Lover Boy

Entrevista por Patrícia César Vicente

HAYDEN N. é a prova de que todos os artistas nascem artistas, é coisa de alma que vai para além do corpo. Está acima de opiniões e dois passos à frente de qualquer preconceito. Músico, produtor e cantor. Nesta entrevista não lhe perguntei quantos instrumentos musicais ele toca, mas asseguro-vos que são muitos. E maioria de nós precisava de mais do que uma vida para aprender. No caso do Hayden apenas deve ter precisado de tarde e meia, ou algo que o valha. Em resposta aos sonhos que tem… “Ser o primeiro artista pop trans a ser reconhecido em Portugal e mostrar também uma história feliz”. Isto revela muito sobre carácter, resiliência e vontade.

E acreditem que se vão surpreender com este primeiro single do Hayden N. featuring Carlisandia.

O primeiro single “Lover Boy” está disponível desde o início de Julho em todas as plataformas. Fui uma das pessoas sortudas que já ouviu a música e asseguro-vos de que fica no ouvido e felizmente podemos dizer que há algo de novo, que foi pensado e produzido com a vontade de criar uma nova direção na música, e não apenas seguir o que é tendência. E acima de tudo, gostava que soubessem que ao ouvirem a música simples e leve, vão também entender que se trata de uma feliz reunião do o artista, da música e do talento que veio para ficar.

E claro, nenhum preconceito poderá anular o motivo pelo qual nasceste. Nenhuma história fala mais alto do que aquela que é contada por quem vive ao som da sua essência.

Fica a entrevista de Hayden N. para a PARQ MAGAZINE, a assinalar o primeiro de muitos outros singles que ainda vamos ouvir. Por aqui acreditamos que de hoje a um ano estaremos todos a vê-lo em cima de um palco com esta música, entre outras.

Por palavras tuas, conta-nos o teu percurso. Quem é o Hayden?

 Eu sou aquilo a que se chama um major nerd. Passo dias a produzir música no meu estúdio e quando não o estou a fazer estou a ver tutoriais de produção e a ver mais instrumentos para comprar e adicionar à minha coleção. Sou fã dos 80’s e dos sintetizadores e sou obcecado em criar e aprender. Falando do meu percurso sinto que deveria falar do meu passado, no entanto não me sinto confortável em associar o meu sucesso ao meu dead name e às coisas que fiz anteriormente. Apaguei todos os trabalhos passados e sinto que o meu percurso começou realmente em 2021 quando iniciei a minha transição hormonal e dei espaço à criação da minha nova identidade artística como Hayden N. por isso, posso dizer que tenho estado feliz, a trabalhar como music producer full-time, a participar de songwriting camps e a trabalhar no meu projeto solo. 

Este teu primeiro single quanto tempo demoraste, quais as influências e inspirações? 

Comecei o processo de estúdio em Fevereiro. Curiosamente comecei este single pelo refrão (algo que não costumo fazer), sentei-me à frente do meu teclado a experimentar sons e tudo fluiu muito naturalmente. Comecei a cantarolar a melodia do refrão também com umas palavras à mistura e apercebi-me rapidamente que a música tinha um bom potencial para ser o meu primeiro single. Fechei-me no estúdio umas 6 horas seguidas até ficar contente com a evolução instrumental da música e após ter este esqueleto pronto e sentir-me satisfeito com a evolução artística do tema comecei a pensar em falar com uma segunda pessoa para fazer um featuring com uma voz aguda, que contrastasse com a minha. Nos dias seguintes contactei a Carlisandia e enviei-lhe o instrumental que tinha feito. Perguntei se ela queria fazer um pequeno featuring na música e ela aceitou. Escrevemos as letras os dois juntos e entre captação vocal e mix master final da música Acabei o processo no final de maio e decidi lançar dia 1 de Julho para poder apanhar o verão. Em termos de influências diria que “Loverboy” é uma música Eletro Pop / Synth Pop retratando os desafios do amor moderno. Inspirei-me em vários tipos de relações consideradas “tóxicas” que tenho observado entre pessoas que me são próximas mas tentei apoderar-me desse tema de uma maneira quase sarcástica e não tão séria. 

E sonhos, ou objetivos se assim lhes quiseres chamar? 

Eu quero tudo. Quero comer lagosta nas Maldivas. Entrar nas corridas e um dia estar no meio. Fora de brincadeiras, o que mais quero realmente é poder viver da música e um dia ouvir as pessoas a cantarem as minhas letras num palco gigante. Quero ser o primeiro artista pop trans a ser reconhecido em Portugal e mostrar também uma história feliz, com uma representação boa. Ser trans não é uma sentença, e eu quero dar à minha comunidade razões para sorrir. Estou cansado de sad stories. 

O que é que podemos esperar de ti num futuro próximo? 

Muita música. Quero lançar muitas coisas para o ano que vem e começar também a dar concertos. Tenho trabalhado intensamente em próximos temas por isso darei novidades. 

Uma curiosidade ou talento desconhecido sobre ti? 

Adoro cozinhar e fotografia. Se passo 12 horas seguidas a fazer música no estúdio o próximo sítio onde me apanham é na cozinha a inventar qualquer coisa. Faço uma lasanha vegetariana divinal. Venham experimentar, estão todes convidades.

Texto de Patrícia César Vicente para PARQ_75.pdf (parqmag.com)