Be your self. Everyone else is already taken

entrevista com Michael Miranda e Davide Gomes

texto por Francisco Vaz Fernandes

A Ding Dong, empresa de arquitetura e de interiores, faz 10 anos e para celebrar a felicidade desse percurso resolveram mudar de espaço, porque a família de Michael Miranda e Davide Gomes não para de crescer. Instalados em Matosinhos num antigo armazém que requalificaram inauguraram de uma só vez uma loja que se encontra no piso térreo onde podemos encontrar diversificados produtos de design que peetencem ao catálogo da Ding Dong. Com vista para a rua acaba por ser uma sala de receção e também uma primeira imagem do universo da empresa. Olhando para cima, temos os escritórios. É onde tudo acontece e por lá já circulam 12 elementos incluindo 5 arquitectos que fazem pulsar o propósito inicial de criar uma empresa que fosse muito transversal em termos de serviços que a arquitectura e o design de interiores tem para oferecer. Por isso acabam por estar a sempre a piscar o olho ao campo das artes, da música, da perfumaria e das antiguidades , a todos os campos que possam enriquecer a sua visão. Entrando no life style estamos num campo sem limites : Como costumam dizer com humor, – “fazemos projetos de chave na mão em que o Cliente entra e as camas estão feitas, há comida e bebida no frigorífico”. É entrar e viver o sonho

loja da Ding Dong em Matosinhos (R. Roberto Ivens, 44) fotografia de Montse Garriga

Encontrei-me com Michael e Davide na sua espaçosa nova loja e sentados em cadeirões lacados a negro desenhados pela Dingdong, a conversa saiu fluída. Brindamos a boa disposição e a um final de dia solar de outono.

Começando então pelo início. A Ding Dong nasceu em Portugal em 2012, em pleno clima de resgate financeiro com o mercdo em retração e pouco optimista. Muitos consideravam difícil e arriscado qualquer investimento nesse momento. Contudo, Michael e Davide apercebiam que não existiam em Portugal muitas empresas com trabalho concreto no mercado Premium e que a procura existia, era real. Michael, arquitecto, já tinha apalpado esse terreno, por duas experiências que trazia de passagens por ateliers de arquitectura de anteriores. Davide, tinha estudado engenharia do ambiente e iniciou a sua vida profissional numa grande construtora onde o mercado de luxo também lhe era próximo. Dividiram os papeis e a a direção criativa ficou entregue ao Michael passando a direção financeira a Davide. “A nossa formação ser distinta traz à empresa e aos trabalhos que desenvolvemos uma transversalidade que se tem revelado muito positiva. Complementamo-nos no dia-à-dia e no trabalho, o que é de facto uma mais-valia no resultado final dos trabalhos. Isso é uma certeza!”

loja da Ding Dong em Matosinhos, fotografia de Montse Garriga

Quem só conhece más experiências entre sócios admira a cumplicidade entre o Michael e o Davide, uma amizade e conivência que perdura e já vinha de há muitos anos, muito antes de estarem juntos na Ding Dong. Conseguiram alimentar um projeto comum com o mesmo rigor e o cuidado que tem em geral com os outros fora da vida profissional. Davide diz que tudo foi possível por serem muito diferentes mas com um sentido de humor muito semelhante. “O que nos faz rir às gargalhadas das coisas mais simples. Viajamos e aprendemos juntos, a maior parte das vezes, sem conseguir distinguir se estamos a trabalhar ou de férias”. Michael acena afirmativamente. … “É das referências comuns que nasce a Ding Dong; não como uma procura, mas sim como uma descoberta e consequência natural”.

Pergunto, mas dado esse clima adverso inicial nunca entraram em Pânico? Respondem, – “Pânico!, Mas isso é todos os dias, aprendemos a viver com ele.

Casa na Qinta do Lago , fotografia Pedro Lobo

Podemos dizer que começaram em grande, onde a sorte e os contactos também contaram e acabados de instalar-se no seu mercado ainda antes de saberem que fazer a vida já tinham em mãos duas grandes moradias no Algarve. Foram projetos muito importantes e ambiciosos para uma empresa que estava a começar a dar os primeiros passos. O principal foco do atelier é a criação de projetos de arquitetura e de interiores. Operam tanto em projetos de habitação privada, como em espaços comerciais e hoteleiros, construídos de raiz, ou de reabilitação. Tanto podem ser projetos “chave na mão”, em que o atelier tem total controlo sobre o projeto – do início ao fim da construção, como projetos em que opera enquanto consultor e em que, portanto, presta um serviço de apoio criativo numa dada fase do projeto a um determinado cliente, seja ele um particular ou grupo empresarial.

