O bom selvagem

Gerlamente , só no mundo das fábulas, os homens e os animais, aparecem num plano de igualdade. O mundo natural é compreendido em geral como um universo ao serviço do homem, ou seja oprimido pela presença humana. Esta seria uma introdução prosaica ao universo mágico de Edi Dubien, um artista que recentemente tem tido grande reconhecimento público. Não foi sempre assim. Cedo, durante a sua infância, manifestou um evidente desajustamento relativo ao que era esperado de si no seu entorno social. Recorda-se como uma criança fechada nas suas questões sobre o género que rapidamente passaram a ser fonte de opressão. Só quando regressava a casa dos avós numa pequena aldeia no centro de França, cercado por um mundo selvagem se sentia seguro. Nesse mundo estranho e permissível podia ser tudo que imaginava ser sem restrições. Simplesmente existir era já por si ter a consciência de fazer parte dessa complexidade que é o mundo natural, sem contradições

De certa forma, Edi Dubien ressuscita todas as teorias inerentes ao bom selvagem. Um ser originalmente bom corrompido pela sociedade. O seu processo de libertação, leva a uma transição e consequente transformação. Considera-se um artista trans, mesmo que não obedeça ao que imediatamente imaginamos ser uma pessoa trans. Os trabalhos que desenvolve no seu atelier podem ser pinturas desenhos ou escultura e referem-se na maior parte das vezes à libertação de um corpo aprisionado que quer ser outra coisa. Ou seja, há uma comunhão entre o corpo do trabalho que produz e o seu próprio corpo. Por isso muitas das suas representações expõem um lado frágil e até inacabado. A imagem idealizada do jovem em fusão com o mundo natural é recorrente e tem por base as suas memórias de infância as experiências que viveu nesse mundo selvagem que o invadia em casa dos avós. É essa infância e esse mundo natural que sempre estiveram em perigo e como tal procura salvar, a partir do seu testemunho, materializado nas suas criações.

Imagens cortezia da Galerie Alain Gutharc, Paris

Artista representado pela Galerie Alain Gutharc, Paris

www.edidubien.com