Texto Francisco Vaz Fernandes

Alexandre Farto, aka Vhils, apresenta no Maat, uma proposta de instalação que recorre exclusivamente ao vídeo, uma linguagem que o artista português tem vindo a explorar mais recentemente.

Ocupando a sala oval, a sala mais nobre do Maat, que obriga a trabalhos em grande escala, Prisma é pois um projeto monumental composta por estruturas semi- círculares. Cada uma, no seu interior funciona como ecrã panorâmico côncavo que recebe imagens em projeção vídeo. Já o reverso é coberto por uma matéria metálica que reflete os ecos da luminosidade e das cores dessa imagens num estado de contaminação. A questão da montagem dos vídeos assim como a arquitetura da composição dos ecrãs, sobrepostos e a funcionar a diferentes escalas, leva o espetador a uma experiência verdadeiramente imersiva. É uma construção que manipula e distorce efeitos de espaço, escala e luz. A ideia de circulo proposto pelos suportes torna-se um dos princípios mais evidentes nesta exposição.

Comecemos pela ideia de circular pelo mundo e temos fragmentos de 9 metrópoles: Cidade do México, Cincinnati, Hong Kong, Lisboa, Los Angeles, Macau, Paris, Pequim e Xangai. Temos imagens que são captadas de uma câmara a circular a partir de um ponto fixo. Temos a ideia de uma câmara cega que vai captando a vida que acontece em seu redor num movimento circular, tal e qual uma câmara de vigilância. Tudo parece em circulo em nosso torno quando percorremos o espaço expositivo e esse movimento cria no espetador uma efeito hipnótico e uma dimensão de sonho. Apesar de uma base tão real, o elemento realista de vigilância dissipa-se no processo final da projeção porque nos confrontamos com uma imagem com um certo efeito retardador que faz com que tudo ganhe um efeito esvaído. Os sons são os locais, mas igualmente desvanecidos.

Desenvolvida num contexto global, anterior à crise pandémica, Prisma é um projeto de instalação que nos envolve em ambientes banais em que a individualidade de cada cidade, assim como a identidade dos seus habitantes, se perde. Essa experiência de anonimato e de errância repete uma sensação descrita por Baudelaire no sec XIX quando se refere ao impacto que o crescimento das grandes cidades tinham sobre o individuo, um ser cada vez mais desenraízado. Esta questão acaba por ser a condição do artista contemporâneo de sucesso. Ou seja, refere-se a própria condição de Vhils que capta as suas imagens em contextos de viagens de trabalho que resultam no essencial de uma paisagem com a qual não pode ter grande relação empática. Nesse sentido, Prisma devolve ao espetador um espetro dessas experiências agora mais fragmentadas e descontextualizadas. Estas imagens não oferecem surpresa, apenas a certificação de uma condição cada vez mais humana. Tudo parece tão familiar, tudo parece tão distante, especialmente numa época em que o conhecimento e o contacto com as diferentes realidades se completam na maior parte das vezes através de um ecrã.

Texto de Francisco Vaz Fernandes para PARQ_74.pdf (parqmag.com)

MAAT

Av de Brasília, (Belém), Lisboa

telf 21 002 8130

até 5 de Setembro