Lisbon by Design, regressa com a sua 5ª edição, o que a torna esta feira um dos principais eventos no calendário do design nacional que se completa com o Lisbon Design Week que este ano acontece uma semana depois.

A Lisbon by Design, como tem sido habito, é no essencial uma feira com a curadoria da sua fundadora, Julie de Halleux. Como tal, mantém um perfil que vamos reconhecendo. Voltamos a encontrar muitas propostas que trabalham o têxtil, a cerâmica, a marcenaria e objetos híbridos que nascem da reciclagem de materiais encontrados. No essencial, a Lisbon by Design procura mostrar os novos criativos, portugueses ou estrangeiros que se estabeleceram em Portugal e que procuram fazer renascer as tradições manuais portuguesas. Nem tudo, encaixa nesse perfil, mas basta olhar para o conjunto desta edição para perceber a preferência pelo artesanal realizado em grande parte no estúdio dos artistas, onde se produzem peças únicas ou de edições muito limitadas. Ou seja, o oposto do design industrial para as massas que nem sempre tem cuidado com a questões da sustentabilidade, circularidade dos materiais e não produz um design responsável, tudo temas que estão em destaque, e que encontramos nas temáticas dos talks que acontecem todos os dias, no Lisbon by Design. Segundo a sua diretora procura-se que nesta edição se “reafirme o compromisso com artesanato português continuando a elevar os talentos nacionais a uma plataforma internacional”.

O grande destaque deste evento vai para o projeto Tribute to Forests desenvolvido pela De La Espada com a colaboração do designer francês Sam Baron. Ocupa uma das maiores salas do Palacete Gomes Freire e apresentam vários tipologias de assentos trabalhando a partir da ideia do tronco da árvore um tema que é a base da matéria trabalhada nos ateliers dos profissionais da De La Espada. A ação de Sam Baron passou por motivar a equipa de produção, potenciar os valores identitários da marca portuguesa, partindo de um elemento selecionado, um assento escavada num tronco que podemos ver na cultura africana, muitas vezes associada à cadeira do soba, o chefe da aldeia. A partir dessa forma básica algumas das cadeiras ganham nesta coleção uma dimensão de trono, com um espaldar muito exagerado. No conjunto exposto há algo surrealista com um forte impacto visual. Pela primeira vez a De La Espada produz peças em cerâmica repetindo a forma básica desenvolvida em madeira

Podemos ainda encontrar outras colaborações de sucesso. A Burel Factory e a Black Cork, com Toni Grilo apresentam nesta feira a sua nova coleção Mais uma vez potencializa-se a matéria prima, o burel e a cortiça, dando funcionalidade que se procura formas mais sugestivas.

Criar colaborações torna-se quase obrigatório na Lisbon by Design devido ao reduzido número de salas que faz com que os criadores tenham que partilhar o espaço e obrigatoriamente estudar a forma de se encaixarem sem se atropelar. Dada essa necessidade alguns criadores optam por aceitar essa eminente contaminação e criar peças que assimilam aspetos dos dois criadores.
Isso é evidente na sala que reúne os bancos de cortiça de Baptiste da Silva e as peças de cerâmica da Grau Cerâmicas. Já havia uma aproximação de formas, que advém de um olhar arquitetónico comum e na forma como trabalham a escala . A Grau Cerâmicas apresenta candeeiros de pé compostos por peças cerâmicas encaixadas que nos fazem lembrar mecanismos de uma máquina. O mesmo imaginário podemos encontrar num espelho, uma tipologia que desenvolvem pela primeira vez, assim como em painéis produzidos a partir da composição peças cerâmicas, aqui vidradas, tecnica que começaram a explorar após uma recente viagem ao Japão.

Outro grupo que funcionou bem, juntou Tiago Moura e Mariana Ralo. O lirismo experimental de Tiago Moura que apresenta uma composição de peças criadas a partir de madeiras recicladas, tudo composto por formas muito livres que confrontam funcionalidades mais óbvias. Nas paredes um conjunto de tapeçarias, de grandes dimensões de Mariana Ralo. É um prazer perder o olhar nos múltiplos detalhes que introduz a partir de matéria têxtil reciclada. Nesse sentido o aspeto sonhador prevalece nesse sala , daí o impacto do seu conjunto.

Em termos de madeiras recicladas é de referir ainda as criações de Rosana Sousa que já tínhamos encontrado nos Prémios Roca 2024. Aqui volta a mostrar a potencialidade das suas placas que resultam da prensagem de varias madeiras, com cores cores e veios diferentes. São criadas pela aplicação de técnicas de marcenaria clássica e que são a base para o desenvolvimento de peças com uma dimensão escultórica. As formas dominadas pelas riscas já se tornaram a sua imagem de marca.

Na área do têxtil, Ana Rita de Arruda recicla lã em forma de feltro e cria peças morais partindo de formas curvilíneas que podem expandir e adaptar -se ao espaço disponível. Encontrou na sua sala uma parceria feminina composta por duas amigas, companheiras de atelier que trabalham a matéria cerâmica . Clotilde de Kersauson que instalou um conjunto de colunas que nos remetem para uma arqueologia, algo nostálgico que se complementa com as peças de Margaux Carel. A cumplicidade é evidente.

Este ano a Lisbon by Design estende-se para o jardim , espaço até hoje nunca utilizado e que acolhe a coleção da Omarcity empresa Belga que tem produzido algumas peças em Portugal . Com mobiliário próprio para o exterior , apresentam na feira, Sardão um novo banco que pode igualmente ser uma mesa baixa . O têxtil que cobre o assento dessas peças é produzido pela Fabricaal, empresa que fez renascer as mantas típicas alentejanas que apresenta padrões coloridos muito próximos daqueles que fazem da Omarcity um sucesso.
Lisbon by Design
Rua Gomes Freire, 98 (Campo Mártires da Pátria). Qui-Sex 16.00-21.00, Sáb-Dom 10.00-18.00. 10€