Texto de Rafael de Sousa Vicente e fotografia de Ptter Venturin
Duarte Brand venceu a junho deste ano o Icon Award 2021, atribuído pela C.L.A.S.S., um prémio que destaca designers criativos que, em particular, promovem os valores de sustentabilidade. Ana Duarte, fundadora e diretora criativa da marca de streetwear, é a imagem desta nova sustentabilidade, sempre responsável e transparente, mas mais dinâmica e criativa.
A designer apresenta-nos coleções aventureiras – tanto no conceito como na criação -, fundido na passerelle matérias como linho e tecidos técnicos waterproof, e levando-nos a destinos como o Evereste, Mavericks ou um deserto como Atacama. Uma demonstração de que a aventura pode ser responsável, acontece por exemplo quando a viagem se cruza com a Grande Barreira de Coral na sua coleção AW21 REEF. A Duarte deixa-nos mergulhar e desfrutar a coleção, mas relembra-nos a preservar esta natureza.
Revela-se criativa nas soluções para combater os problemas ambientais criados pelo homem, quando envia o seu cão neste combate, o Tadao, Guardião do Mundo, na sua mais recente coleção a SS22 World Keeper.
Duarte Brand está a redefinir a linguagem de streewear, e a surpreender-nos. Atribui-lhe uma identidade distinta e reconhecível, de cores e padrões vivos, frescos e espontâneos, mas consistentes. Criações que desvendam histórias no seu pano e corte, lendo-se na primeira frase, com entusiasmo e certeza: “É Duarte.”
Recebeste o Icon Award 2021 pela C.L.A.S.S. Como te sentes com esta atribuição que, é também um reconhecimento do trabalho que tens vindo a desenvolver no âmbito da sustentabilidade da marca?
Sinto-me honrada por ser selecionada e reconhecida entre todas as marcas emergentes e sustentáveis que se candidataram. É uma oportunidade para dar o próximo passo, sempre com atenção ao que podemos melhorar em termos de sustentabilidade.
Uma das notas por parte da C.L.A.S.S menciona que “(… mostras uma nova forma de ser cool, no entanto responsável.” Acreditas que para além do papel criativo, podes destacar-te pelo crescente ativismo e promoção dos valores sustentáveis?
Penso que sim e sinceramente acho que esse é o caminho que devemos seguir. Podemos criar tendo sempre em conta o mundo em que vivemos, e fazê-lo tentando não prejudicar o planeta.
Este prémio trouxe-te a possibilidade de durante um ano trabalhares com diferentes parceiros, no desenvolvimento da tua coleção de primavera-verão 2022. Fala-nos sobre esta coleção – desde o conceito à escolha e contacto com novas matérias primas -, e transporta-nos para os bastidores do que estás a viver durante este processo.
É ótimo poder trabalhar com novas equipas e perspetivas, especialmente quando estamos todos a trabalhar com o mesmo objetivo: criar roupa com qualidade e design, que não prejudique o planeta. A C.L.A.S.S. acompanhou-nos no desenvolvimento da coleção e 50% dos materiais são fornecidos por eles (era uma das regalias do prémio). Assim sendo temos vários tipos de materiais mais sustentáveis, desde algodões orgânicos, a tecidos feitos a partir de garrafas PET e até forros de casacos biodegradáveis.
Penso que a Duarte é conhecida pelo storytelling de cada coleção. A coleção SS22 World Keeper, que apresentamos na ModaLisboa dia 9 de Outubro, é inspirada no meu cão, o Tadao. Nesta história, ele é o Guardião do Mundo e combate os problemas ambientais criados pelo Homem, enquanto tenta manter o mundo seguro, uma pata de cada vez. O nosso protetor da sustentabilidade vai lutar contra o Homem Smog (poluição do ar), o Homem Fogo (alterações climáticas), o Homem Desflorestação (destruição das florestas) e o Homem Onda (excesso de consumo de água). Uma coleção inspirada em comic books com uma energia urbana e cool, e muitas peças unissexo.
As tuas criações são marcadas por escolhas e combinações flexíveis de matérias. Qual a linha de pensamento e processo de pesquisa e criação, que te leva a selecionar tais matérias e a relacioná-las entre si no produto final?
