Um novo nome na moda portuguesa

texto por Adriana Veríssimo Silva

Tiago Bessa é um dos finalistas do Festival internacional de Hyères, o concurso de moda mais importante do mundo. É o segundo portugues a ser selecionado para o concurso, Filipe Oliveira Baptista, submeteu-se em 2002, tendo conseguido o primeiro prémio e uma longa carreira internacional. Em entrevista Tiago Bessa explica o seu processo criativo e o seu jovem percurso que iniciou em 2017 na Modatex, no Porto. No ano passado ganhou a sua maior distinção ao vencer perante um júri internacional o Fashion Design Competition do ModaPortugal, que reunia finalistas de algumas das melhores escolas de Portugal, Itália, Finlândia, Suíça e Reino Unido.

Parq – Sei que iniciaste o teu percurso em moda à relativamente pouco tempo, conta-me um pouco sobre o começo deste teu percurso. Porquê moda, onde começaste, quando criaste a tua própria marca, …?

Tiago Bessa – Eu sempre estive ligado à moda, a minha mãe e avó tinham um atelier de costura próprio, e foi frequentando esse atelier que comecei a desenhar e a me apaixonar pela moda. Ao mesmo tempo venho de uma cidade bastante têxtil, o meu treta-avó era alfaiate, a minha outra avó trabalhava numa fabrica de costura. Contudo a maioria da minha família não queria que eu seguisse este trajeto, eu próprio comecei a ter dúvidas e andei um pouco perdido durante algum tempo. Fui até impulsionado para ciências mas não me sentia realizado em passar um dia em laboratório, então decidi ir para o que realmente queria e gostava, que era design de moda. Entrei na Universidade do Minho mas saí uma semana depois porque fui aceite no Modatex. O meu percurso começou aí. O início foi um pouco difícil e demorado porque tive que desconstruir o que achava que era roupa, mas depois de encontrar um ritmo, achei bastante proveitoso toda esta aprendizagem, que me levou a esta última coleção, a de final de curso com a qual ganhei o prémio da Moda Lisboa.

P – Também ganhaste o concurso da ModaPortugal do ano passado, ficaste surpreendido, como te sentiste? Qual foi o impacto do prémio na tua vida profissional desde então?

TB – Quando entrei no concurso não estava à espera de ganhar, principalmente o global, estava confiante e queria muito expor a minha coleção, desfila-la, ter fotos para mostrar à minha avó. Com o prémio ganhei muito mais exposição, as minhas peças foram muito procuradas pelos stylists e consequentemente saíram em muitas revistas .

P- As tuas peças têm bastante pormenor, qual a inspiração e o porquê disso?

TB – Eu como te tinha referido antes, tive várias influências da minha avó e mãe e do atelier delas, e elas trabalhavam principalmente em vestidos de noivas, e eu adorava todos os detalhes que elas faziam nos vestidos. Então eu acabo por me inspirar e transmito essa influência para as minhas peças, vês muito isso, por exemplo nos inúmeros botões que cada um dos meus vestidos tem.

P – Como funciona o teu processo criativo, desde a etapa de pesquisas ao conceito e escolha dos modelos para runway?

TB – Começo por desenhar até chegar a uma ideia que eu queira seguir, depois pesquisar bem o tema, brainstorming a partir de imagens e palavras, destas realizar colagens e finalmente desconstruir. Desta maneira consigo ter um processo limpo, sem originar cópia e conseguir chegar a algo original.

P- Quais foram as maiores dificuldades que tiveste no decorrer da tua carreira até ao momento?

TB – No meu percurso de designer, uma das minhas maiores dificuldades era não ser autêntico, sentia-me até frustrado, queria ter algo totalmente meu, sem cópia ou pedaços de outro designer. Penso que consegui chegar a peças totalmente minhas e originais a partir do processo que te disse anteriormente e de ilustrações. Por outro lado, como as peças são muito escultóricas, tive que trabalhar muito modelação e perceber o que é possível ou não, e isso foi outra grande dificuldade minha. Sei também que por elas serem tão diferentes e volumosas, perco muito trabalho porque o meu projeto é muito mais arte e escultura do que ready to wear, e isso torna-se um desafio.

P – Como estás a pensar transformar/manter a tua marca sustentável?

TB – Em termos de sustentabilidade, o conceito que eu tenho é muito mais haute couture, e realizar tudo por encomenda, deixando o fast fashion e o consumo extremo de lado.

P – Como vês o teu futuro na moda?

TB – Estou num período mais calmo da minha trajetória e isso assusta-me. Saí agora do meu estágio e quero realizar mestrado mas ainda não sei muito bem onde, ando há procura da universidade ideal.

P – Que dicas darias para quem está a começar ou deseja entrar na área da moda?

TB – Acho que tens que insistir muito no que fazes, no que és e no que queres.

Penso que a diferença do medíocre para o bom é conseguires pensar muito objetivamente no que queres e criticares-te construtivamente ao mesmo tempo. Durante a pandemia fiz muito isto, tinha muito tempo livre para pensar no que realmente queria e percebi que não estava satisfeito com o que estava a desenvolver, foi a partir daí que comecei mais a realizar colagens e desenvolver o meu processo da forma como te disse anteriormente.

Basicamente as dicas que dou são não ficarem satisfeitos com o primeiro esboço, permitir que se evolua, procurarem mais, irem além.

texto de Adriana Veríssimo Silva para PARQ_77.pdf (parqmag.com)