Robots imitate life as life imitates art.


Texto: Afonso Teixeira da Silva e Beatriz Nascimento*


Desde sempre, a tecnologia tem vindo a causar profundas transformações na noção estética da
sociedade. Estas transformações devem-se ao facto de a tecnologia se ter tornado determinante na
vida contemporânea.


É possível estabelecer uma forte correlação entre os avanços tecnológicos e científicos e a forma
como a arte é percecionada desde os finais dos anos 60. Esta perceção ficou como herança da ode
modernista das máquinas, sendo transversal nas artes. Isto é particularmente percetível na
arquitetura, com o desenvolvimento de casas inteligentes e a uniformização do traço, e no cinema,
nos filmes de ficção científica, com a utilização de CGI.


Assim como a tecnologia influencia a arte, o oposto também sucede, no sentido da funcionalidade e
inovação. Existe, também, uma clara relação simbiótica entre a arte e tecnologia na definição de uma
estética que se reflete no gosto comum.


Do lado da robótica, na escolha de materiais e formas, a estética é relevante porque para muitos
usuários, a interação com a tecnologia tem que envolver um apelo visual (“The Internet And The Arts:
How New Technology Affects Old Aesthetics” n.d.).


Robots inspirados na Natureza estão a tornar-se populares por duas razões: primeiro, animais e
humanos estão totalmente adaptados ao seu meio envolvente; segundo, os robots tradicionais, que
usam rodas para se deslocar, têm os seus movimentos limitados a trajetórias planas. Os soft robots
são feitos de materiais flexíveis que recriam propriedades da pele. Estes robots têm um movimento
fluido e interagem delicadamente com o espaço. Para além da harmonia estética, os soft robots são o
mais próximo que a robótica consegue chegar na imitação da Natureza. Esta tecnologia pode ser
utilizada na indústria, em grippers alimentares, ou na medicina, especialmente em próteses.


Esta vertente da robótica, ao priorizar a fluidez das formas e um design personalizado, torna-se mais
visualmente atrativa aos olhos do observador. Afasta-se da pré conceção dos robots rígidos e
metálicos, do imaginário distópico do homem versus máquina, e aproxima-se de uma estética coesa.
Estes robots existem em sintonia com o espaço circundante, imitam a vida assim como a vida imita a
arte.

*texto de Afonso Teixeira da Silva e Beatriz Nascimento para em colaboração com o Laboratório de Robótica Colaborativa da Universidade de Coimbra (CORLUC). Todas as fotos são cortesia do CORLUC e dos autores