Texto por Hugo Pinto
Começou com uma piada o Kalorama 2025.
Eram 18.30 quando David Bruno subia ao palco MEO trazendo uma travessa de inox com o seu nome. O público gritava “INOX! INOX! INOX!” e o mote estava lançado. A solo, DB vem promover o seu recente álbum “Paradise Village”, um disco dedicado a Vilar Paraíso, a vila de Gaia onde habita. É um disco perspicaz e bem-humorado com aquela batidinha clássica de DB e a sempre presente guitarra elétrica da fusão. No melhor, é um retrato contemporâneo do suburbano rural, no pior é mais do mesmo em termos sonoros.

DB é um mestre de cerimónias avacalhado, alguém que, não se levando a sério, sabe fazer rir e dançar. Pelo palco passaram vários convidados, com destaque para Presto dos Mind Da Gap. Todos alinharam na festa e todos acrescentaram qualquer coisa ao espetáculo.
Com várias descidas ao meio do público, DB animou e transformou um, quase sempre dificil, concerto de fim de tarde, numa festarola cativante. Certo que o seu fiel público a isso muito ajudou. A facilidade com que se cantavam os seus hits “Inatel” e “Baby Dorme” foi espantosa. DB é, quer a solo, quer no Conjunto Corona, já um nome incontornável da música portuguesa. Gostei do concerto mas, com tantos interlúdios, pedia-se um pouco mais de musica.

No palco San Miguel, os tugas Cara De Espelho traziam o seu indie-rock político carregadinho de referências á musica popular portuguesa. Aprecio a atitude mas na cabine de DJ do Panorama Lisboa actuava Olof Dreijer. Em boa hora escolhi dançar os temas de Olof naquele pinhal. Dreijer é um sueco que formou os electro pop The Knife com a sua irmã Karin. A solo os seus discos não são muito a minha praia porque são demasiado tecno mas este dj set foi mesmo bom. Muito cool e cheio de world music. (É curioso, e justo diga-se, como o kuduro está em todo o lado. Custou mas vingou).
Perto das oito e meia, Father John Misty começava no Palco MEO. Acompanhado de sete músicos, o americano que foi batizado Joshua Tillman, de óculos escuros, fato e cheio de atitude, encheu o palco, e a alma, do Kalorama. Com uma discografia extensa que cobre todo este século, FJM vem promover o seu disco deste ano, Mahashmashana. É um disco de Americana, com laivos de folk e blues, que me passou um bocadinho ao lado e portanto fui com poucas expectativas para este concerto.

E quão surpreendentemente e bom foi! Com um saxofone alto e teclados vintage o som fica cheio e poderoso. As baladas de FJM são doces e cheias de sentimento. O que choca de frente com as letras quase sempre amargas. É nas historias trágicas que a sua prosa brilha. ”I love you Honeybear”, o single que deu nome ao disco de 2012, apareceu com uns arranjos totalmente diferentes e eu aprecio de sobremaneira esta atitude de desafiar um hit. FJM mostra-se muito cool, mesmo quando se agarra a uma guitarra.
Alguém que tem aquele toque blasé sem parecer desmazelado e cujos temas remetem para a golden age dos classicos de Las Vegas. Ele é o crooner que esta geração precisa e este foi, para mim, o melhor concerto deste dia.

Já a noite ía larga quando os Pet Shop Boys começaram o seu espetáculo. Os Pet Shop Boys foram, durante décadas, uns mal amados. Na minha juventude eram mesmo vistos como um fenómeno de hyper-pop comercial. Algo entre os carrinhos de choque e as matinés nas discotecas, cujos singles orelhudos martelavam verões sucessivos.
Para quem se enquadrava no “alternativo”, tudo isto era um pecado. “Its a sin!”:) Depois de umas décadas na sombra, ei-nos em 2025, quando o electro via DFA e uma paixão desmedida pelo som dos anos 80 veio recuperar quase tudo daquela década. (É espreitar o cartaz dos grandes festivais nos últimos anos).
Faça-se justiça: os Pet Shop Boys não eram tão maus assim e muito do seu som foi altamente influente em muita da pop actual, principalmente naquela que provem do UK.

O concerto foi um espectáculo altamente profissional. Neil Tennant e Chris Lowe já não são nenhuns rapazes. Neil tem o mesmo timbre imediatamente reconhecível, as frases de Chris nos teclados são copiadas por quase toda a gente de tão pop que são. Foi uma sucessão quase imparável de singles e é incrível como, duma banda que abominei durante décadas, conheça de cor tantos temas.
Visualmente o concerto foi inesquecível, esteticamente carregado de bom gosto. O jogo de luzes e a tecnologia no palco, mais o guarda-roupa cuidado, impressionam e seduzem. Tudo está impecável.
Há versões de “where the streets have no name” dos U2 misturadas com “I love you baby” do Sinatra. Há uma banda que permanece quase escondida porque Neil rouba o palco todo.
O público, uma mistura engraçada de gays entradotes com casais muito normativos, sabe as músicas de cor e dança todo e qualquer tema. Gosto desta mistura despreconceituada e prezo a atitude festiva.
Num outro clássico deles, Neil aponta para o público em “I got the brains, you got the looks, let´s make lots of money”. Oh, the irony. Passado hora e meia terminam com “It’s a Sin!” e depois voltam para o encore com um “west end girls” magnifico. Terminam com “Being Boring” e é ler a letra para perceber quão na mouche eles estão.
Faz sempre bem aos adultos perceberem as injustiças da adolescência.

L’Imperatrice actua já perto da uma no palco San Miguel. Concentram-se os fãs e aqueles que vindo para os Pet Sop boys quiseram estender a noite. Louve , a nova vocalista da banda parisiense bem puxa pelo público percorrendo o palco com um fato com uma luz que dá um ar retro que cola bem ao som. Mas é um público jovem e ansioso que quer antes de mais reconhecer os hits da banda. Competentes em palco, não são maus, mas são uma sombra para quem chegou dos Pet Shop Boys
Ainda espreitei os 2 Many DJs antes de sair mas já estava demasiado cansado para aqueles beats duros. A malta parecia animada e, embora os prefira no formato Soulwax, os irmãos Dewaele fazem sempre uns sets altamente dançáveis.
logo há mais!