Luke Gilford
texto por Francisco Vaz Fernandes
Os Cowboys, são um dos grandes símbolos da América, mas a visão que os norte americanos têm dessa comunidade, não passa de uma imagem idealizada. O cinema de hollywood encarregou-se durante décadas de consolidar esse mito fundador, levando-nos a percorrer com eles, vastas pradarias indo ao encontro de liberdades e oportunidades que um país em construção oferecia. A América profunda era a materialização da terra prometida que se conquistava por mérito nem que fosse à lei da bala. Consolidada a imagem do cowboy criada pelo cinema depressa a publicidade regenerou-a para vincar esses valores americanos fundados no puritanismo.
Contudo nos últimos anos muitos artistas tem explorado essa dicotomia entre o cowboy idealizado e os cowboys reais que persistem em comunidades cada vez isolados e dissociados da verdadeira América do poder. O álbum fotográfico de Luke Gilford que acaba de sair é disso exemplo. Nas 170 páginas de National Anthem encontramos esse fosso entre a fantasia e a realidade, porque estilhaça toda a construção que se fez do cowboy. Tudo começa em 2016 quando conhece a comunidade cowboy, LGBTQ, que desfilava no pride de São Francisco. Eram membros do The International Gay Rodeo Association (IGRA) e distinguiam-se pelo seu aspeto rural o que remeteu Gilford para as suas próprias origens tornando-se assim um elemento próximo dessa comunidade.. Durante três anos seguiu as atividades da IGRA e conheceu de perto uma sub-cultura pouco visível, que se reencontrava especialmente em torno da organização de um rodeo dirigido à comunidade gay mas que era aberta a todos. É um evento festivo que acontece pontualmente ao longo do ano no país profundo e que constitui no essencial um espaço de liberdade e de conquista, o que valida o mito fundador da América e torna estes participantes do rodeo, os verdadeiros cowboys americanos.
Nas entrevistas que tem dado a diferentes meios de comunicação, Luke Gilford refere que inicialmente procurou retratar essa comunidade de cowboys e cowgirls pertencentes a associação tendo posteriormente alargado o seu interesse por todos daqueles que frequentam o rodeo que organizam. Mas apesar desse contexto, não quis que as suas imagens sublinhassem a bravura e a valentia que ali é celebrada e aplaudida, como em qualquer evento dessa natureza, para escapar a comparações com visões mais estereotipadas e em geral homofóbicas . Procurou no essencial celebrar o orgulho e sentido de comunidade que acontece no rodeo sublinhando os acontecimentos fora e dentro da arena Por isso optou por criar retratos de grande frontalidade em que cada indivíduo retratado imortaliza a coragem dessa comunidade LGBTQ que faz com que o Rodeo aconteça, resistindo às pressões de um universo tipicamente homofóbico e misógino. Para Gilford, trata-se de uma comunidade que ainda procura dar um sentido ao mito do cowboy americano, porque todos sobreviveram ao trauma de serem gays na América rural. Enquanto sub-cultura, também eles esperam por terra prometida, inspiradora e inclusiva, aparentemente em contra ciclo com uma parte da América que detém o poder político, que era Trump fez emergir.