O Festival de Cinema IndieLisboa celebra a sua 20ª edição este ano, decorre entre 27 de Abril a 7 de Maio de 2023 com um programa bastante diversificado de 314 filmes a serem exibidos.
Dividido pelo Cinema São Jorge, Culturgest, Cinemateca Portuguesa, Cinema Ideal, Cinema Fernando Lopes e pela Piscina da Penha de França o programa é composto por filmes em competição, longas-metragens e curtas-metragens nacionais e internacionais, que são mostrados ao público em Portugal pela primeira vez e filmes que não estão em competição mas que são disruptivos, audaciosos, quebrando regras. Há ainda filmes antigos com o propósito de serem redescobertos por um público novo.
O Festival IndieLisboa promove ainda a exibição de filmes feitos por cineastas ainda no seu começo de carreira, alguns feitos em contexto académico, outros não.
O IndieJúnior para um público mais jovem com oficinas e workshops separados por idades a decorrer paralelamente, tem como objetivo criar um ambiente dinâmico e dar incentivo aos mais novos de se apaixonarem pelo Cinema. Este ano, para além da exibição de 41 curtas-metragens, maioritariamente em animação, o IndieJúnior inclui pela primeira vez uma longa-metragem de animação, “Yuku e a Flor dos Himalaias” dos realizadores Arnaud Demuynck e Rémi Durin.
O IndieMusic faz parte do Festival há 17 anos e trata-se da simbiose entre o Cinema e a Música em contextos históricos, políticos e sociais, acompanhando as movimentações e evoluções de ambos. Este ano fazem parte 15 documentários dos quais se destacam: “Le Mali 70” de Markus C.M.Scmidt, “Miúcha, a Voz da Bossa Nova” de Liliane Mutti e Daniel Zarvos e “The Elephant 6 Recording Co.” de C.B. Stockfleth.
O IndiebyNight trata-se de programas/eventos musicais para o público após o término das sessões de Cinema na belíssima cidade de Lisboa nomeadamente no Musicbox, no Roterdão Club e no Arroz Estúdios. Para além das festas, todas as noites do festival, depois do final das sessões de cinema, o Love Lisbon Bar em Arroios é o ponto de encontro para todos.
Filmes do Festival a destacar:
“Something you said last night” a primeira longa-metragem da realizadora ítalo-canadiana Luis de Filippis explora as relações entre Ren, personagem principal transgénero que acaba de ser demitida, e a sua família numa viagem de férias. A realizadora, também ela trans, com os seus filmes pretende destacar a comunidade transgénero sem fazer disso o foco principal do enredo, querendo com isto normalizar a inclusão no Cinema. “Something you said last night” foi feito com uma equipa predominantemente trans e encontra-se em Competição Internacional no IndieLisboa 2023.
“A Rainha Diaba”, longa-metragem realizada pelo brasileiro António Carlos Fontoura, é um filme de 1974 protagonizado pelo ator Milton Gonçalves que retrata a comunidade queer no Rio de Janeiro nos anos 60. O ator que faleceu em 2022 faz o papel de Rainha Diaba, travesti que controla os bastidores de um bordel, e rapidamente o glitter transforma-se em sangue. O filme de culto é agora mostrado no IndieLisboa após ser restaurado para ser revisitado e recontextualizado. Este filme encontra-se na secção Director ‘s Cut do Festival.
“Pearl” é uma longa-metragem realizada pelo americano Ti West e é a prequela de “X”, o filme de 2022 do realizador. Protagonizado por Mia Goth, a atriz torna-se uma parceira em colaboração de Ti West e de certa forma musa também, inspirando o realizador a criar todo um Universo tanto cómico como violento com estes dois filmes. “Pearl” dá-nos a conhecer a origem da vilania de “X” e Ti West é o realizador, montador, argumentista e produtor. Este filme encontra-se na secção Boca do Inferno do Festival.
