Um gabinete de curiosidades
texto por Francisco Vaz Fernandes para PARQ_72.pdf (parqmag.com)
A Oficina Marques tem dois rostos, um casal que soube passar a cumplicidade da esfera íntima para o lado profissional. Geso Marques iniciou a Oficina Marques e José Aparício Gonçalves, veio dar o empurrão final ao que dizem ser a necessidade de materializar e contar histórias com as próprias mãos. Juntos formam uma equipa que celebra os ciclos da vida, memórias, cicatrizes e segundas oportunidades, fazendo crescer um espaço que é um autentico gabinete de curiosidades, quase inteiramente preenchido pelas suas criações. Incluem objetos criados a partir da reciclagem de madeiras ou outros materiais e colecionar materiais faz parte do seu processo. Nos últimos tempos entraram na cerâmica que é apresentada como a última novidade da oficina. A criatividade e a mestria manual que colocam na execução dos seus projetos é o que ressalta à primeira vista. Entrevistamos o Geso e o José na sequencia da abertura da sua exposição anual que nos trouxe o melhor que sabem fazer.
Quando é que surgiu a oficina Marques?
A Oficina Marques abriu portas na Rua Luz Soriano, nº71 a aproximadamente 7 anos, mas é resultado de um percurso de vários anos de trabalho.
Dado que o Gezo já tinha um trabalho consolidado, o que é que a Oficina Marques iria trazer de novo?
A Oficina Marques trouxe um espaço de exposição permanente, associado ao próprio espaço de criação e construção do trabalho. Essa mecânica veio dinamizar e intensificar o próprio processo de criação.
Como foi a integração do José, vindo de um universo mais conceptual. Como foi o choque?
A integração foi progressiva e de grande aprendizagem para ambos, deu-se no momento em que o Gezo se estava a mudar para o novo espaço maior e com novas potencialidades e o José vinha com várias ideias e projetos pois tinha acabado de terminar um mestrado em gestão cultural. Em todos os projetos há um tirar proveito das potencialidades de cada um o que deixa tudo mais fácil já que temos valências diferentes que se complementam.
Como é que gerem o trabalho? O que faz um ou outro se é possível distinguir?
O nosso trabalho é planeado, isto é, apesar de haver muita espontaneidade no processo, nós definimos objetivos técnicos e conceptuais que procuramos desenvolver O trabalho é muito plural, temos peças produzidas individualmente, umas pelo Gezo outras pelo José, e cada vez mais trabalhos feitos a quatro mãos onde há um bom equilíbrio dos dois universos.
Como é que veem o trabalho que fazem hoje coletivamente? O que é a oficina Marques actualmente?
O trabalho coletivo veio trazer para os dois uma partilha de ideias, técnicas e experiências que acabam por conferir consistência e a sedimentar um corpo de trabalho numa linguagem muito próprio e pessoal.
Podemos dizer que hoje a OM é um projeto e um espaço de encontro de universos pessoais no qual, através de trabalho manual e artístico, nasce uma visão do mundo que celebra a vida. O nosso lema é “Tusa de Viver”.
Quais foram os momentos chave do vosso crescimento?
O nosso crescimento foi sempre muito orgânico e cheio aprendizagem e momentos chave, em geral todas as exposições que fazemos são momentos importantes porque nos “obrigamos” a ir mais fundo no nosso processo de trabalho e a contar cada vez melhor a nossa visão do mundo.
Quais as temáticas que gostam de trabalhar e materiais que preferem?
A vontade (Tusa) de viver é talvez a mensagem principal do nosso trabalho, e fazemos isso através da celebração da natureza (o mar e o mato), o próprio corpo como espaço de experiências espirituais. Não podemos negar a influência que Lisboa, e o Bairro Alto, têm sobre nós. É a cidade que nos acolhe e nos permite desenvolver o nosso trabalho. É o centro e ponto de partida para estas nossas viagens.
O registo manual, qual a importância que dão a isso?
O registo manual é talvez o cerne do nosso trabalho, por isso o nome escolhido para o projeto ser OFICINA. O facto das coisas serem feitas manualmente por nós, num mundo cada vez mais digital, é também uma forma de nos posicionarmos, acreditamos e valorizamos muito o trabalho manual bem como a sua dimensão humana de quem cria com as próprias mãos.
Tendo já uma loja aberta ao público, porquê fazer uma exposição?
É verdade que há uma permanente exibição das peças, mas fazer uma exposição anual é um prazer que dificilmente dispensamos, para além de nos ajudar a produzir há uma gratificação imensa de partilhar com as pessoas o nosso trabalho num evento que é sempre animado e de encontro.
O que diferencia a galeria do espaço de loja?
Essa separação é essencialmente para ajudar a organizar o nosso espaço físico. A sala da galeria é um espaço mais mutante e de experimentação, o nosso livro em branco que podemos adaptar a cada exposição.
A loja, devido ao seu mobiliário, acaba por ser mais constante e permite outro tipo de exposição, nela para além de expor as nossas criações fazemos uma curadoria de objetos que nos inspiram tal como num gabinete de curiosidades.
Como acontecem as encomendas?
As encomendas que temos recebido tem acontecido de forma orgânica, de clientes que tem descoberto o nosso trabalho em hotéis, restaurantes e casas particulares. Neste momento temos recebido encomendas de Portugal e também de fora que nos desafiam a colocar a nossa técnica e visão ao auxílio de uma boa historia e consequentemente num espaço único. Das encomendadas destacam se o desk para hotel Jules&Jim em Paris, a parede do Hotel La Belle Juliete também em Paris, o cavalo em madeira para uma coleção particular no Dubai e alguns hotéis e restaurantes de Lisboa.
texto de Francisco Vaz Fernandes para Parq
Oficina Marques, na Rua Luz Suriano, 71 (Bairro Alto) Lisboa T: (+351) 213470003