spoiler alert e não abre o jogo. Diz-me que se vai chamar Cor D’Água, mas não me adianta se vai ser azul-turquesa ou verde-água. Pergunto-lhe o que me pode contar.
“Posso dizer-vos que este vai ser um filme, mas vai ser um filme longo, um daqueles que provoca entusiasmo e antecipação. Estás a ver a Marvel? Este é tipo Avengers Endgame, um blockbuster para toda a gente.”
O entusiasmo é palpável. E faz todo o sentido. Depois de ter tido a música mais tocada em 2021 em Portugal no Spotify, será que repete o feito em 2022? Face ao que conversámos, apercebemo-nos que há uma grande diferença entre falar de mudança e falar de evolução. A mudança pode ser algo importantíssimo, mas é a evolução que nos eleva até ao status-quo. No caso do T-Rex, a evolução não é um conceito abstracto – é a sua realidade.
texto de Alex Couto para a PARQ_76.pdf (parqmag.com)
Fotografias de Maria Rita, Styling de Tiago Terreira e grooming Verónica Zoio