texto por Hugo Pinto @hugopintomortal
Começou bem o Nos Alive com os Unknown Mortal Orchestra pouco antes das 18 horas. Têm piada estes neo-zelandeses. Fazem um rock alternativo, muito britânico e algo psicadélico. Ao meu lado um fan confessa que os viu no dia anterior no Porto e hoje está aqui. Guerreiro!
Na tenda Clubbing, SILLY, uma jovem tuga, canta como quem fala com os passarinhos, suave, suave…Atua sentada, na guitarra e nos teclados, frente a Fred, o baterista, filho do Kalu dos Xutos, que se desmultiplica em variadíssimos projetos sempre com alto nível. Fred toca de baquetas numa drum machine, à sua frente um portátil e uma caixa de moduladores.
Este som tem potencial e bem produzido era um mel. Ela bem tenta puxar pelo pessoal mas são 18.30 e há pouco público.
Na mesma tenda atua mais tarde o Conjunto Corona e dão um magnifico concerto. David Bruno é um mestre de cerimónias como poucos. Com sentido de humor conduz o público como quer e Logos larga rimas certeiras, sempre a desafiar um sorriso. Num momento grita-se por Gondomar, noutro canta-se “Isaltino mafiando bairro adentro”. Eu ri, cantei, dancei, pulei e suei!
No palco principal, está Benjamin Clementine ao piano e guitarra, uma percussionista, um teclista e uma guitarrista e um sexteto de cordas. Este som precisa de alguma intimidade. Quem o viu em Setembro no Palácio de Cristal percebe bem isso. Mas é de dia e isto não é público, sítio e hora pra este som. Não obstante, o Benjamin parece estar a curtir, puxa pelo público e aí vem mais uma soul animada. Se calhar lá na frente a coisa agarra mais aqui atrás ninguém se mexe.
Bateu Matou, o supergrupo nacional de bateristas, faz a festa toda na tenda Clubbing. Riot, Ivo Costa e Quim Albergaria, todos eles envolvidos no que de mais excitante aconteceu na música portuguesa deste século, estiveram muitíssimo bem. Uma banda de baile afrotuga sofisticada onde nem Rão Kyao faltou com a sua flauta. Pité e Raissa cantam, um rapper junta-se á festa, parece o Conductor dos Buraka. Há ancas a abanar de kizomba, tanto no palco como na assistência. Se alguém procura um som de Lisboa diferenciado, a apontar ao mercado global, ele está aqui.
Surpreendentemente, foram para mim, a par do Conjunto Corona, os grande animadores da primeira noite.
Os Smashing Pumpkins começam ao lado mas um momento drum solo colado ao Whiplash agarra o público. Depois seguem-se os singles e a constatação que o senhor Billy Corghan é uma estrela. Quem os viu em Cascais numa noite de chuva estava longe de imaginar que eles andariam aqui a tocar os mesmos singles, 25 anos depois.
A primeira coisa que me impressionou nos Parcels foi a quantidade de público: Eles estão na primeira música, os Smashing ainda tocam e nem pensar em entrar na tenda, não há espaço. É um público fiel e ruidoso este, muito bem! Este quarteto de meninos bonitos faz uma electro pop doce e requintada. Bem tocada, faz lembrar música de anúncio de telemóvel, não faz saltar mas embala o corpo. Contratava-os para um sunset na praia.
Os Arcade Fire arrancam com bola de espelhos e confetes, a festa está montada. Win Butler conduz aquela malta toda em palco de forma magistral. Quem os viu o ano passado não pode estranhar, quem os viu aqui há 10 anos também não. Single atrás de single agarram o público e toda a gente canta. Há quanto tempo não gravam um tema novo? Isso não interessa. E já não vi este momento “único” o ano passado? Isso também não interessa. Diverte-te pá! A música é animada e a malta salta a gritar o refrão.
Serem multi instrumentistas e terem um front man deste calibre, ajuda tanto. Até as flores em palco eu já tinha visto num outro festival no ano passado. Serão as mesmas? De plástico? O que é que isso interessa?! Segue-se mais uma mão cheia de singles e quase hora e meia depois da meia-noite os Arcade arrancam com Everything Now. Avisam que vem aí a última música e começa Wake Up! que termina em apoteose com os fans ainda a cantarem já depois dos agradecimentos finais. Qualquer concerto dos Arcade Fire garante momentos memoráveis.
Para terminar a noite Jessie Ware faz dançar toda a gente no palco Heineken. De lantejoulas brancas e acompanhada de dois bailarinos giríssimos, Jesse recria um ambiente burlesco mas muito clean. Faz um DiscoSound sec. XXI, pensem em Donna Summer com maquinaria. Não é a minha praia mas admito que a coisa ao vivo dá-se.