Texto por Hugo Pinto
Cheguei mesmo à hora do Luís Severo no Palco Coreto. E não foi por acaso. Ele convenceu-me, com uma canção esperta, aquando da apresentação para a imprensa. É escritor de canções. Daqueles que actuam só à guitarra. Na música portuguesa deste género, são large shoes too fit in.

Letras muito bem escritas que pintam canções emotivas. Tudo meio amargo e dorido. Há músicas de amor, da suburbia e da cidade, no interior do país e no interior de nós. É um pós-Fachada e é um bom augúrio para este último dia.
Perto das sete da tarde passo pelo palco WTF, onde o inglês Papa Nugs está num tecno durinho. Vejo poucas pessoas a dançar. É sempre esquisito este som, antes das duas da manhã pelo menos.
Ainda é de dia mas a disco já estava estava montada no WTF e Erol Akan é o DJ que se segue. Traz um set a bicar no tecno, aqui e ali quase IDM. No pior é chatinho em minutos de tecno a 190 BPM, no melhor é boa música eletrónica para quem gosta de dançar. Há mais gente a alinhar neste som e a pista está quase cheia.

Depois de jantar os Muse arrasam a multidão que os espera. São guitarras em solos infinitos de monumentalidade. Aqui tudo é épico e grandioso. Há literalmente fogo em palco, numas chamas que se elevam – é este o nível de efeitos especiais. Os muitos fãs vibram com cada dedilhado e entoam cânticos imperceptíveis.
Sim, também há aquele “abanar do capacete” que antes só se aplicava ao metal e que agora, para o melhor e o pior, se estendeu a este mainstream. Este hard rock com muita testosterona sempre me passou ao lado. E nem o hype que cativa esta multidão o salva.

Perto das onze começa Foster The People no Heineken. Fazem um electro pop animado e dançante, que tanto bebe de Prince como da escola DFA. É um som deveras simpático e despretensiosamente pop. Há dois teclados que me remetem para aquele romantismo dos Soft Cell quando estão calmos e para a eletrónica dos Pet Shop Boys quando se metem na pista.
Tal como no caso destas bandas “antigas”, os Foster The People não almejam a muito mais que divertir o pessoal. E ninguém lhes pode levar a mal quererem fazer dançar quem assiste. Toda a pop, seja a alternativa, seja a eletrónica, quando diverte, funciona. Claro que não é genial mas o ser despretensioso ajuda. Ou seja, não se chateiem e dancem que isso passa.

Pouco passa da meia noite quando Trent Reznor e sus muchachos tomam conta do palco principal. Os Nine Inch Nails foram uma banda de culto aqui há uns anos. Tal como, por exemplo, os Young Gods, faziam um rock industrial cheio de força. Agora Reznor faz bandas sonoras e aparece em eventos. Digamos que se estabeleceu.
Estes NIN em 2025 ainda têm muita alma. Reznor é um boss do palco. Um mestre de cerimónias exemplar que conduz multidões e faz de um concerto uma prova de esforço prestigiante. Estão obviamente mais velhos, mas a vasta discografia permite uma setlist variada e o público responde muito bem aos seus temas mais conhecidos.
Admiro que não façam concessões, que não tenham amansado a besta e continuem no seu rock pesado e barulhento. Não é para todos mas também, diga-se, este industrial nunca foi para todos. Deram um concerto decente, sem truques de luminária e apetrechos pirotécnicos. Há uma força exemplar, seja nas guitarras cheias de efeitos, seja nos teclados sujos, ou até mesmo na voz reconhecível de Trent Reznor. Que modo impecável de fechar o Nos Alive 2025.

Para o ano, com os Buraka Som Sistema, será melhor com certeza.
Até lá… Go easy, step light, stay free!