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Para todos aqueles que seguiram a emergência do movimento da Street Art em Portugal, Aka Corleone é um dos nomes mais proeminentes a ocupar grandes morais em Portugal, sempre com um estilo gráfico e colorido muito próprio que o tornam facilmente reconhecível. Contudo, o seu projeto artístico tem sido marcado por desafios que o levam a passar a diferentes médias que obrigatoriamente o desafiam e transformam a própria imagem que se tem do seu trabalho. Depois de termos assistido a uma exposição na Underdogs Gallery em Lisboa, com peças criadas a partir da sobreposição de vinis onde explorou os recostes das forma em sobreposição criando diversos tipos de transparências, apresenta agora no Hotel Tivoli Avenida, pela primeira vez, as suas experiências em cerâmica e azulejaria portuguesa.
Esta é a segunda exposição que marca o 90º aniversário da Tivoli Hotels & Resorts e a Illusion of Clay dá-nos a ver na mesa central do lounge do hotel, uma instalação composta por objetos resultantes da sua incursão no universo do azulejo e da cerâmica tradicional portuguesa. Onde costumávamos ver arranjos de flores o artista integra ainda elementos visuais e escritos que documentam todo o processo criativo até chegar ali, onde também se cruzam elementos de arquivo inerentes a historia do Hotel Tivoli, Essa relação mais intima como o espaço estabelece-se numa estadia de uma semana que funcionou como uma residência artística e é interessante que par além muitos documentos que pertencem a historia do Tivoli em Lisboa, juntaram-se uma serie de pequenos plintos com faces espelhadas que para além de serem suportes para as peças de cerâmica, conseguem trazer para o centro da mesa, todo o ambiente do loungde do hotel, a partir dos seus reflexos. São imagens que nos chegam fragmentadas conforme ponto de vista de quem olha. O processo de criação, as vivencias do artista e do hotel são convocados e misturadas numa preocupação de integrar tanto um passado com o presente que cada espetador vive no momento.
Os azulejos que nos apresenta, foram criados pela primeira vez para uma exposição na Kolly Gallery em Genebra, cidade com a qual o artista tem profundas relações afetivas dado que residiu por longas temporadas nessa cidade Suíça com a família. Nesse sentido trás para um azulejo produzido em Portugal a imagem das montanhas, um elemento que identitário de Genebra e que o Suíça tem em geral como o seu cartão postal identitário. A passagem para um media com o qual não tinha grande familiaridade apresentou-lhe diversos desafios e levou-o a explorar uma expressividade diversa que o aproximou muito mais a uma certa abstrativização da pintura que contrasta em muito com o que estávamos habituados a ver nos morais onde o desenho é preciso, delineando, com campos de cores definidos que contrastados criam um efeito gráfico forte. No azulejo esses princípios são difíceis de seguir e se a paleta pode estar lá ela, está muito mais diluída em transparências, efeitos que são difíceis de controlar.
Aka Corleone tem no azulejo duas perspetivas de criação , Por um lado, propõem pequenos painéis onde pré-define uma composição onde entram vários campos figurativos que se interligam, tal como acontece nos seus morais, ou então, trabalho na produção de azulejos individuais com padrões mais ou menos repetidos e só mais tarde procura juntar peças de um puzzle que se mostra muito livre. Pode apresentar peças individuais, como em composições que podem formar uma painel ou cubos, tal como se pode ver nesta apresentação no Hotel Tivoli Avenida.
Já referente as cerâmicas, estas primeiras peças apresentadas como uma estreia absoluta, resultam de uma residência artística do artista numa olaria em Viana do Alentejo sob os ensinamentos dos mestre Feliciano Agostinho na sua olaria. Apesar de alguma semelhança nos processos de criar o azulejo, na verdade as técnicas artesanais são muito diferentes o que levou o artista, mais uma vez mergulhar num procedimento experimental e disruptivo. Partindo de uma leitura da tradição portuguesa as cerâmicas ganham a partir do desenho e formas de pintar uma expressão contemporânea que vai beber também a linguagem formal dos projetos de street art que Aka Korleone nos habituou: perfis de cabeças corpos, mãos, pássaros, elementos arquitetónicos e vegetais , tudo num desenho de influencia cubista
A par da composição que criou sobre a mesa do lounge do hotel, existem ainda fixos em suportes verticais alguns painéis de azulejos de pequenas dimensões e alguns papeis em aguarela de projetos preparatórios. Por estarem agrupadas por núcleo, estar obras, que pedem um olhar mais intimo, ainda assim, pela intensidade da cor e brilho do vidrado, sobrevivem a grandeza do espaço central do hotel. É até curioso esse jogo de escalas, porque curiosamente foi pelo oposto, ou seja, a partir da grande dimensão dos seus morais que Aka Corleone ganhou um estatuto no meio da arte contemporânea.
ILLUSIONS OF CLAY, de AKACORLEONE
Lobby do Tivoli Avenida Liberdade
Até 12 de janeiro 2024
1 Vista da exposição no Lounge do Hotel Tivoli Avenida
2 Aka Korleone
4 Painéis em Azulejo
5 Obras em cerâmica tradicional