O musical de Gaspar Noé

Nos anos 90, em França, uma companhia de dança contemporânea multicultural reúne-se para o ensaio geral de um espetáculo recente. Depois de várias horas dedicadas a esse mesmo ensaio e de uma pausa para relaxar, comer e beber um pouco, dão-se conta que o álcool que existe na mesma festa – sangria – está impregnado de LSD que alguém lá colocou de propósito. Assim, enquanto uns sobre o efeito do narcótico entregam-se à dança num transe frenético e hipnótico, outros são acometidos de visões e alucinações terríveis, que lhes toldam o espírito e os levam a ter atos hediondos.

Este filme, do cineasta argentino Gaspar Noé, é uma espécie de musical “Chicago” dos marginais e alternativos. Noé desperta em nós, espetadores, uma curiosidade mórbida, uma líbido acentuada e um cinema em transe permanente de longos planos e sequências trepidantes, com uma música constante e alucinada que ao ser misturada com as danças destes atores revela-nos um conjunto compacto de emoções fortes. São momentos eletrizantes cheios de paranóia e psicose, de afetação geral, que tomam por completo o filme, assaltam-no, com “socos” e “murros” que nos derrubam e nos fazem viajar entre o inferno e o céu a partir da mente daquelas personagens.