le freak c’ est chic
Texto por Bernardo Semblano @bernardosemblano
Durante esta semana, o Campo Pequeno tem sido o local acolhedor do circo de aberrações que só poderia vir da mente brilhante de Jean Paul Gaultier.
Hollywood pode estar a esgotar o género biopic porém, Jean Paul, e a sua trupe, contam a história de uma vida duma forma exuberante, refrescante e capaz de capturar o imaginário dos amantes de moda. Tal patamar só é atingido através do desfile das suas peças de vestuário, música, dança, ursinhos de peluche e várias outras surpresas.
Num espetáculo de aproximadamente duas horas, o público é o fator chave para a alta energia do espetáculo. Durante vários segmentos, este é convidado a responder aos performers e até, pode acontecer, de alguém mais próximo do palco ser convidado a desfilar uma das criações do estilista francês.
Aqui não se pretende separar a obra do artista. O Fashion Freak Show funciona como um livro infantil com grandes destaques e partes desdobráveis para o que o papel nos salte da página. É uma história viva e nunca aborrecida.
Com um reportório musical que inclui Blondie, David Bowie, Edith Piaf, Eurythmics, James Brown, Madonna, Prince e Queen será impossível para o público não bater o pé debaixo do assento ou, até mesmo, cantar.
A história que se divide em diferentes segmentos passa pelos pontos mais altos e mais baixos da carreira e vida de Gaultier. Em palco, podemos testemunhar uma infância marcada pelo amor pela sua avó; uma educação rígida e castradora; o trabalho para Pierre Cardin; o primeiro amor e mais tarde, a sua morte; o primeiro desfile, em 1976; a entrada para a cena londrina e, o primeiro desfile masculino.
Porém nem sempre o designer teve direito às suas rosas. O espetáculo aborda duma forma criativa a sua relação ténue com a crítica. Aqui carinhosamente chamada de fashion police. A produção não tem problemas em brincar tanto com a etiqueta de enfant terrible da moda francesa como, também, com a de um querido da crítica e do público, uns anos mais tarde.
A grande proibição do espetáculo é fotografar ou filmar o que está a ser visto em palco. Talvez assim, fique mais difícil para o público arruinar as surpresas nas suas respetivas redes sociais ou então, pode ser uma forma de manter a privacidade dos artistas que têm de se despir ou participar em cenas mais promíscuas e sexuais.
Para além desta chamada de atenção, para este tipo de produção mais explícita, é também conveniente que o público esteja a par tanto da língua inglesa, como da língua francesa. Sendo que as animações e artistas utilizam os dois idiomas para se comunicarem diretamente com o público. Sendo, naturalmente, a língua inglesa a mais necessária das duas.
Após um espetáculo com grande energia, Jean Paul Gaultier deixa uma mensagem para o seu público. Para além dos devidos agradecimentos pela presença de cada um, o designer preconiza que não existe apenas uma única forma de se ser belo até porque, cada um de nós já o é. E para nunca nos esquecermos que “le freak c’ est chic”.