O #Menos Precárias: Festival de Performance, ciclo curado por Tita Maravilha no projeto Cosmunidades, acontece na associação PENHA SCO, de 22 a 26 de outubro, com direito a partilha pública no dia 26. Focado em práticas artísticas performativas low budget e formatos não convencionais, a proposta de Tita explora o fracasso como ferramenta pedagógica e o caos como potência criativa, incentivando novas formas de olhar e criar.

“Se viver de arte é sucesso, eu tô fudida!”  diz Tita Maravilha. Formada em Artes Cénicas pela Universidade de Brasília, ela afirma ser uma “inventora de universos” e, felizmente, partilha-os connosco. 

Tita Maravilha, fotografia por Ska Batista

Em 2018, Tita mudou-se para Portugal, onde começou a desenvolver o projeto Trypas Corassão, cujo último lançamento foi o incrível álbum “Beleza como Vingança” (2022). Entre 2020 e 2022, dirigiu “Espetáculo em Dois Atos no País das Maravilhas”, “Exercício para performers medíocres” e “Exercício para um Teatro pobre, ou carta a Grotowski”, projetos de sua autoria. Venceu também a 5ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço com “As Três Irmãs”, dando uma abordagem pós-contemporânea ao clássico de Anton Tchekhov.  

Trazendo para cima do palco as suas experiências e o seu corpo dissidente, Tita consegue vencer o Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II 2024. Rompendo várias fronteiras artísticas, nomeadamente os conservadorismos do teatro português, a sua singularidade tem conquistado fiéis seguidores do seu trabalho.  

O seu senso de comunidade é claro, e verificamos isso na sua incansável procura por espaços de diálogo. Através das mais variadas manifestações artísticas (incluindo memes entre estas) e da sua estética única, a artista é exímia a apontar os piores defeitos do capitalismo e da sociedade patriarcal-eurocêntrica. Como costuma afirmar: “Não basta ser queer. É preciso ter consciência de classe”.

Tita Maravilha, fotografia por Gadutra

A Escolinha da Performance é, como o nome indica, uma formação. Destinada a pessoas maiores de 12 anos, sem necessidade de experiência em performance, esta residência visa compartilhar métodos dissidentes de performance. As oficinas são limitadas a 20 participantes e acontecem de 22 a 26 de outubro de 2024, sendo a partilha pública dessa residência no dia 26. 

A Escolinha é uma residência que se insere no ciclo #Menos Precárias, uma extensão do “Precárias: Festival de Performance”. O que se pretende nesta oficina é criar práticas performativas de baixo custo, explorando formatos não convencionais de arte, onde o fracasso é tratado como pedagogia e o caos como uma potência criativa. No fundo, a ideia corrigir as assimetrias de acesso à criação e proveito cultural, promovendo a acessibilidade social e intelectual. 

Envolvendo comunidades marginalizadas e desafiando as estruturas institucionais tradicionais, com uma prática contínua anti-colonial, anti-racista e anti-transfóbica, o festival enfatiza a multiplicidade, a resistência e a precariedade, proporcionando um espaço de discussão crítico sobre a arte performativa e o seu papel no Mundo.

Resiliência é a chave e, para completar este ciclo foram convidades: Ionara Silva, a Criolense Kitchen Club, Enana e a Muerte a La Norma. 

Enana é ume artista multidimensional, rapper, cantory, performer e ativista trans não-binárie. Nascide em Damasco e a residir em Berlim. Desde a sua chegada à capital alemã para fugir à guerra e da violência como pessoa queer e trans na Síria, Enana reflete a sua identidade interseccional e a sua luta pela liberdade e justiça social através do Hip Hop. A música foi o meio perfeito para incorporar o seu verdadeiro eu e a abraçar a sua identidade além dos estereótipos esperados. O seu trabalho mistura performances de rap, canto e ativismo, com uma abordagem forte e crítica, que poderemos ver dia 26 pelas 20 horas na PENHA SCO.

