Crónica de Patrícia César Vicente

Ilustração de Nicolae Negura

Agora é tão comum e habitual dizermos que fazemos o que queremos, e que a opinião dos outros não importa. Acho que tentamos convencer primeiro os outros e só depois é que nos tentamos convencer a nós. Nem sempre resulta. Nem para os outros, nem para nós. Tenho por hábito observar as atitudes de quem prega aos sete mares e sete ventos. E guardo-as para mim. No mínimo, há sempre a opinião de alguém que nos importa e no máximo há a opinião de toda a gente. Toda a gente conhece pessoas que parecem agradar o mundo, entre a simpatia e diplomacia existe um sentimento de necessidade de reconhecimento, a necessidade de ser aceite. Talvez seja por isso, que se adaptam constantemente e escondem as suas verdadeiras vontades. E, aqui é um jogo perigoso porque com o passar do tempo, sem a própria pessoa se aperceber já nem sabe muito os seus verdadeiros gostos, pensamentos e emoções.

Depois temos as pessoas que só dizem o que querem e fazem o que querem. No fundo, não é bem assim, porque no dia em que arcam com as consequências directas desta atitude “I dont fucking care” é exactamente aqui que o jogo muda. Para a audiência mostram zero arrependimento e secretamente pretendem sentir os louros da sua atitude verdadeira. Não importa o caminho, ou o que está certo ou errado. Admitamos apenas que em qualquer dia, ou em qualquer lugar, a opinião dos outros vai ter importância. Para uns mais, outros menos, mas será inevitável. As opiniões podem criar balizas, podem fazer com que sejamos mais conscientes. Desde que não nos limite e condicione a felicidade. Há que aprender a lidar com as expectativas dos outros. Só as expectativas que nós já temos sobre a nossa própria vida já são um cabo dos trabalhos. Gostava de acrescentar que nem sempre as pessoas que aparentemente se estão a borrifar para a opinião alheia são confiantes. Uma vez trabalhei com um miúdo que tinha vinte e um, ou vinte e dois anos. E a criatura embora muito nova, de vez em quando dizia coisas que me deixavam a pensar. Eu defendo que nós aprendemos com toda a gente. A minha sobrinha de cinco anos (quase seis), vá já me disse coisas que me fizeram debruçar sobre certos temas da vida. Não é só o meu grupo de amigas, entre os sessenta e setenta anos, onde posso beber da sua experiência. E se me permitirem a lamechice, esta é das melhores partes de estar vivo.

Ilustração de Nicolae Negura

Aprender é constante, e a informação pode vir de toda a gente, e de qualquer lugar. Mas voltando ao miúdo, o Daniel. Falávamos de amor próprio e ele disse-me: “ Não te enganes, há muita gente que diz que se coloca em primeiro lugar e só conhece o amor próprio em teoria. Dizeres que primeiro estás tu, e depois estão os outros nem sempre significa amor próprio. Muitas vezes é egoísmo, ou uma forma de te convenceres a ti mesmo daquilo que não tens.” E então, se misturarmos estes dois assuntos vamos ter um sem fim de pessoas que lutam para demonstrar ao mundo de que estão no topo da montanha, só porque fazem o que lhes apetece. Pessoas que dizem que gostam de ir com tudo, mas que as manhãs são difíceis porque viver como se quer implica sentir-se muitas vezes sozinho. E é mesmo aí que a opinião dos outros importa. Uma vez ou duas todos aguentam ouvir criticas, ou a desaprovação de quem se ama, mas e suportar tudo isso vezes sem conta é possível? Afinal a opinião dos outros ajuda um bocadinho a nos sentirmos mais amados e suportáveis como seres humanos.

Quem tem atitude tem direito a críticas, assim como quem não tem atitude também é criticado. No final, há que ter atitude, no entanto, há que saber dosear as críticas. Há que viver e perdoar. Não só os outros, mas também a nós próprios. Pelas vezes em que agimos sem querer saber do que os outros iam pensar, e também perdoarmo-nos pelas vezes em que evitámos ser felizes com medo da opinião dos outros. Dá que pensar e há que meter tudo na balança antes que seja tarde demais. E se querem saber?! Esqueçam esta coisa de pesar na balança, neste caso esqueçam até a balança. É a vossa vida, para medir e pesar estas coisas, por favor, usem o coração.

Crónica de Patrícia César Vicente para PARQ_72.pdf (parqmag.com)

Ilustração de Nicolae Negura