Texto de Francisco Vaz Fernandes

Apesar de uma estrela Michelin conquistada pelo seu projeto Loco, em Lisboa, Alexandre Silva, não quis estar parado e lançou o Fogo, um novo restaurante com 60 lugares sentados. Nas Avenidas Novas, este novo espaço foi pensado para um público mais abrangente oferecendo um menu cingido a todas as possibilidades de confeção que o fogo permite. É um ponto de partida que podia parecer limitativo em termos de recursos técnicos e sofisticação mas ainda assim é um grande desafio. Há algo primordial, acessível a todos, à partida, mas que ganha mestria e sofisticação no Fogo. Afinal, tudo depende do exercício da experiência e da vontade de ir mais além.

O tema do restaurante é o “fogo” e por isso não é de estranhar que atravessado o limiar da entrada já estejamos num plano elevado, uma verdadeira plateia com vista privilegiada para o palco. É ali no fundo que tudo parece acontecer com uma equipa que rodopia entre lume e brasas São os verdadeiros atores da noite que executam uma coreografia bem ensaiada. Dominam cinco técnicas que se fazem a partir um forno a lenha, potes de ferro, ‘robata’ (grelhador), padaria e pastelaria

Apesar da combustão da madeira, não encontramos sinais de fumo contradizendo o ditado, onde há fumo há fogo. Vencido esse desafio, é no paladar que se sente o fumado e é ai que o Fogo acrescenta valor gastronómico a alguns dos sabores mesmo que familiares. Surpreender o palato é o lema e por isso todo o seu entorno não precisa de grandes atavios. Tudo é minimal, mas de forma orgânica com peso e cor, desde os candeeiros incandescentes que serpenteiam pela sala, até à solidez a madeira bruta das mesas

O Fogo abriu no meio da pandemia e por isso o período de afinação acabou por se estender e só agora conseguem ter um menu de degustação repartida por seis momentos: quatro snacks, serviço de pão, dois pratos principais, sobremesa e café, pelo valor de 80 euros sem pairing. Nele podemos encontrar alguns dos pratos que tornaram-se, entretanto, uma referencia no Fogo, como por exemplo, as ostras na brasa (7 euros 2 Unidades). As ostras passam literalmente pelas brasas ganhando uma textura menos viscosa mas que é compensada por um pesto de ervas verdes que lhes confere uma frescura renovada. O que surpreende é essa mistura com o paladar a fumo. É igualmente um regalo para os olhos. Há opções com a mesma técnica para uma porção de berbigão (12 euros). O sabor é ainda mais intenso e casava perfeitamente com um vinho branco fresco, um Página 2020, Arinto de Óbidos.

Quanto aos pratos principais, entre várias sugestões do chef , a opção passou por um peixe que se altera consoante a disponibilidade do dia. Desta vez foi-nos servida uma excelente posta alta de robalo apanhada ao anzol (24 Euros). Embrulhada em envolventes fatias finas de courgette, levemente suadas e cobertas por um generoso molho de manteiga e alho todo o prato é uma composição de delicadas texturas, onde matéria ganha um carácter de excelência. Visualmente também interessante, passamos de um possível tom de mármore, monótono, para um verdadeiro Pollock pleno de veios esverdeados, avivados pelo escorrimento de um pesto de ervas muito líquido, explicado prontamente, por não engrossar com frutos secos ou queijo como seria habitual. No seu conjunto é um prato surpreendente, guloso e uma boa razão para voltar.

Já referente as sobremesa o mil folhas é obrigatório, mas se quiserem ser mais ousados, surpreendam o paladar uma proposta de morango grelhado na brasa com fava tonka e trigo serraceno.

Texto de Francisco Vaz Fernandes para

Fogo

Av. Elias Garcia 57, Lisboa

3ª a Sáb. das 12:30 às 16:00 e das 19:00 às 00:30

Reservas: Tel.: 21 797 00 52 ou fogo.reservas@alexandresilva.p