texto de Carla Carbone

Entre março e agosto de 2023, o Maat recebeu uma exposição que constituiu uma verdadeira jóia para estudantes e especialistas de design. Chamava-se “Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo” e incluía, no seu vasto espólio, exemplos de um extenso uso do plástico, e nas mais variadas formas e maneiras.

Diante dos nossos olhos pudemos apreciar modelos que até então permaneciam na nossa imaginação ou que tínhamos somente vislumbrado em livros. Poucas ou nenhumas oportunidades tivemos antes de as ver ao vivo.

vista geral de uma das salas da exposição, Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo, MAAT, Lisboa

Ao centro do espaço, recriando um interior da década de 60 e 70 do séc. XX, sensivelmente, concentravam-se os objectos mais icónicos do design, transportando-nos para uma era em que o plástico era promessa de futuro, e onde o material trazia uma solução para tudo, até para habitação.

Podíamos deliciar-nos com as formas redondas e sensuais de peças de design coloridas, como o emblemático rádio “Panasonic Toot-a-Loop R-725”, 1969-72, de cor vermelha, o set de talheres de Jean Pierre Vitrac, 1928/29, ou a “Ball Chair” de Eero Aarnio, de 1963. Também era possível extasiar-nos com as maquetes de casas, como, a exemplo, a casa “Monsanto House of the Future” – uma casa concebida totalmente em plástico, e que, com as suas formas futuristas, adquire hoje o epíteto de casa do “futuro do passado”. Em torno do modelo da “House of Future”, podiam ser visionados filmes promocionais da época, onde era possível assistir ao modo utópico como se encaravam o uso dos plásticos e observava uma crença cega nos seus benefícios.

Jean Pierre Vitrac, Plack , conjunto para piquenique. 1977 Cortesia do Museum of Design in Plastics, Arts University Bournemouth

Todas as formas em plástico, que cresceram exponencialmente, desde os materiais de construção aos objectos do quotidiano, pelo seu desempenho eficaz, por um lado, ou pelo aspecto atraente e irresistível por outro, constituíram uma verdadeira armadilha para a humanidade.

Hoje temos uma quantidade incontrolável de objectos oriundos de polímeros sintéticos que não conseguimos ver-nos livres tão cedo.

Bär+Knell, Müll Direkt, 1994 © Vitra Design Museum, foto: Jürgen Hans

A exposição acolheu, não só exemplos pertencentes à categoria glamorosa do design, (a exemplo, a simbólica “Tupperware”, que serviu a imaginação de tantas donas de casa), como também forneceu amostras do uso do plástico para fins utilitários, fosse na medicina, fosse na alimentação, na indústria aeroespacial, ou na construção.

A questão colocada foi, o que fazer a tantos resíduos, produzidos há mais de cem anos? Na exposição houve oportunidade para visionar documentários críticos sobre a comercialização de cadeiras de plástico brancas, as famosas cadeiras de resina, que, pela instabilidade que ostentam, são fáceis de quebrar, e de fazer cair pessoas.

Shellworks, contentores produzidos em Vivomer, um bioplástico produzido a partir de micróbios que se decompõem, 2021 © Shellworks, foto: Catharina Pavitschitz

Tínhamos, ainda, nesta exposição, a oportunidade de ver objectos de usos tão diversos, como o icónico telefone de mesa, de Marcel Breuer e Richard Schadewell; A fonte de beber de Dixon, A cadeira feita de resídios da Bar * Knell, de Mull DIrekt, 1994; as jarras feitas de bioplásticos da marca Shellworks, 2021; as experiências formalmente orgânicas do Studio Formafantasma, de 2011; as máquinas trituradoras de plástico Precious Plastic; os “jardins” “Yiwu Commodity City” de Richard John Seymor, 2015; a quinta bioplástica de Marco Cagnoni, 2018; as micro algas fabricadas para o uso em biopolímeros, entre outros.

De um universo de mais de quatrocentas espécies de plásticos, a exposição “Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo”, com curadoria da Vitra, de Jochen Eisenbrand, Mea Hoffmann, Charlote Hale, a Lauren Bassam, Anniina Koivu, demonstrou-nos um universo de plásticos, exibindo os seus aspectos contraditórios, por um lado podem ser essenciais, por outro supérfluos, por outro ainda, podem ser sedutores ou até perigosos.

MycoTEX em colaboração com Karin Vlug, MycoTEX seamless jacket; foto: Jeroen Dietz

Dividida em três grandes núcleos, a exposição centra-se também na história do plástico, desde as suas origens naturais até às experiências sintéticas, pela mão dos cientistas. E por último, reúne exemplos dos esforços realizados na criação de objectos que questionem o plástico e que, segundo o texto que acompanha a exposição, implementem alternativas que reduzam a produção e consumo, e que encorajem na reutilização do plástico.

Carla Carbone

Foto de Peter Stackpole para o artigo “Throwaway Living”, The LIFE Picture Collection via Getty Images)