texto de Hugo Pinto

Quando cheguei ao Meo Kalorama já perto das 20h, a dupla portuense Best Youth já tocava a sua eletrónica com voz no palco MEO. Foi um concerto simpático mas aquele som pedia um espaço mais pequeno e pedia muito noite.

Best Youth

Model/Actriz no San Miguel começavam a apresentar o seu recente álbum, Pirouette. Fazem um punk-rock, algo velho mas pujante. O vocalista, muito queer, vem dançar para o meio do público e anima bastante um som que não cola com aquela atitude. Isso é giro. Também o baterista dá aquela batida que soa a eletrónica e que se distingue da guitarra e baixo muito noisy.

Model/Actriz

Passei pelo pinhal do Panorama Lisboa quando o dj set de Identified Patient rebentava um remix de Nine Inch Nails. Estava animado e ainda deu para dançar.

Entretanto começava Azealia Banks no palco maior. De corpete qual bailarina, apenas com um dj atrás de si, parecia meio sozinha naquele palco gigante. Não que isso a importasse muito, debitava rimas hardcore e lá ía interagindo com o muito público. A atitude sexual, algo nasty, fez as delícias dos fãs, que repetiam refrões enquanto pulavam. Foi no entanto meio desapontador para quem esperava mais espetáculo. Os seus hits criaram muita expectativa e, por muita alma que ela tenha, estar sozinha a acompanhar um dj, não ajudou à festa.

Boy Archer ©Hugo Moreira / MEO Kalorama 2025

Boy Harcher no palco San Miguel seguia o mesmo modelo com uma voz feminina e um dj na maquinaria. Fazem um darkwave, algo datado, que soa melhor no estúdio, onde todo aquele daw pode brilhar nos detalhes. Abriram com “We are Boy Harsher, we play Dance Music” e lançaram o mote para um concerto dançável, com tudo aquilo que o gótico pode ter de electro.

Perto das onze começava a festa animada dos Scissor Sisters no palco MEO. Para uma banda que não tocava ao vivo há mais de 10 anos, e que pelo meio substituiu a vocalista por duas senhoras, portaram-se muito bem. Foi um desfile de temas conhecidos, versões de clássicos e a mesma atitude gay.

Scissor Sisters ©Hugo Moreira / MEO Kalorama 2025

A malta alinhou e, embora a geração Azealia Banks/FKA Twigs não fizesse ideia do que estava a acontecer, o pessoal mais velho compensou cantando em uníssono os singles. Cantou-se os parabéns a uma das senhoras, dançou-se e no fim, aplaudiu-se a tenacidade de gente que já não vai para nova e ali está a dar tudo.

E por falar em gente que envelheceu mas manteve o som fresco, eis Róisín Murphy no palco San Miguel. A ex-vocalista dos Moloko, que também a solo fez as delícias de toda a gente no início do século, deu um belo concerto. Com um cuidado cénico impressionante, que incluía trocar de roupa em quase todos os temas, mostrou-se muito bem naquele tom tão seu.

Róisín Murphy

É uma senhora elegante, muito fashion, mas sem perder a excentricidade e com uma forte presença no palco. O público era fiel e conhecia bem os temas. Os refrões foram cantados por todos e a malta dançou até suar as estopinhas. Não acredito que alguém saísse desiludido de ali.

Para o fim estava guardado o melhor, FKA Twigs foi monumental e impactante. Com um espetáculo que incluiu coreografias cuidadas e atitude sexy, esta very hot british girl, apresentou o álbum deste ano “EUSEXUA”, um belo disco diga-se.

FKA Twigs

O concerto foi algo grandioso, algo ainda não visto este ano por aqui. Ela é fofinha aqui e muito kinky ali, as músicas são altamente produzidas, os temas sucedem-se em modo orgânico e os corpos suados em palco têm um efeito mimético na assistência. Tudo muito profissional e ainda assim fora do comum.

Sim, esta pop é requintada, muito lasciva, algo crua até. O público, jovem como seria de esperar, adorou e compensou o estranho facto de ter começado às 2 da manhã. Suponho que o conteúdo muito adulto tenha contribuído para a hora tardia. Uma coisa é certa, valeu bem a pena esperar.

Cantou-se e pulou-se com todos os seus temas, os conhecidos e os outros. Ela mostrou em palco que é uma referência incontornável desta década.