A perfeita alquimia

A prolifera banda australiana King Gizzard & The Lizard Wizard está de volta com o seu novo disco K.G.. Incrivelmente criativa e dinâmica, a banda em apenas oito anos lançou nada mais do que dezasseis álbuns. Este é o seu décimo sexto, que nos convida para uma viagem alucinada banhada em mezcal, num turbilhão de instrumentos e sons. Tolda-nos os sentidos. Invade-nos a mente, ao ponto de distorcer a nossa psique.

É impressionante a mestria com que o grupo explora as fronteiras dos géneros musicais, criando ainda mais tonalidades na sua infinita paleta criativa. A faixa de abertura “K.G.L.W” inicia instrumentalmente a narrativa do disco. Guia o ouvinte por caminhos fora do tempo e do espaço, mas instruí desde logo que os temas interligam-se. As passagens são diretas entre as musicas, como se percebe com o fim da faixa numero um e o início do tema seguinte, “Automation”.

A tonalidade que dá o mote ao álbum é de inspiração árabe, quer seja pela sua estrutura bem como pelo uso da baglama, instrumento tradicional turco. Atravessa todo o disco, sobretudo pelo recurso a microtonalidades.“Minimum Brain Size” explora calorosamente o conceito.

O espirito psicadélico da banda encontra sentidos ampliados em “Straws In The Wind”, um perfeito caldeirão musical universal. “Some of us” acelera o pulsar da canção, como se um corpo humano pudesse mutar para um outro nível na escala evolutiva. E “Ontology “ atinge o clímax, ascendendo ao vórtice do transcendente plano astral.

O tema “Intrasport “, provavelmente a infusão mais pop do disco, desafia para uma corrida à pista de dança. Oddlife é a transição perfeita para uma louca viagem, como quem diz que ainda há muito por explorar. O infinito é o limite.

Quase a terminar o disco, “Honey” faz justiça ao seu nome adocicando a melodia. Como se tratasse de uma transição para o consciente. Como quem adverte para a faixa que encerra o álbum “The Hungry Wolf Of Fate”, exigindo a plena concentração para experienciar os riffs pesados e metálicos das guitarras. Num grito de exaustão sensorial.

Cada disco dos King Gizzard & The Lizard Wizard é uma nova experiência, uma viagem para mundos nunca vistos. K.G. explora mais uma vez esse conceito. É como se a banda fosse composta por feiticeiros e a música a sua alquimia. Combinam poções aparentemente antagónicas mas que resultam numa expansão dos sentidos. Para além da nossa própria compreensão.

texto por Carlos Alberto Oliveira para a revista PARQ 68 Dezembro de 2020