Sangue Novo

Todos os anos em Outubro durante a Lisboa Fashion Week, desfilam os selecionados ao Sangue Novo supported by Seaside e no final são anunciados os cinco finalistas que competem aos prémios ModaLisboa x IED – Istituto Europeo di Design e ModaLisboa x RDD Textiles Os finalistas são :Dri Martins, Duarte Jorge, Francisca Nabinho, Gabriel Silva Barros e Ihanny Luquessa que quisemos conhecer melhor lançando um conjunto de perguntas sobre a coleção que apresentaram e a sua condição de jovens designers de moda.

Duarte Vaz Jorge

Duarte Vaz Jorge é um jovem Designer de Moda natural de Lisboa. A sua curiosidade pela exploração criativa, levou-o até à Escola Artística António Arroio, onde se especializou em têxteis, tendo posteriormente ingressado na licenciatura em Design de Moda e Têxtil na Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART). Atualmente, está no 2º ano do Mestrado na mesma área. Complementarmente, tem vindo a explorar as suas competências em áreas como a modelagem digital (com o CLO3D). As suas criações refletem um estilo alternativo, arrojado e sustentável, com uma paleta cromática dominada pelo branco e preto, que são marcas distintivas do seu trabalho.

O que representa para ti passares para a segunda fase do Sangue Novo?


Para mim, o ter passado para a segunda fase do Sangue Novo representa uma oportunidade fantástica de voltar a desafiar-me e de aprender mais e mais…e aprender com quem é do meio e tem experiência nacional e internacional é, de facto, um privilégio. Espero vir a conseguir surpreender o júri…e a mim mesmo. Representa igualmente a prova de que quando queremos muito uma coisa, e trabalhamos para isso, tudo é possível.


Qual foi a inspiração da coleção apresentada?


A coleção ‘Tiangou’ é inspirada no teatro das sombras chinesas, sendo uma expressão artística da lendária entidade chinesa do mesmo nome que, segundo a tradição, pode devorar a lua, causando um intrigante eclipse lunar. Essa inspiração foi cuidadosamente explorada através da paleta de tecidos predominantemente pretos e brancos, expressão de luz e sombra. As silhuetas distorcidas nas peças evocam a misteriosa presença de Tiangou, proporcionando uma impressão única que estimula a imaginação. A coleção captura a magia do que poderia ser vislumbrada num quarto escuro, por exemplo, a partir de uma cadeira cheia de roupa.


À medida que ‘Tiangou’ progride, alcança-se o ponto de um eclipse total, onde apenas as silhuetas das peças permanecem e a luz já não se encontra presente. Daí o ter utilizado tecidos como o Musou Black Fabric Kiwami, um tecido capaz de absorver 99,9% da luz visível, representando um avanço na indústria têxtil. Para criar ‘Tiangou’ também utilizei Piñatex da coleção de metálicos e de minerais, retratando a misticidade tratada na lenda. É um tecido feito a partir das folhas de abacaxi, sendo uma alternativa sustentável ao couro, material das quais as figuras chinesas são feitas.


O que esperas do teu país enquanto jovem designer?


Enquanto jovem designer, desejo que o meu país continue a acreditar, apoiar e promover talentos emergentes, como faz a ModaLisboa com iniciativas como o Sangue Novo. Acredito que a arte, incluindo a moda, é uma linguagem incontornável para o desenvolvimento sustentável do nosso país. É certamente um caminho com percalços, dificuldades, mas belo e com impacto. É uma forma de projetar para fora uma imagem de um Portugal inovador, criativo e consciente.

 
Quais são os planos para o futuro?


No futuro, ambiciono abrir uma pequena loja onde possa dar a conhecer tanto a minha marca como a mim próprio. Quero partilhar as minhas ideias e pensamentos através das roupas. Além disso, tenciono continuar a desafiar-me com peças mais escultóricas, provocando a reflexão em torno do que é a norma e mantendo sempre um compromisso com a sustentabilidade. Embora este seja um tópico já muito falado, acredito que pode sempre ganhar mais relevância. O que mais desejo é sentir que estou a partilhar o que me faz feliz — o meu trabalho — com as pessoas.


O que significa para ti “Singular”?


Para mim, ‘Singular’ significa ser único, disruptivo, ser eu. É o meu traço, a minha linguagem — desde o primeiro rabisco que fiz, ao que sou hoje e ao que serei amanhã. Cada indivíduo é ‘singular’, tem a sua singularidade, e cabe a cada um mostrá-la, nutri-la e transformá-la…em novas singularidades de si-mesmo. Este concurso representa, precisamente, uma possibilidade de explorarmos e apresentarmos as nossas singularidades através da produção.

@hellabuv