Interferências

Texto po Francisco Vaz Fernandes

Tansformar o Maat como um palco de utopias e de lutas intemporais é anunciado como o principal objetivo de Prisma, exposição que decorre no Maat e que tem Alexandre Farto, António Brito Guterres, Carla Cardoso como curadores.

Prisma procura trazer novas vozes para um espaço de exposição institucional e de grande visibilidade pública. Os curadores convocam alguns artistas que nunca passam pelo circuito institucional de arte, que tem uma produção continua que se gere na periferia de Lisboa e que se mantêm periférica. Trazendo-as para o Maat procura contextualizar essas produções com peças contemporâneas que pertencem coleção do Maat e que de alguma forma se integram nas temáticas que procuram explorar. Nesse sentido, a ideia de inclusão prevalece quando no essencial, Prisma fala de exclusão e dos traços físicos e psicológicos que geram essas formas de cultura marginal No fundo, vamos encontrar vários tipos de narrativas que marcam a atualidade, como o legado pós-colonial, a questão da imigração assim com referencias a lutas pela representatividade das comunidades periféricas em geral excluídas dos centros de decisão.

António Alves

É uma exposição sobre diferentes expressões da cultura urbana, explorando itinerários narrativos da cidade através de um diálogo que privilegia o museu enquanto espaço crítico. Escapa ao equivoco de se restringir ao que podíamos chamar street art, um conceito que apesar de estar em explosão de sentidos poderia parecer redutor. Em traços gerais, temos a presença de um grande número de bandas herdeiros do hiphop nacional, que geram os seus processos criativos a partir das periferias de Lisboa. São difundidos a partir de vários monitores vídeo espalhados pela sala de exposição tornando-se numa espécie de banda sonora do projeto. Depois há um núcleo sobre o evento do 25 de Abril e sobre o processo de descolonização referindo-se as promessas e as utopias de igualdade e liberdade que se geravam na época. Temos então um marco temporal que depois nos transporta para o dia de hoje para as realidades contemporâneas e até para o desenvolvimento de certos discursos que foram evoluindo ganhando novas forças.

Rappepa

ROD (Rodrigo Ribeiro Saturnino) é um dos artistas que a partir dos seus desenhos e instalações refere a pertinência de questionar o legado colonial português. Numa pano, instalado num dos fundos da exposição podemos ler, “Não foi descobrimento, foi matança. Para António Alves esse espaço de revindicação desloca-se para a questão do direito à habitação e propõem uma espécie de outdoor, bem ao tipo da época revolucionaria portuguesa, remetendo-nos para as promessas de Abril, não cumpridas e por isso mesmo, sempre atuais

Sepher AWK

Temos projetos que se centram mais sobre a paisagem urbana periférica. Herbeto Smith procura construir uma poética a partir de retratos fotográficos de jovens e dos bairros onde vivem constituindo uma paisagem humana positiva que é de resistência porque rompe com os preconceitos mais imediatos. Rappepa é um pintor que apresenta uma serie de quadros que nos remetem para uma varanda mas ao mesmo tempo para selos aproveitando para representar indivíduos da comunidade afro-descendente. Um trabalho gráfico, impactante e eficaz. Ainda em termos de paisagem urbana destaque para a característica paisagem urbana de Sepher AWK com representações criadas por cores pouco realistas dando uma outra dimensão ao espaço quotidiano. Essa mesma ideia de manipulação do espaço arquitetónico pode ainda ser encontrado em Isabel Brison que recorta e agrega digitalmente partes de construções sem grande valor arquitetónico, mesmo de gosto duvidoso, mas que integrados ganham uma dimensão de delírio, acrescentando valor a algo que ainda nos parece real.

Herbert Smith no fundo e

Muitos outros artista, participam neste interessante projeto que tem a intenção de ser antes de mais, abrangente e integrante contribuindo para abrir perspetivas novas de uma mesma realidade. Ou seja, a imagem de uma Lisboa mais plural.

Texto de Francisco Vaz Fernandes para PARQ_74.pdf (parqmag.com)

ROD (Rodrigo Ribeiro Saturnino)

Artistas

±MaisMenos±, António Alves, Abdel Queta Tavares, Alfredo Cunha, Ana Aragão, Ana Hatherly, António Contador, António Cotrim, Apollo G, Blac Dwelle, Carlos Bunga, Carlos Stock, Diogo “Gazella” Carvalho, Diogo VII , Ernesto de Sousa, Fidel Évora , Filipa Bossuet, G Fema, Gonçalo Mabunda, Herberto Smith, Herlander, Isabel Brison , Julião Sarmento, Julinho KSD, Kiluanji Kia Henda, Luís Campos, Lukanu, Mantraste e moradores do PER11, Marta Pina, Marta Soares, Mónica de Miranda, Né Jah, Onun Trigueiros, Nuno Rodrigues de Sousa, Obey SKTR, Petra Preta, Primero G, Rappepa Bedju Tempu, Rico Zua , ROD (Rodrigo Ribeiro Saturnino), Rodrigo Oliveira, Sepher AWK, REAL G.U.N.S, Tony Cassanelli (Aurora Negra), Tristany, Tropas di Terrenu, Unidigrazz, Wasted Rita, xullaji

MAAT – Av. de Brasília, (Belém ) Lisboa telf 210 028 130