Segunda noite do Nos Alive
Texto de Hugo Pinto
Começou com guitarras distorcidas o segundo dia do Nos Alive. No palco principal os Linda Martini faziam a delícia dos fãs num concerto sóbrio e ainda assim, animado.
Depois deles, os Idles continuaram na mesma senda de rock barulhento. O vocalista Joe Talbot abusa duma atitude dirty, muito comum no rock britânico diga-se. A julgar pelo número de t-shirts dos Idles que vi ao longo da noite, suponho que muitos terão vindo só para os ver e suponho também que não terão ficado desiludidos.
Nos palcos mais pequenos os portugueses Xtinto e Sleepytheprince bem que se esforçaram para cativar o público mas a coisa não se apresentava fácil. O agrupamento de mascarados de SleepyPrince atuou demasiado cedo e não beneficiou de bom som. Já o rapper Xtinto trazia banda e uma legião de amigos que na assistência se encarregou de animar a malta. Foi engraçado de ver mas… Aquele vocoder, mesmo a espaços, mata-me.
De volta ao palco principal, os já batidos no Nos Alive, os Arctic Monkeys, mostram que o rock pós-strokes continua a dar frutos. Alex Turner mantém uma pose que remete para um Brian Ferry da fase Roxy Music. Muito rock star, muito fato e camisa, despenteado e quase blasé. Deram um bom concerto, mas são os primeiros singles que continuam a fazer as delícias de quem assiste. E sim, eles ainda parecem bem na pista de dança.
Antes da banda de Sheffield atuou Lizzo e depois Lil Nas X, na minha opinião os grandes vencedores da noite e uma aposta ganha da programação do festival. Ambos têm um público fiel que não só sabe as letras como a coreografia. E se há gente animada e histérica, que imprime um ambiente de party a um concerto, são estes adolescentes.
Lizzo é a gordinha de atitude sexy que joga num trap sensual, coisa de emojis e corações cor de rosa. Muita encenação, muita pluma e lycra, muita cena genderfluid, proudly-fat. É um produto da indústria que atinge o target a que se dispõe com sucesso.
Lil Nas X joga no mesmo tabuleiro mas tem mais meios, mais bailarinas e jogos cénicos.
Apresenta-se como uma diva e faz um hip-hop neo-soul do século XXI. Em ambos os espetáculos vejo-me rodeado por jovens imberbes que sabem os trejeitos e os copiam orgulhosamente, ao fundo uns quantos grupos de gays ingleses dançam e divertem-se sem preconceitos. Aqui não se discute a qualidade da música, mas sim a atitude. É jovem e saudável. A produção é impecável, os detalhes da coreografia são irrepreensíveis. Nada disto é a minha praia mas… é com um enorme sorriso que assisto a tanta boa disposição.
Nota ainda para um Jorge Palma que beneficiou duma tenda cheia de portugueses que queriam cantar os seus temas. Meio ao piano em versões blues, meio em quinteto de rock’n’roll, Palma cumpriu com distinção.
Por fim, o duo americano Sylvan Esso, para o qual eu trazia altas expectativas, deu um bom concerto de pop eletrónica e beneficiou dos muito na moda kits modulares e de toda a parafernália de sons que estes oferecem.
A noite foi de dança descontraída e suor em bica.