Texto de Rafael Moreira
Ana + Betânia estiveram recentemente com Wild Fire na Capsule da Underdogs, que foi o mote para lançarmos um par de perguntas.
De que forma é que pretendem e assumem a exploração da «tríade dinâmica natureza – ser humano – máquina» na vossa investigação e corpo de trabalho?
Na origem de WILD FIRE está a constatação de que a evolução da nossa espécie tem sido essencialmente tecnológica e que isso nos afastou do contacto com tudo aquilo que não é construção nossa. Mais do que isso, essa expansão é, e continuará a ser, a génese dos desequilíbrios ambientais e humanos a que temos assistido, mais concretamente nos últimos meses. Por isso é importante para nós implicar o público, comunicando de forma directa estas ideias através do recurso a metáforas visuais como um instrumento de guerra – uma arma de fogo, a máquina manuseada pelo ser humano – a desintegrar-se numa torrente de vegetação luxuriante – a natureza. O realismo conseguido pelas técnicas envolvidas no processo foi crucial para transmitir esta ideia de degradação do metal que constitui a máquina e, do outro lado, a beleza inerente aos delicados processos regenerativos da natureza.
Uma das vertentes mais interessantes na cerâmica, pelo meu olhar, é a presença do erro como elemento fundamental na exploração artística. Erro no sentido de efeitos inesperados numa das diversas fases que constituem o processo artístico de um ceramista. Concordam com isto? De que forma é que o erro/o inesperado contribui para a vossa exploração?
O encontro com o erro e o acidente, a paciência, a resiliência e tolerância à frustração fazem parte do processo não só técnico mas também psicológico – e quem sabe, espiritual – de qualquer ceramista. Infelizmente, é raro acontecerem-nos «erros felizes». Como tal, e apesar de termos uma forma de trabalhar bastante metódica, o nosso crescimento artístico exige esta capacidade de incorporar os falhanços de forma pedagógica e/ ou literal no corpo de trabalho que desenvolvemos. Um acidente recente aconteceu com a explosão durante a cozedura de uma das peças mais importantes que iriam integrar esta exposição. Depois do choque, percebemos que este acontecimento se relacionava com o tema que estávamos a trabalhar e resolvemos explorá-lo de forma a que todos os destroços provenientes dessa e de outras peças conferissem um carácter mais instalativo e interativo à exposição.
Este texto estás em complemento ao publicado por Rafael Vieira na revista Parq #68 Dez 2020 PARQ_68 by Parq Magazine – issuu