Todos os dias valem a pena

Texto por Catarina João Vieira

Foto por Marcos Puga

Com apenas 25 anos e com uma imaginação infinita, Mário de Carvalho afirma-se como sonhador. Acredita que estamos em constante mudança e que o limite dos sonhos é a própria imaginação. Do styling e design à televisão, Mário usa a sua liberdade criativa e os grandes clássicos literários para se expressar. Conheçam o Mário de Carvalho.

Stylist, apresentador, designer e com bastante carisma aos nossos olhos. Nos teus, como te defines?

Antes de mais, que bom que é ser olhado como carismático! Ao espelho vejo o mesmo miúdo que via há 12 anos, quando este caminho começou.

A frase é feita, mas sinto que “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. E mora também em mim a vontade de concretizar cada um. O limite para os sonhos é a nossa imaginação, e isso pode ser assustador, porque não vejo fim à minha.

Acreditas que o ser humano é capaz de se definir facilmente ou estamos em mudança constante?

Eu creio que estamos em constante mudança. Estamos no mundo para o absorver – não nos esqueçamos de que este planeta é de todos – e podemos, ao virar qualquer esquina encarar uma realidade que nos vai marcar, uma história que nos vai fazer repensar, um cheiro que nos irá tornar saudosistas… Isto não é ser metamórfico, é ser humano. A mudança faz parte, mas pelo caminho não vale pisar ninguém.

Como surgiu a vontade de trabalhar no mundo da moda?

Não foi uma vontade imediata, ou com a qual sonhasse até aos 13 anos, mas foi um amor à primeira vista. Tinha acabado de entrar na adolescência quando assinei o meu primeiro contrato com uma marca. Aparecia constantemente nas revistas que as meninas do liceu liam…. Admito ter sido um adolescente quase que insuportável, porque já trabalhava e achava que era o “rei da cocada”, mas foi esse mesmo mau feitio que me serviu de escudo quando percebi que por parte dos meus colegas – sobretudo rapazes – eu era um alvo fácil de bullying.

Que conselhos podes dar a jovens que sofram de bullying ?

Nem todos os dias vão ser fáceis. Há dias em que vais querer passar nos intervalos da chuva para que ninguém te veja. Mas nunca te anules. Nunca deixes que os outros te definam. Sê sempre fiel a ti próprio/a. Anda de cabeça erguida. E se algum dia sentires que não aguentas mais, lembra-te que eu já estive no teu lugar. E estou, para qualquer vítima de bullying que leia esta entrevista, à distância de uma mensagem.

De que forma é que as tuas experiências te moldam a nível pessoal ou profissional? Houve alguma que te marcasse mais?

Sim. Quando aos 23 anos ouvi o diagnóstico de que sofria de patologia de pânico num grau muito elevado e posteriormente me foi diagnosticada dor crónica. Por 24 horas achei que o melhor para mim era desistir de tudo. Mas os sonhos falaram mais alto. A ambição falou mais alto. O querer falou mais alto. Este é o meu corpo, é a minha casa, é nele que tenho de saber viver independentemente de qualquer adversidade.

Se todos os dias são fáceis? Não. Mas todos os dias valem a pena.

Fazes por te inspirar ou inspiras-te naturalmente com o que te rodeia?

Eu acho que a inspiração é um processo natural. Tento absorver do mundo, tanto quanto consigo, depois faço a triagem, e inspiro-me naquilo em que me revejo ou naquilo que quero combater.

Neste momento da tua carreira, qual é o teu foco principal: o styling, a apresentação, o design, a construção da figura pública? Ou interagem entre si?

Pode parecer um lugar comum, mas o foco principal será sempre “ser feliz”. Se amanhã me apetecer ser padeiro, então vou trabalhar para ser o melhor da minha rua a fazer pão, mas mais do que ser o melhor padeiro, eu vou querer ser o padeiro mais feliz. Tudo aquilo que faço interage entre si. Claro que o lado público é aquele que necessita de uma melhor construção porque não quero defraudar aqueles que acreditam em mim. Se tenho uma voz, e é audível, então quero fazê-la chegar ao maior número de pessoas.

Normalmente, os stylists são pessoas que gostam de mostrar o seu trabalho e não se mostrarem. Tu és bastante ativo nas redes sociais e televisão fugindo ao típico “stylist”. De que forma é que consegues dissociar a tua presença online/ da tua profissão/ da tua pessoa? Ou, está tudo, de certa forma, ligado?

A verdade está sempre lá. Eu não faço um trabalho que não gosto. Eu não promovo uma marca na qual não acredite. Eu não vou a um evento social só para roubar um croquete. Se há dias em que me apetece fazer isto tudo? Não. Mas uma vez mais, foi esta a vida que escolhi, e sou completamente consciente de que muitas vezes para que o “Mário ser humano” não vacile, tem de entrar em ação o “Mário personagem”.

Como caracterizas um dia de trabalho?

Ui! Pergunta tramada… A primeira palavra que me surgiu na cabeça foi “caótico”, mas não num mau sentido. Há sempre muito para fazer. Há sempre detalhes que ficam por afinar. Há sempre um story que ficou por postar. Há sempre uma foto que não entrou à hora que devia ter entrado e isso já vai mexer com as estatísticas da semana inteira. Há sempre um sítio onde ir. Uma viagem para fazer. Mas eu gosto disto. Gosto de não parar sossegado.

Quem é o Mário fora das redes sociais? Consegues imaginar a tua vida sem elas?

É um Mário que gosta de silêncio. Que, numa mesa onde estão dez pessoas, é provavelmente o último a falar. É um tipo medroso, mas audaz. É alguém que adora ouvir um bom “não” para poder trabalhar o dobro e mostrar a quem disse que não, que afinal eu fui/sou capaz. É um fanático por romances literários, e que diz que muitas vezes os lê só para fazer parte do amor das personagens. As redes sociais fazem parte do meu trabalho. É impossível imaginar-me sem elas. Mas assustam-me muito. Afetam demasiado as relações humanas. Quase que nos tornamos descartáveis. E eu sou um eterno lamecha. Dói-me saber que posso ser descartado por alguém em prol de um “like” ou de uma mensagem que não devia ter chegado. Morro de medo da descartabilidade e sei que as redes sociais não facilitam em nada esse mesmo medo.

Que conselhos dás a pessoas que estão a lutar por entrar no mundo do styling? O que é mais valorizado num portfólio?

Acima de qualquer outra coisa deixem sublinhar: “Pessoal, isto dá trabalho”. Equando eu digo trabalho, não é só ser giro e andar a fazer shopping para X ou Ycelebridade. Há que gerir muitos egos. Ter muito jogo de cintura. Ter sempre os pés assentes na terra e nunca, mas mesmo nunca, deixar que um “não” seja sinal de derrota. A resiliência é o melhor portfólio que podemos mostrar a alguém.

Somos do tamanho dos nossos sonhos”, dizes no teu site. Já alcançaste o teu?

Já alcancei alguns profissionalmente. No âmbito pessoal, ainda não…. Falta-me um amor para toda a vida ao lado e um filho no colo.

Foto por Marcos Puga (@impuga)

Styling por Andre Santos (@andrewfsaints)

Makeup Filipa Vilar Afonso (@meetmyfaces.makeup)