Feña Celedón, também conhecida como Muerte a la Norma, é uma artista multidisciplinar chilena que trabalha com transformismo e práticas cénicas relacionadas com a Drag Culture. “O Arquivo Vivo do Efêmero” é um projeto de sua autoria que procura preservar e re-criar performances de transformistas históricas, utilizando o lipsync como principal ferramenta. O objetivo é criar um arquivo performativo vivo que permita estudar melhor as práticas culturais do transformismo e de como elas contribuem para a performance contemporânea. Atua às 21 horas do mesmo dia.

A Criolense é um projeto que mistura arte performática e comida preta diaspórica. É uma plataforma experimental, aberta e flexível, que procura criar “curto-circuitos” conceituais, conectando arte, música e gastronomia. É um ambiente de constante transformação, focado em criar novas linguagens e parcerias. Irão dar a masterclass “se organizar direitinho, todo mundo come“, onde as pessoas irão adquirir dicas e sugestões práticas para aprimorar um prato básico de arroz e feijão, aproveitando as sobras que temos no frigorífico.


Ionara Silva, produtora cultural, pesquisadora e empreendedora criativa com mais de 15 anos na área, irá dar uma masterclass de acessibilidade em contextos “precários”. Ao longo de sua carreira, trabalhou com associações, coletivos, empresas, instituições governamentais e internacionais. Especializada em Gestão de Políticas Públicas de Género e Raça pela Universidade de Brasília, é também pós-graduada em Indústrias Criativas, com foco em gestão e estratégias, pela Universidade de Lisboa. Atualmente, realiza o Douturamento, a sua pesquisa incide sobre interseção entre tecnologias digitais e temas como memória, identidade, morte e imortalidade digital. Além disso, é como consultora em acessibilidade, diversidade, negócios criativos e estratégias de construção de presença online.

A masterclass orientada por Ionara propõe uma desconstrução da inclusão da acessibilidade em espaços com menos recursos e espaços adequados para a hospitalidade de pessoas com deficiência ou que requeiram necessidades especiais (como legendas). Hoje em dia, ainda é difícil a locais mais underground ou precários de conseguir ceder todas as comedidas necessárias para que as pessoas possam assistir às peças nos seus espaços. Com este workshop, poderão encontrar formas subversivas de aceder à necessidades de todas.

Utilizando o conceito de interseccionalidade para aumentar a inclusão e a diversidade, o workshop repensa as metodologias aplicadas, que muitas vezes ignoram as complexidades das barreiras enfrentadas por diversas pessoas no acesso a direitos fundamentais, como a comunicação, a arte e o próprio direito à existência. Este workshop é direcionado a artistas e equipas de produção.

As inscrições para a Escolinha da Performance já fecharam, mas Cosmunidades é uma programação interdisciplinar que acontecerá até ao dia 7 de dezembro, incluindo apresentações de dança, teatro e performance, além de contar com residências, workshops, conversas e eventos híbridos que reunem artistas com diferentes éticas e estéticas. 

Através de ciclos curatoriais, este programa procura promover encontros e diálogos entre comunidades, articulando diversas cosmologias, linguagens e abordagens para criar e entender a arte. O show duplo de dia 26 tem um custo de 6€.

Morada da PENHA SCO arte cooperativa: Rua Neves Ferreira n10 ab, Lisboa

Formulário para inscrição na masterclass com Criolense Kitchen Club – se organizar direitinho, todo mundo come 

https://docs.google.com/forms/d/1yjnOMSsingOwRHM0ZCU1IswhpMNUc4Rc8sk9mmsiHEg/viewform?fbclid=PAZXh0bgNhZW0CMTEAAaY35Ixaz0YLyh9L9G5R9U8VsglQjdKO5SpnJtig4YJmmljVhxElBS7Rmyw_aem_zYiEVdJuFVTAj9A-IkDR-Q&edit_requested=true

Formulário para inscrição na masterclass com Ionara Silva – acessibilidade em contextos “precários”

https://docs.google.com/forms/d/1fcSW-_9fuW3kSbRdWkZ9yYZ4_9axlShwfdJ7dO_7J1g/viewform?fbclid=PAZXh0bgNhZW0CMTEAAaa99PEFsHvTeSBANxllYtyDZ1hyiGxk75oYh-QfVZiVwKsFnar-HRRjTAI_aem_Bdcotl–ubVQhEDaOz-rmg&edit_requested=true