“Mal Viver | Viver Mal” do realizador português João Canijo, um díptico, um filme em duas partes, explora relações entre mães e filhas onde não há amor. A ação passa-se num hotel e onde “Mal Viver” se foca nos proprietários, “Viver Mal” centra-se nos hóspedes. Com um elenco de estrelas nacionais, “Mal Viver” venceu o Urso de Prata Prémio do Júri na 73ª edição do Festival de Berlim e encontra-se em Competição Nacional no IndieLisboa 2023.
“Rodeo” é a primeira longa-metragem da realizadora francesa Lola Quivoron e uma continuação da sua curta-metragem “Au Loin Baltimore” que esteve no IndieLisboa em 2017. Julie Ledru é Julia, uma rapariga destemida com uma grande paixão por motas, pela adrenalina e sensação de liberdade que proporcionam. No entanto, não é aceite pelos seus pares por ser um mundo predominantemente masculino. É um filme poético e libertador que se encontra em Competição Internacional no IndieLisboa 2023.
“Saint Omer” da realizadora francesa Alice Diop é uma longa-metragem com um claro olhar político e social. Baseado num julgamento que a realizadora presenciou, “Saint Omer” conta-nos a história de uma mulher negra grávida que assiste ao julgamento num tribunal francês de outra mulher negra, imigrante senegalense, acusada de assassinar a sua filha de 15 meses. Encontra-se em Competição Internacional no IndieLisboa 2023.
“Sick of Myself” é uma comédia desconfortável da autoria do realizador norueguês Kristoffer Borgli que já se tinha apresentado no IndieLisboa anteriormente em 2020 e em 2013 com os seus filmes “Former Cult Member Hears Music for the First Time” e “Whateverest”. Este filme explora a cultura narcisista da fama artificial e efémera das redes sociais com a personagem Signe que, à medida que vê o seu namorado Thomas a ganhar cada vez mais fama como artista, vai querendo também transformar-se fisicamente para se sentir igualmente interessante. Este filme encontra-se na secção Boca do Inferno do Festival.
“Mátria” de Catarina Gonçalves, uma jovem realizadora portuguesa no início de carreira, estreia-se no IndieLisboa com uma curta-metragem em homenagem à falecida poetisa portuguesa Natália Correia. Assinalando 100 anos do nascimento de Natália, ela é personificada em três gerações de mulheres que percorrem a ilha de São Miguel nos Açores, local onde nasceu. “Mátria” encontra-se em Competição na secção Novíssimos do Festival.
“Watcher” a primeira longa-metragem da realizadora americana Chloe Okuno, fortemente inspirada no clássico de Alfred Hitchcock “A Janela Indiscreta”, retrata uma jovem nova-iorquina recém-casada que se muda para Bucareste com o marido. No entanto, tem dificuldades a adaptar-se ao novo local de residência e para piorar a situação começa a sentir-se observada pelo vizinho. Este filme encontra-se na secção Boca do Inferno do Festival.
“Morning Shadows” da realizadora portuguesa Rita Cruchinho Neves é uma curta-metragem em animação que joga com os elementos de luz e sombras numa poética espera por um barbeiro. A curta é narrada por Blixa Bargeld, membro da banda Bad Seeds de Nick Cave e a música é da autoria de Theo Teardo, colaborador de Blixa. Um universo gótico repleto de texturas sonoras e visuais, “Morning Shadows” encontra-se em Competição Nacional no IndieLisboa 2023.
Com uma programação extensa que este ano inclui também as LisbonTalks, IndieLab e Lisbon Screenings destinados a pessoas da Indústria do Cinema, esta edição é sem sombra de dúvida extremamente inclusiva resultando em entretenimento para todas as idades e abrangendo uma panóplia de países, culturas e acima de tudo temas pouco ou nada falados, alguns filmes antigos e pouco conhecidos, com todos os géneros cinemáticos incluídos, o IndieLisboa 2023 promete ser a melhor edição do Festival até à data.
Ver programa IndieLisboa — Festival Internacional de Cinema
Texto de Lara Mather