Texto por Patrícia Cesar Vincente
Chegámos antes da hora da reserva, e é claro que fui bem recebida. Como aliás sempre fui, em qualquer restaurante JNcQuoi. Garanto-vos que ninguém me pagou nada para escrever isto. O mundo pode não ser cor-de-rosa, é certo. Mas gosto de dizer as coisas tal e qual como elas são, como as sinto, vejo e analiso. Neste caso, usei também o paladar. Lá chegaremos.
O Frou Frou até Setembro deste ano, era um espaço privado exclusivo para membros. E para se ser membro, caso estejam interessados, ficam a saber que temos de ser referenciados por alguém que já faz parte. E para submeter a candidatura temos de enviar CV, Linkedin, Instagram, e mais não sei o quê. Uma canseira, mas é como é.
Fomos acompanhados pela host ao longo do espaço do JNcQuoi Asia, e eis que se abre aquela porta incrível que nos dá acesso a um espaço ainda mais incrível. Com música oriental a ser tocada, sou encaminhada até à mesa. É mesmo inspirado nos anos 20, elegante, tudo ao pormenor evidentemente, e sem exageros. Perfeito! Levava aquela decoração toda para casa, se eles deixassem.
As pessoas são agradáveis, e a verdade é que qualquer loja, restaurante ou espaço nos fazem sempre sentir em casa. Seja do tempo em que era coleccionadora de caixas de macarrons(e seu conteúdo obviamente), seja do tempo em que comprava livros de moda, uma ou outra carteira, ou das vezes em que passei pelo Delibar, e tive a sorte de conseguir lugar ao balcão e deliciar-me com o Hot Dog de Lavagante. No Frou Frou não foi diferente, há aquele sentimento de casa à mesma. Faço apenas um apontamento não tão querido, mas foi o que senti. Ainda está um bocadinho rígido, ainda não tem um ambiente fluído desde o início da noite como já existe nos outros restaurantes. Senti diferença a partir do momento em que surgiu a DJ, e após as primeiras performances da Miss FrouFrou, o ambiente passou a ter outra energia. Mas até esse momento, senti que havia um tentar vender tudo à mesa de forma um pouco forçada. Surge a Sommelier a sugerir um champanhe, depois é se queremos chá, depois se queremos mais isto ou aquilo. E como não é fluído, aparecem na nossa mesa como se estivessem ainda sob as regras de uma folha de Excel. E nós só queremos pedir o que queremos pedir, apreciar a vida, saborear a comida e conversar por bons momentos. Aqui também se aplicam as regras das reservas durante duas horas, como agora acontece em quase todos os restaurantes. E a sugestão dos pratos, em que curiosamente as sugestões dadas recaem sobre os mais caros. No meu caso, tinha estudado a ementa em casa, e esquisita como sou já tinha o que queria experimentar na ponta da língua. Mas sou bem-educada, vou ouvir tudo até ao fim, fazer perguntas e aprender mais qualquer coisinha que também é bom.
Como entrada apresentam à nossa mesa as Nozes Pecancrocantes, valem muito a pena. Repeti. Os molhos que acompanham são óptimos, e valem muito pela fusão de sabores que complementa, mas nem eram necessários para mim.
Havia duas coisas que eu queria muito, muito experimentar: Tosta de Camarão Tigre com Sésamo e a Baba de Tubarão. Sim, fui ao restaurante porque queria uma entrada e uma sobremesa, é verdade.
Não bebi nenhum cocktail, mas acredito que devem ser maravilhosos, e tinham muito bom ar. Fica para uma próxima, quem sabe.
A Tosta de Camarão Tigre com Sésamo era tudo aquilo que eu pensava e mais além. Gostava de ter pedido duas, a tal sobremesa e ficava só assim. Mas eu tinha mesmo de experimentar um prato principal. Simples, crocante, e sabe ainda melhor do que a imagem. Que só por si já é muito boa.
Como prato principal, escolhi o Camarão Agridoce. Igualmente simples, mas muito bem confeccionado. Acho que o segredo sempre será esse. A confecção dos pratos, e nas doses certas. Não consegui chegar aos Noodles ao Estilo de Hong Kong com Lavagante, como eu queria. Mas tinha de chegar à sobremesa. Cada um com as suas prioridades.
Adoro comida, sou esquisita, não como carne e sou apreciadora dos pratos mais simples possíveis e imaginários. Acredito que é exactamente na simplicidade que percebemos a qualidade dos restaurantes em que nos sentamos à mesa. Como costumo dizer, a vida é sempre para a frente, e temos de inovar, e reinventar. Mas o que é simples, nunca é fácil. A percepção do erro é maior, a margem para erro é substancialmente menor. Conforme aprecio a simplicidade de bonito copo de água com gás, aprecio a subtileza com que se cruzam os sabores.
Falando em água, pensei em contratar o empregado que a cada cinco minutos nos enchia o copo quando ainda tinha água no copo. Não sei se tinham hora para devolver a garrafa ao fornecedor, não faço ideia, mas a verdade é que repente lá aparecia e servia mais água, e mais água, e mais água…até que lhe disse que ele dava muito jeito ter em casa para aquelas pessoas que bebem pouca água, e o nutricionista já não faz nada delas. Mas claro, eram todos muito educados, e correctos.
Pelo meio do jantar a maravilhosa Miss Frou Frou que anima qualquer sala, de uma forma exuberante, mas elegante. Para além de combinar com o espaço, melhora o ambiente mil vezes conforme já vos tinha dito. Quando me sentei, eramos poucos no restaurante e parecia que toda a gente está a reparar em toda a gente, e quando assim é ninguém está tão à vontade. Era uma energia que pairava ao início da noite, mas foi desaparecendo. E tanto os Clientes, como todo o staff foi descontraindo ao longo da noite.
A sobremesa: Baba de Tubarão, tem amêndoa, tem arroz-doce, tem doce de ovos, uma pitada de canela, algures qualquer coisa de leite creme acho eu, resumindo: tão bom! Que por mim eram mais duas doses para embrulhar, se faz favor!
No final da noite, sai de lá leve, mais alegre, e feliz. Por tudo, pela decoração, a arquitectura, gastronomia, experiência do Cliente, música e todo o ambiente fazem com que este seja um espaço a voltar muitas mais vezes.
Nesse dia estava a comemorar o facto do meu primeiro livro ter saído no estrangeiro. E como tal, ficou ainda mais especial.
Há saída, fui buscar a minha bem-dita Fortune Cookie evidentemente. E a mensagem que estava lá dentro falava em sucesso e boas surpresas profissionais. Sorri, e pensei enquanto descia as escadas:
“Caramba, é mesmo verdade. Coisas boas estão a chegar. Na próxima notícia incrível que receber volto a jantar no FrouFrou.”
E assim espero ter começado a usar um amuleto da sorte diferente, algo em grande, em género de restaurante.
Chef: Ku Yan Onn
Arquitecto: Jean-Philippe Demeye