No essencial

Numa fase em que o design atravessa diversos caminhos, especialmente evidenciando-se mais numa vertente opositora, e desagregadora, dos princípios iniciáticos da sua nomeação, nomeadamente o dos “industrialismos” e da vertente racionalista, a obra de Pedro Sottomayor parece desenvolver-se alheia a esses propósitos, delineando-se segundo um caminho subtil, muito pessoal, trilhado com base numa acepção essencialista, e de cariz minimalista. Anunciando que o caminho de um certo racionalismo é possível, desde que dentro de um critério socialmente consciente, as formas dos seus objectos surgem, por isso, por meio de contornos bem definidos, e servem as funções para as quais foram previamente propostas. A tendência actual é para não contrariar as respirações intrínsecas dos materiais, a pulsão originária das suas formas puras, a ambivalência dos seus objectivos, a rasar o objecto artístico. Motivadas por uma ideia formalmente “ecológica” (nem sempre autêntica), barroca, que se distancia da resposta imediata, e serial, da indústria, bem como dos objectos do quotidiano. A obra de Sottomayor é claramente design com letra grande, não é arte, muito menos ambivalente.

Por outro lado, revemos, nas peças de Sottomayor, uma herança sólida proveniente, directamente, da história do design, bem como dos seus movimentos e linguagens.

cadeira Manuel de Pedro Sottomayor
cadeira maria e Manuel de Pedro Sottomayor

Podemos, por isso, observar, no trabalho de Sottomayor, uma prática que não descura essa sabedoria da história, respeitando a sua hierarquia, sendo que o evidencia no projecto das cadeiras de esplanada. As cadeiras Maria e Manel são mais um testemunho desse respeito pela tradição e pelo passado, sendo esse aspecto que o integra perfeitamente num nível de design contemporâneo, de assento historicista, e de tradição, oposto à acepção modernista que reprimia um olhar positivo, e enriquecedor, sobre o passado. As cadeiras Maria e Manel (2017), editadas pela Adico, são inspiradas num modelo clássico português, de cadeiras de esplanada, oriundas dos anos 30 e 50. Empilháveis, como a versão original, estas cadeiras redesenhadas por Sottomayor, são mais leves por serem produzidas em tubo redondo de alumínio, e posteriormente revestidas por uma pintura epoxy.

Na linguagem discreta das formas, presente, habitualmente, nos objectos desenhados por Sottomayor, observa-se uma atenção cuidada sobre as cores. Podemos observar essa atenção, das cores quase puras (como o verde, o azul, o amarelo e o vermelho), sobretudo em certas peças, como as cadeiras Ergos Big (2015), estas ultimas produzidas em molde por injecção, e em material leve, como o polipropileno.

cadeira Adágio de Pedro Sottomayor
cadeira Adágio na Casa da Música do Porto

O equipamento de Sottomayor tem sido integrado em zonas interiores de considerável importancia, especialmente, no caso das cadeiras de esplanada, que servem a área exterior da Pastelaria Brasileira e as cadeiras Adágio, editadas pela Nautilus, que termoformadas, revestem o interior da segunda sala de concertos, e foram desenhadas com vista a responder a aspectos específicos de acústica.

Texto de Carla Carbone, para a revista PARQ edição de Março de 2019