by Chef Carlos Afonso
texto por Francisco Vaz Fernandes
Em pleno Chiado, entre teatros, no belíssimo largo do piadeira abre o Oitto, um novo restaurante pela mão do chef Carlos Afonso . Anteriormente a frente do Frade, na Ajuda, conseguiu que o seu espaço se tornasse uma referencia em Lisboa e uma referencia Bib Gourmand, distinção com que o Guia Michelin assinala os restaurantes com melhor relação qualidade/preço.
Mas os exíguos metros quadrados da cozinha do Frade acabaram por condenar o desenvolvimento profissional do chef e nesse sentido encontrar o espaço do Oitto foi a materialização de um sonho. Desde a sala, a zona de bar e a zona mais privada a que chama mesa do chefe, para não falar, do que não se vê, o armazém e a cozinha tudo é espaçoso, tudo se tornou um campo de possibilidades enorme.
Estar sentado num dos 54 lugares do Oitto representa experienciar o conforto e luxo de estar numa sala espaçosa de tetos altos que permite mesas bastante separadas. Os próprios patamares desnivelados da sala, desconstroem aquela visão banal de uma sala compacta de comensais. Tudo pareça um pouco mais teatral, com recantos a descobrir, zonas de repouso, uma mesa de dj e uma barra de bar muito generosa que nos vai aparecendo em percursos mais ou menos intuitivos. O próprio espaço remete-nos para a possibilidade elástica de estarmos no Oitto, seja de passagem para a ideia de um snack ou pelo contrário, para uma refeição mais completa. Por isso a carta revela-se imediatamente muito versátil. Tanto pode ser uma porção, como algo a partilhar, algo mais formal ou apenas um ponto de encontro que leva a um primeiro copo.
Para quem conheceu o Frade na mão do Chef Carlos Afonso, por agora, o Oitto talvez ainda não traga grandes novidades. A ideia foi manter um casual dinning a partir dos pratos que criou e que se tornaram clássicos como pato desfiado em escabeche (15,5€) ou o cabrito assado com arroz no forno (para dois 34€). Os croquetes (4,3€) também já são um clássico. Podem ser um entrada ou apenas acompanham um copo no bar. Todos os pratos estão fundados numa memória e preceitos da sua região, o Alentejo, mas o Chiado pede pratos internacionais, algo a cheirar a “brasserie” e por isso introduziu o tártaro de carne (17,5€) cortado a preceito que bem se pode tornar um novo clássico do Oitto.
Não se procura certamente uma cozinha que seja complicada mas que tenha o requinte e os toques de um chef. O pato de escabeche com um toque cítrico, torna-o tudo menos vulgar sem ter que se meter em bicos de pés. A carta de vinhos é bastante vasta, e para além das grandes referências, mesmo raridades, temos uma lista que procurou ser fora da caixa . Há Também aqui profissionalismo, alguém pronto a ouvir o cliente e dar conselhos certeiros. Desta vez foi-nos proposto um invulgar “Aparte” um vinho âmbar orange, para curiosos e aventureiros. A aposta na equipa é certamente uma marco e vale apenas referir Vasco Diogo, o chef da mixologia que podemos encontrar na barra do bar. Este jovem cheio de segredos deu-me a provar um dos cocktails que vai entrar na carta, que mistura aguardente de medronho com um licor de figo. Rosado e macio na boca continha toda a rusticidade de um interior algarvio num elegante copo de pé alto.
texto por Francisco Vaz Fernandes para PARQ_77.pdf (parqmag.com)
Oitto
Largo do Picadeiro, nº 8A
1200-026 Lisboa