Halo

Texto por Carla Carbone

A coleção mais recente de Maarten De Ceulaer, HALO, compreende um conjunto de candeeiros, em meia lua, de vidro, que, pelas características apresentadas, evocam algo mais do que uma mera função de iluminar um lugar. Contêm um elevado potencial poético. Aludem à fluidez da luz, à sua transitoriedade. Tomam partido dela.

halo de Maarten de Ceulaer

Os candeeiros HALO, são suportados por finas estruturas em alumínio ou latão, que, pelo seu delicado brilho dourado, contrastam com a placa vitrica, e com a sua realidade transparente, quase neutra. A invisibilidade do meio círculo em vidro é desmentida pelo contorno de luz curva que se aloja na extremidade. A luz viaja, invisível, e muda, pela placa de vidro, até se deter no limite da sua forma redonda, que, entretanto, obteve um tratamento a jacto de areia. O meio círculo translúcido desenha, assim, um arco de luz. Pela forma, assemelha-se a uma aura brilhante a flutuar no espaço.

Maarten de Ceulear

O nome HALO deriva dessa forma que se expande no ar, e que, quando fulge, nos faz recordar os astros, como a lua, ou o sol, ou nos faz pensar na aura dos anjos e das figuras sagradas. HALO é um candeeiro que desperta o nosso mais profundo desejo contemplativo, e nos faz lembrar a poética da luz. Terá Maarten De Ceulaer desejado homenagear o grande designer e senhor Ingo Maurer? Pelo menos, se assim o não desejou, fez por evocar a história do design, por meio da lembrança de outros designers, bem como evidenciar a importância da ligação do design ao passado, e aos seus grandes mestres.

hallo, de Maarten de Ceulaer

Baudrillard terá dito do vidro que o mesmo é um “milagre de fluido fixo”, um “grau zero da matéria”, ou ainda um símbolo de “congelamento de abstração”. Mas mais importante fez menção à sua propriedade isolante, profilática, de mundo que existe do outro lado, que se olha, mas do qual não se pode ter acesso. Os candeeiros HALO, de Ceulaer, enfatizam assim essa ambivalência.

Segundo Baudrillard o vidro permite, simultaneamente, uma “proximidade e uma distância”, uma “intimidade e uma recusa de intimidade”, uma ”comunicação e uma não comunicação”, “uma transparência sem transição”. Um poder ver mas não poder tocar, que nos aproxima do ato contemplativo e mágico, e nos traz a lume os longínquos gabinetes de curiosidades do século XVII, pejados de desejos do saber da ciência.

maartendeceulaer.com

Texto de Carla Carbone para a revista PARQ 67 Outubro de 2020