Crónica por Patrícia César Vicente
Acho que toda a gente tem uma ideia do amor. Qual ideia ao certo? Uma ideia que encaixe nas diferentes fases da vida de cada um. Há séculos e séculos que escritores, aspirantes a escritores e simples mortais que desabafam com o papel fazem descrições do amor. Fruto de experiências ou falta delas. Aprofundam os sintomas e causas do amor ao sentirem e por observarem padrões de comportamento quando o assunto é Love. E aqui sim, refiro-me ao amor romântico, ao amor que as músicas pop dizem que “somos um só e não precisamos de mais ninguém para sermos felizes” e depois vai daí que percebemos que é só mesmo a música que foi escrita por alguém nos seus primeiros dois meses de namoro, de caso, lance ou algo do género. Podem escolher um nome mas estão a ver ao que me refiro, não estão? Nem sequer sabemos quanto tempo é a dita fase inicial. Para muitos é o primeiro ano, outras vezes não chega a uma semana. Sim, eu sei. Mas há pessoas que não permanecem muito tempo na nossa vida. Aprendemos o que temos a aprender e seguimos em frente.
De forma inconsciente confundimos o amor eterno com uma paixão efémera, confundimos um amo-te com um “por enquanto estamos bem”, confundimos um para sempre com um até daqui a um mês. E mesmo com séculos e séculos de histórias de amor testemunhadas e escritas em livros continuamos sem saber ao certo como é que vai ser quando é a nossa vez. Podemos pedir opiniões, lançar cartas, fazer psicanálise, estudos sociais que nunca sabemos como é que vai ser nem quanto tempo vai durar. Porque às vezes tem tudo para dar certo e depois não dá, e também há caso que tem tudo para dar errado e até corre bem. As opiniões que formamos acerca do amor vão mudando de acordo com as pessoas que deixamos entrar ou saír da nossa vida. Mudam de acordo com os diferentes momentos da nossa vida, o que procuramos no outro muda à medida que nos vamos conhecendo melhor e percebemos o que realmente admiramos e queremos por perto. E depois temos as cedências, até onde devemos ceder ou não.
Nas relações há que ter flexibilidade e não é só na cama. Mas até onde é que devemos ser flexíveis e estabelecer barreiras. E é aqui neste ponto que cada um tem as suas. Assim como a sua flexibilidade também o nosso coração se pode tornar limitado quando o assunto é aceitar algo que já não o faz feliz. Basicamente andamos a fazer o jogo das cadeiras, aquele em que estamos todos a correr à volta das cadeiras e quando a música pára temos de nos sentar. Só que não há cadeiras para todos. Uns têm a sorte de estar no lugar certo e sentam-se, outros sentam-se ao colo de alguém, outros empurram quem for preciso para se sentar e depois há os doidos que preferem continuar a correr à volta das cadeiras mesmo quando a música pára só para não terem de ir à luta por um lugar para se sentarem.
Eu entendo. Por vezes estas coisas do amor podem ser piores do que a selva e se o nosso animal spirit for uma preguiça…fica difícil. Nestas coisas do amor dizem que quando um não quer dois não dançam. Acho que sim, que é verdade. Mas reparem na quantidade de casais que querem dançar os dois, no entanto, uma pessoa está a dançar um lindo tango enquanto que a outra pessoa está a dançar freneticamente a Macarena. Pode ser uma combinação gira, mas geralmente há um que desiste que o outro dance no seu ritmo. O amor é um caminho de duplo sentido, sentido inverso, sentido proibido, sentido obrigatório e outras vezes parece que não tem sentido nenhum. Contudo, o amor continua a ser um motor, tem uma força que até os mais resistentes temem, tem um poder que ninguém consegue definir e acima de tudo, continua a ser um dos maiores privilégios da humanidade. E se este amor não for para sempre? Nós também não fomos feitos para vivermos para sempre e desejamos viver.
Crónica por Patrícia César Vicente na edição #70 PARQ Junho de 2022