Texto de Hugo Pinto @hugopintomurtal

Quando cheguei, pouco antes das 18h, logo uma boa surpresa: Uma área de imprensa, na Casa da Pedra, decente e com um catering limitado mas que incluía a imprescindível máquina de café.

No Palco San Miguel, os nova-iorquinos Monobloc apresentavam o seu rock aborrecido.

Ana Lua Caiano @meoKalorama/Rodrigo Simas

Ana Lua Caiano anda nas bocas do mundo e, porque nunca a tinha visto ao vivo, tinha muita curiosidade em saber se o hype se justificava. Num palco principal, demasiado grande para uma pequena mesa com maquinaria, um adufe e um tambor, Ana Lua Caiano cantou e encantou quem pode ir para o festival tão cedo.

Ela tem um sorriso do tamanho do mundo, o que tem ainda mais piada porque os temas das suas músicas são algo dark. A atitude simpática e pedagógica de A.L.C. também é louvável. Ela explica e mostra como faz os temas, como grava em pistas diferentes e sampla, como usa diferentes timbres da sua voz para criar um coro. Por fim, há ali um amor à música popular portuguesa que casa mesmo bem com a contemporaneidade do seu som.

São raros os casos em que o hype se justifica mas é isso que acontece com Ana Lua Caiano.

Beth Ditto @meokalorama/Hugo Moreira

Os Gossip de volta a Portugal encantaram os fãs. Por um lado há aquele rock energético, por outro lado quem tem aquela gordinha tem um mundo. Beth Ditto é uma frontwoman que faz corar de vergonha muitos homens.

Entretanto no palco Lisboa havia Vagabon, uma multi-instrumentista camaronesa-americana sediada em N.Y.C. Atua tocando guitarra, baixo e teclados, à vez, consoante o tema. Acompanhada por um jovem que lança saples e toca um daqueles saxofones matadores.

É uma club music engraçada, entre a soul e o house, que não ofende nem entusiasma. Tendo em conta o número de seguidores da jovem havia pouca gente a assistir, ainda assim foi um concerto simpático e deu para bater o pezinho.

Massive Attack @meokalorama

Depois das 20h começou Massive Attack no Palco MEO. Um concerto carregado de mensagens políticas, como sempre aliás. Del Naja actuou de negro com uma braçadeira da Palestina e houve inúmeras referências a Trump, Musk, pós-verdade e fake news. Tudo com o, já habitual neles, sentido cénico notável e de bom gosto. 

Os Massive atuaram com uma banda e os habituais Horace Andy e Elizabeth Frazer também apareceram. Horace Andy está confrangedoramente velhinho para estas andanças, perfeitamente justificável se pensarmos que o seu primeiro single é de 1967. Já Elizabeth Frazer parece uma avózinha, embora incapaz daquele timbre, que caracterizava os Cocteau Twins, ainda se safa. A palavra que me ocorria a certa altura era “geriátrico”.

Mas eis quando então, entram os Young Fathers, eles que deram o melhor concerto do ano passado aqui e que gravaram dois temas com os Massive recentemente. A coisa animou e ficou mais engraçada, foi a primeira surpresa da noite.

Sucederam-se depois os singles do costume, com um “Karmacoma” minimal e um final meio de repente. Foi um concerto algo agridoce diga-se.

Loyle Carner @meokalorama

Depois das 22h fui ao palco San Miguel ouvir o hip-hop britânico de Loyle Carner. O jovem rapper atua com uma banda de baixo, bateria, guitarra e teclados. Dedica músicas a Jay-Z e Madlib e faz um som esperto para o qual muito contribui a banda.  

Entretanto os Fever Ray cancelaram e há Jalen Ngonda. Quando cheguei ao palco Lisboa, já o concerto ia a meio, Jalen estava sozinho em palco a cantar um blues só com a sua guitarra. Depois entra um baterista, um percussionista, um baixo e de repente sai uma soul dos anos 70.

Jalen tem um daqueles falsetes de outra eras. O seu som lembra a Stax, a sua voz tem algo de Marvin Gaye e tudo aquilo é anacrónico no bom sentido em 2024. Grande surpresa este Jalen Ngonda com a sua voz inesquecível. 

Jalen Ngonda @meokalorama/Hugo Moreira

Depois disso, houve Sam Smith no palco principal. Eu já tenho pouco a dizer acerca desta pop, a acrescentar que o vi o ano passado em outro festival.

Filipe Sambado, a substituir Fever Ray, foi a última surpresa da noite. Actuou com uma senhora banda no Palco Lisboa já perto da uma. Um concerto inclusivo e muito woke com um som engraçado. Infelizmente a hora tardia e o cansaço impediram-me de assistir até ao fim.

A caminho da saída ainda passei por uma Peggy Gou em formato DJ com um set durinho mas que fez as delícias da muita malta do tecno presente.

Para primeiro dia, nada mau. Amanhã há mais.

Filipe Sambado @Meokalorama/Matias Garcia