texto de Francisco Vaz Fernandes
fotografia de Márcia Simões
Com propostas experimentais tanto nas formas como materiais e técnicas, Laura Sousa, ainda estudante de mestrado é um nome a ter em conta entre os jovens portugueses designers de moda. As suas criações já vestem figuras públicas são apetecidas para editoriais de moda , tudo boas razões para sabermos como é que uma, ainda, estudante de mestrado recebe um convite para Fashion Scout que acontece na Fashion Week de Londres
Então primeira pergunta . No ano passado foste selecionada para o Fashion Scout que acontece na Fashion Week de Londres. Como é que isso aconteceu e como foi a experiência ?
Quando estava a desenvolver o meu projeto “Forms of Water” publiquei um vídeo no atelier a montar e mexer a peça num manequim. A peça parecia que tinha um movimento muito semelhante ao de uma bolha de sabão e achei que seria interessante partilhar. Coloquei esse vídeo no meu instagram e alguém viu e encaminhou para a página KNXT (uma página de instagram com muito alcance e que publicita o trabalho de vários designers a nível internacional). O vídeo tornou-se popular na página chegando rapidamente às 60mil visualizações o que gerou imenso tráfego na minha página, recebi muitas mensagens de pessoas da indústria inclusive da Fashion Scout que me pediram para partilhar o vídeo (que teve depois meio milhão de visualizações!), convidaram-me logo a expor a peça durante o evento deles na London Fashion Week (Fevereiro de 2024). Primeiramente até recusei porque não tinha a peça comigo e era muito em cima da hora mas depois pensei melhor e decidi aceitar. Foi uma loucura porque faltava menos de duas semanas para a London Fashion Week e eu tinha acabado de voltar de LA e deixado a peça lá para outro stylist. Portanto foi uns dias de correria a refazer a peça de raiz, encaixá-la numa mala e seguir viagem.
A tua peça apresentada intitula se Forms of Water. É uma peça com um apelo orgânico constituída por uma forma e material curioso. Podes falar um pouco do processo criativo e do resultado?
O meu trabalho de design é muito experimental e esteve sempre relacionado com manipulação têxtil, tanto em textura como em volume. Gosto da ideia de pegar num material e brincar com as suas propriedades para chegar a resultados inesperados e inovadores. Muitas vezes eu não antecipo o resultado dos meus designs, o resultado parte de uma brincadeira com o material, aliás várias brincadeiras e no final eu escolho só a melhor delas todas. Esta peça foi feita numa espécie mais resistente de acetato e cortada inteiramente com corte a laser, a forma como é cortada permite-lhe ganhar uma estrutura orgânica quando é criada tensão em certos pontos.
Quanto tempo demora a criar uma peça dessas? Que meios estão implicados?
No caso particular da peça “Forms of Water” eu criei em desenho vetorial as peças para serem cortadas a laser e montadas como um puzzle 3D. Cortar as peças todas são umas horas e montar umas quantas horas também. Não demora muito. Todos os testes e experiências para chegar ao resultado final é que demoraram muito tempo, cerca de 2/3 meses.
Já que estás tanto a falar do auxilio tecnológico, o quanto as tuas peças dependem do teu conhecimento tecnológico. as novidades tecnológicas desafiam-te a criar peças?
Depende da peça, no caso das peças que crio com corte a laser tenho de dominar um programa de vetores e estudar os materiais e as suas propriedades. Nem todos os materiais podem ser cortados ou se comportam da mesma forma. O que realmente faz o efeito visual das peças tem mais a ver com o meu processo experimental aliado a uma tecnologia que permite um resultado ultra preciso e que me obriga a arquivar o processo digitalmente e evoluir sempre como uma “investigação”.
Estamos a falar de peças que crias, fazer um desfile é algo sem interesse para a tua geração?
Fazer um desfile como eram feitos há 30 anos atrás deixa de fazer sentido numa geração presa a estímulos rápidos e cuja a atenção é difícil de cativar. Acho que é importante haver um momento. Esse momento é desenhado pelo designer ou pela sua equipa, e deve ser uma continuação da narrativa da marca/designer. Pode ser em forma de performance, desfile ou outra forma que faça parar o tempo para mostrar uma coleção.
Na tua experiência quais tem sido as tuas melhores ferramentas de divulgação do teu trabalho?
Relações humanas e redes sociais e aliar isso a colaborações com outros criativos com um trabalho interessante. A moda é um trabalho muito colaborativo e que para ser excecional tem de unir muitas forças.
Fotografia de Márcia Simões
MUA Ana Rocha Pereira
Modelo Anna Whittlestone
artigo publicado em PARQ_81.pdf