O hangar do Transpraia, na Costa da Caparica, acolhe uma mostra individual do artista Kampus em parceria com a plataforma cultural Underdogs. “By The Sea” que poderá ser vista de 18 a 20 de outubro, será a primeira exposição a decorrer no Transpraia, já que a intenção de Greg Bernard, o novo proprietário do icónico comboio turístico da Costa da Caparica, pretende que este local se transforme num novo pólo cultural da região.

Neste projeto inaugural o artista luso-brasileiro, Kampus procurou trazer as memórias que este comboio gerou ao longo dos muitos anos de funcionamento, de 1960 a 2019, quando unia as várias praias da Caparica ao longo de 9 km de linha. Kampus produziu 25 peças para esta exposição, num percurso que revive as viagens do Transpraia,

Neste trabalho temos um prolongamento das férias, com tudo o que têm de leve, simples e efémero, sem delapidar o que as paisagens de verão têm de mais absurdo: vemos personagens alienadas, adivinhamos formas exageradas e paisagens inquietantes. A imperfeição é intencional, descendente dos nossos rabiscos de infância. E entre as obras suspensas, navegamos num cenário onde quase poderíamos jogar às escondidas.

Há sempre um sentido de brincadeira na obra de Kampus, muitas vezes como invólucro para um pensamento mais profundo. A sua personagem em forma de salsicha, supostamente alegre e dispersa por Lisboa inteira, é prova disso mesmo: representa a alimentação forçada, as normas e expectativas que aceitamos acriticamente.

Se em 2023 na Underdog Gallery, Kampus nos convidou a redescobrir as estruturas que nos auxiliam no dia-a-dia, mas que muitas vezes ignoramos, neste projeto na Costa da Caparica, medita sobre a beleza dos momentos simples e do acaso. Uma “not so silly season” para ponderar, com um sorriso.

Para o atual proprietário do Transpraia, Greg Bernard, “salvar este comboio representa mais do que um projeto de transportes e de regeneração urbana. É uma homenagem ao património cultural, histórico e estético da Caparica. Está a ser criada uma associação de apoio ao Transpraia, para que as pessoas se possam juntar ao movimento (www.transpraia.org)”.

O empresário francês prossegue: “Quis apoiar as comunidades locais, dando poder aos artistas e criadores locais. O maior recurso natural da Caparica não é a praia: é a criatividade das pessoas. Foi por isso que me mantive próximo da Nova FCT e da sua incubadora. Acredito no empreendedorismo. Foi a Pauline Foessel da Underdogs que me apresentou o KAMPUS, uma verdadeira mais-valia da Caparica. Fiquei feliz por outros artistas locais terem vindo visitar e apoiar a iniciativa, como Bordalo, Vhils ou Malibu Ninjas. O Transpraia pode ser um forte pólo cultural e tornar-se um centro de exposições na margem sul do Tejo”. É esta intenção inaugural que vai ser celebrada aqui.

Sobre o artista KAMPUS:

Foi durante a adolescência, na escola, que Kampus começou a escrever nas paredes, marcando o início da sua jornada artística. Conhecido pela sua personagem “Sausage”, espalhada pelas ruas de Lisboa e além, Kampus redefiniu a arte de mascarar a crítica social com humor e leveza. À primeira vista, estas salsichas parecem criaturas inofensivas, acessíveis e aparentemente alegres, mas personificam o processo de imposição social, alimentando-nos à força com ideias e expectativas absurdas. Enlatados numa padronização apertada, lutamos para nos encaixar num conjunto de normas e expectativas que, em vez de serem questionadas, são simplesmente assimiladas.

Datas da exposição: 18, 19 e 20 de outubro

Horário: 10h às 18h