Cada designer tem um processo diferente. No meu caso, começo por pensar a nível de cores e tipos de materiais que gostava de utilizar na coleção. Quando temos a seleção final, experimentamos a conjugação entre eles e acaba por ser um processo bastante orgânico. Testamos a conjugação dos vários materiais e o equilíbrio a nível da cor e quando chegamos a uma conclusão avançamos. Muitas das vezes na peça final os materiais reagem de uma forma diferente e ainda mais interessante e é sempre uma descoberta.
A tua moda é também caracterizada por padrões particulares e já particularmente reconhecíveis. Sendo também ilustradora, com 5 livros publicados, a ilustração em si é linguagem criativa muito específica. Transportas a ilustração para a tua moda, na forma como exploras e crias os padrões?
Antes de mais, obrigada 😉 Como ilustradora, desenhar e conjugar as cores acaba por surgir de uma forma natural. Quando fiz o primeiro estampado, fi-lo por necessidade, porque não encontrava nenhum material que transmitisse o que queria comunicar. Cada coleção tem um conceito, por isso cada padrão é criado para comunicar a história que quero contar. Por exemplo, na coleção AW21 Reef, tínhamos um padrão com corais em tons vivos e outro em tons esbranquiçados: o primeiro refletia um ecossistema saudável, enquanto que o segundo pretendia alertar para o facto de haver um maior branqueamento de corais, ou seja, para a destruição dos mesmos. Na coleção SS21 Maui tínhamos dois estampados inspirados nos eucaliptos arco-íris desta ilha Havaiana. Um era em tons claros, que remetia para as praias de água cristalina, e outro em tons vivos que representava as florestas vibrantes.
Praticaste Judo durante muitos anos. Transportas este desporto para as tuas criações na relação de forma e movimento?
Sim, sempre. O movimento do corpo e o conforto e ergonomia das peças sempre foram cruciais para mim. Por isso quando desenho tento criar algo confortável, com design. Cresci a fazer competição de judo e o desporto acaba por ser uma grande fonte de inspiração em tudo o que faço.
Estudaste design de moda em Portugal, e completaste o mestrado em Menswear Design and Technology em Londres. Que contrastes sentiste entre uma educação e a outra, a nível de metodologias, visões estratégicas e criativas?
Em Portugal o meu curso foi bom para aprender as bases. Design de Moda é, por si só, um conceito bastante abrangente, então o curso acabava por abordar alguns temas, sempre com foco no conceito e criação de peças de design. Na London College of Fashion, o conceito de cada peça tinha de estar sempre bem fundamentado a nível criativo, mas tínhamos de ser práticos na execução do mesmo. Incentivaram-nos a criar a nossa rede de contactos e a pensar a nível comercial. As peças teriam de ficar prontas para vender numa loja, e não as deveríamos considerar protótipos. O facto de ter de procurar novas parcerias e pensar a nível comercial, ajudou-me a estruturar a marca mais tarde.
O que te levou a aprofundar o estudo na criação em menswear?
Na licenciatura só aprendemos a fazer roupa de mulher. Quando cheguei ao meu 3º ano sentia-me de certa forma presa a uma estética que não relacionava comigo. Sempre fui mais desportiva na roupa que usava e sempre gostei mais de roupa de homem, então decidi arriscar e comecei a desenhar roupa de homem também. Foi assim que percebi que era o que mais gostava e que queria explorar mais.
A tua marca está a ser abraçada por diferentes personalidades portuguesas, desde a televisão à musica, por exemplo. Esta estratégia está a resultar numa maior aproximação e reconhecimento por parte do consumidor em relação à Duarte?
Sim, é sempre bom ver que as pessoas se relacionam com a nossa marca. As celebridades, músicos, etc, acabam por ser um ponto de contacto direto com o público e conseguimos chegar a uma audiência diferente e mais abrangente.
Quais os próximos passos para a Duarte Brand?
Gostava de internacionalizar e arranjar lojas fora de Portugal. Esse é o objetivo principal para o qual estamos a trabalhar, sempre com a sustentabilidade em mente, tanto a nível económico, como ambiental e social.
Photographer Ptter Venturin @ptter.v
Stylist Mauro Osório @_mauroosorio e Teresa Silva @tmfsilva
Make Up Artist Tiffany Pinho @makeuptiffanys
Hair Stylist Mauro Osório @_mauroosorio e Tiffany Pinho @makeuptiffanys
Retoucher Ptter Venturin @ptter.v
Modelo Sasha Kholkina @elite_lisbon
Texto e fotos produzidas para PARQ_71.pdf (parqmag.com)