Um drama psicológico em ilha grega
Texto por Lara Mather
O primeiro filme realizado pela atriz Maggie Gyllenhaal intitulado “The Lost Daughter” é baseado no livro com o mesmo título de Elena Ferrante. Estreou nos cinemas em Portugal em Fevereiro de 2022.
O filme começa com a personagem principal Leda, interpretada por Olivia Colman, uma professora inglesa de literatura, de férias na Grécia, que observa à distância uma família alargada, na praia, particularmente a mãe muito jovem chamada Nina, interpretada por Dakota Johnson, e a relação com a sua filha, Elena.
É quando a filha de Nina desaparece na praia que, Leda, ao encontrá-la, passa a conhecer pessoalmente a família. Percebemos através de flashbacks, em que Jesse Buckley interpreta a versão mais nova de Leda, a complexidade desta personagem e, de como ela como mãe tinha sido com as suas duas filhas, que agora adultas, se arrepende de coisas que lhes fez e que a levaram a ficar sozinha. Nos diálogos que Leda tem com Nina, aquela revê-se e simpatiza com Nina, por esta também se sentir sozinha e sufocada a tomar conta da filha, bem como com a relação extra-conjugal que Nina está a ter e que, Leda outrora tinha tido.
É um filme que explora o que é ser mãe, os sacrifícios que faz pelos seus filhos e a sensação de querer, ao mesmo tempo, ter uma identidade, e viver livremente a sua vida. Não é um filme sobre mães más, é sobre a complexidade do ser humano, liberdade e querer ter controle sobre a própria vida.
Maggie faz um excelente trabalho na realização deste filme, com escolha de planos muito fortes em que ficamos focados muito tempo nas personagens. Tendo-se inspirado em filmes de Antonioni e Godard, que por vezes, só com os olhos já nos dizem 1000 palavras, como é o caso da personagem de Nina, exemplarmente representado por Dakota Johnson. Conseguimos sentir também o movimento da câmara de mão, muito característico deste filme, que lhe dá um toque pessoal, especialmente nos momentos de maior tensão e suspense, como por exemplo, no momento em que Nina procura Elena na praia, tal como nos flashbacks, quando a jovem Leda procura pela sua filha igualmente perdida na praia.
A cinematografia de Hélène Louvart, é brilhante, com luz natural e paisagens magníficas vindas da ilha de Spetses, na Grécia. Como a luminosidade da paisagem, este é um filme europeu, leve, com pouco diálogo, mas com muita emoção por detrás.O som torna-se numa grande personagem no filme. O compositor Dickon Hinchliffe fez um trabalho belíssimo, com uma música que nos leva numa viagem de pânico, confusão, amor e serenidade ao mesmo tempo. Um som em que ouvimos claramente todos os instrumentos tocados, com forte presença, impossível de não se notar.
O editor do filme Affonso Gonçalves, brasileiro e americano, cola estes momentos de uma forma espetacular. Os cortes e transições do presente para o passado e, do passado para o presente são feitos de uma forma impecável, em que o espectador compreende facilmente em que momento está e que momento fez despertar essa memória em Leda, levando-nos de volta ao presente com leveza.
“The Lost Daughter” merece ser visto e apreciado por todos.