Texto por Lara Mather
A estreia da atriz Zoë Kravitz como realizadora tem dado muito que falar. O novo thriller “Blink Twice” estreou em Portugal a 22 de Agosto de 2024 e apresenta-nos a Frida e a Jess, amigas e colegas de casa, ambas empregadas de mesa num evento de angariação de fundos do milionário tecnológico Slater King. Neste evento, Slater convida-as a juntarem-se aos amigos na sua ilha privada em que todos os dias são dias de festa. Porém, rapidamente a realidade vem ao de cima e acontecimentos estranhos começam a levantar dúvidas a Frida que acaba por ter que lutar pela sua liberdade e retomar a posse da sua vida.
Zoë Kravitz diz que se inspirou no jardim de Éden, numa ideia de um lugar em que tudo parece perfeito, em que todos são livres e felizes até provarem do fruto proibido. As cobras auxiliam essa referência. A mensagem no filme é bastante clara, e o abuso de poder e violência sexual tornam-se os temas principais. Os acontecimentos dessa ilha refletem, segundo Zoë, o que se passa na sociedade de hoje em dia. Segundo a realizadora, as mulheres são forçadas a perdoar e esquecer. E sem querer dar “spoilers” é exatamente isso que fazem no filme.
O argumento foi escrito pela própria realizadora e por E.T. Feigenbaum. É um filme pesado pela sua temática e visualmente apelativo. Zoë, uma jovem atriz com uma carreira já extensa, tendo trabalhado com vários realizadores conceituados como Matt Reeves, George Miller, Steven Soderbergh, David Yates, entre outros, diz que foi através do seu trabalho como atriz que conseguiu perceber o que queria fazer em termos de realização ao ter observado durante anos quem a dirigia. O elenco é composto por estrelas e algumas caras novas, Channing Tatum, Naomi Ackie, Alia Shawkat, Christian Slater, Simon Rex, Adria Arjona, Haley Joel Osment, Liz Caribel, Levon Hawke, Trew Mullen, Geena Davis e Kyle MacLachlan.
Zoë nunca quis protagonizar no seu filme tendo escolhido Naomi Ackie, uma atriz britânica, para dar vida a sua personagem principal, Frida. Com uma performance irrepreensível, não poderia ter havido melhor escolha para este papel. Channing Tatum, pelos papéis anteriores, talvez não fosse a escolha óbvia para o papel de Slater King, o vilão deste thriller psicológico, mas é convincente.
A cinematografia altamente intencional, com uma certa simetria, cores vibrantes, detalhes importantes para a narrativa no seu todo como o isqueiro, a fruta no champanhe, o jogo de xadrez, as unhas. Todos os planos são filmados com tripé, nenhum plano é filmado com câmara à mão. O diretor de fotografia, Adam Newport-Berra é o incrível. Zoë Kravitz inspirou-se em filmes como “The Shining”, “Boogie Nights”, “Pulp Fiction” e “Rosemary ‘s baby”.
“Blink Twice” foi filmado no México e tanto o elenco como a equipa ficaram hospedados no hotel em que decorre a história. O design de som acrescenta também ao suspense e ao terror e a montagem é interessante. Há momentos temos apenas flashes rápidos de certos acontecimentos. Como o próprio nome do filme indica “Blink Twice”, há cortes no filme que parece que pestanejamos rapidamente.
O filme não é para os mais sensíveis, é um thriller psicológico mas também um filme de terror que contém violência sexual com cenas perturbadoras e também cenas gráficas de mortes. No entanto, acaba por ser também um filme de empoderamento feminino. Zoë Kravitz consegue com a sua primeira longa-metragem surpreender o público com um filme muito bem executado deixando-nos a desejar por mais.
Texto de Lara Mather