As obsessões compositivas do fotógrafo

Texto por Rafael Vieira

Dillon Marsh é um artista sul-africano que explora, como diz, a ténue relação entre o ser humano e o seu entorno. Concretiza esta visão ao procurar incessantemente elementos de interesse para fotografar, o que o torna extremamente consciente do seu contexto. Quando encontra algo com potencial de transportar para uma série fotográfica, torna-se uma questão de o capturar e filtrar, o que faz «direccionando cuidadosamente a composição das imagens e eliminando distracções».

«Às vezes», descreve Dillon, «o tema que quero retratar não é físico, é conceptual, como no caso da série sobre a produção da indústria de mineração da África do Sul (For What Its Worth), ou da redução dos glaciares (Counting the Costs). Nestas séries, descreve, «incorporei imagens geradas por computador nas fotos para mostrar a dinâmica subjacente que não pode ser mostrada apenas com a fotografia. O meu objectivo, ao fazê-lo, é apresentar novas maneiras em que nós, como espécie, causamos impacto no planeta».

Dillon trabalha a paisagem com elementos externos de forma a contrastar deliberadamente questões ambientais. O seu trabalho inicial consistia em tipologias, séries em que investigava vários aspectos da relação das pessoas com o meio ambiente, fossem torres de telemóveis disfarçadas de árvores ou postes telefónicos tomados por ninhos gigantes. Procurava algo fora do comum. Ao mostrá-los como uma tipologia, ou seja, em algo que proporciona uma repetição de elementos semelhantes em composições formais, Dillon sentia que podia mostrar diversas variações «dessas anomalias». «O observador pode vê-las como uma colecção e, ao mesmo tempo, descobrir as diferenças que ocorrem entre as imagens individuais», diz.

A abordagem de Dillon é semelhante à de um coleccionador, um processo de recolha e selecção de imagens em que encontra «muita satisfação». O seu interesse e foco é bastante variado e, garante, necessita de mudar o processo de projecto para projecto para preservar o seu impulso criativo. «Por isso», conclui, «fiz de tudo, desde fotografia aérea até macrofotografia. Cada série pode ser vista como uma colecção independente, mas, ao mesmo tempo, estão todas interligadas pelo meu interesse na forma como interagimos com o planeta em que vivemos».

texto Rafael Vieira para PARQ_77.pdf (parqmag.com)