No percurso de 10 anos sentiram que a estrutura que criaram ganhava solidez passando para o plano internacional. Fizeram um apartamento em Nova Iorque, depois outro em Miami e outro em Luanda. Mais recentmente fizeram o showroom londrino de conhecida marca de tecidos. Fora ou cá dentro já tem muito para contar , mais do que seria suposto concretizar em 10 anos e por isso sentiram a necessiadade de contar a sua versão num livro “ a viagem” que se tronou uma espécie de balanço, onde estão representados os principais projetos. Apesar de nunca perderem o foco mediático sendo mencionados nas revistas especializadas de arquitectura de interiores, toda essa informação estava avulsa e faltava um livro que condensasse o trabalho da Ding Dong. Recentemente aventuraram-se na área da perfumaria com o lançamento do Perfume “welcome” Home Fragance mas abertura de uma loja em Lisboa e outra em Matosinhos constituem os novos marcos na vida da jovem empresa.

Casa na Qinta do Lago , fotografia Pedro Lobo

Arrisco-me a perguntar, Em termos de arquitectura e design de interiores, consideram que tem um estilo? Começam por referir que – “ Humor e Surpresa são elementos fundamentais como ferramenta de trabalho. Depois também consideram que os fatores que os distingue é precisamente a mobilidade…”Hoje estamos em Lisboa, amanhã em Nova Iorque e por ai foraDepois disso, o nosso trabalho deve falar por si. A nossa identidade é um reflexo natural do compromisso que estabelecemos com a originalidade e a criação balançado com o conhecimento da História e o respeito pelo passado. Misturamos estilos, matérias, texturas e cores com sofisticação e uma grande dose de rigor, para obter um resultado que se quer contemporâneo e elegante, mas sempre descomprometido e confortável.

Ainda assim, pensando numa certa linguagem comum que penso encontrar tendo em vista o que posso ver a web site da Dingdong onde estão apresentadas algumas obras relaizadas, insisto, o estilo é importante? “Para nós o Verdadeiro Poder do Design ou da Arquitetura esta na sua Alma…construída com coragem, energia e dedicação. Parece tão simples e é tão difícil”.

E a identidade do Cliente onde fica? …Respendem – “É um esforço e uma descoberta que fazemos a cada projeto. Quem são? Quem querem ser? Como se mostram aos outros! Como gostam de viver? Quais são as suas necessidades? Quem vai lá viver, são os clientes e não nós. Tem de ter a sua identidade própria. Evidente que para isso, é bom trabalhar com pessoas que também se identificam com a Ding Dong e com o que temos vindo a desenvolver….

Casa em Miramar , fotografia de Montse Garriga

Mas tendo um volume de trabalho tão considerável não deixo de exprimir a minha perplexidade de terem tido o desejo de abrir lojas. Primeiro em Lisboa agora Matosinhos onde podemos encontrar peças de mobiliário e decoração de diferentes tipos, que integram os seus próprios projetos mas que se podem comercializar nas lojas. ”Sentimos necessidade sobretudo de disponibilizar ao público em geral a nossa seleção de peças que de outra forma só estavam disponíveis em projeto. Democratizamos o acesso às nossas peças e as nossa escolhas. Já desenharam um pouco de tudo, … “não por uma lógica de que tínhamos que atingir determinados patamares, peças, públicos” – como explicam, porque o desenho próprio surge quase sempre de uma necessidade. Peças que tiveram que ser desenhadas para terem caracteristicas eescalas muito específicas para determinados espaços e que olhando bem podiam ter um segundo nascimento. “Quase sempre as peças que entram em “Catálogo” Ding Dong foram produzidas para um projeto específico e que mais tarde vêm a integrar um conjunto de peças nossas e são comercializadas em Loja, dizem. Contudo esta lógica parece começar a ganhar outros contornos porque este ano foi produzido para a loja uma coleção de Exterior Echo e uma pequena coleção de puxadores decorativo que não resultavam de uma necessidade específica para um projeto. Para 2023, o catálogo vai crescer e já anunciaram o lançamento de uma coleção de peças cerâmicas que conta com candeeiros e jarras.

Casa no Chiado, fotografia de Cláudia Rocha

Com a loja e o canal de comercio on-line, também disponibilizam produtos exclusivos que resultam de serem representantes de alguma marcas em Portugal. Contam com a Fermoie (tecidos), a Vaughan (iluminação), a Lacquer Company e a marca francesa Veronese. Também estão a desenvolver parcerias com algumas marcas desenhando tapeçarias, iluminação.

Casa no Restelo , fotografia de Montse Garriga

Com tantas referencias que foram surgindo na conversa fico curioso sobre os criadores que gostam de citar. Pretendo que seja uma resposta rápida , emocional sem terem que pensar muito o que gera um rápido desacordo e sentimento de injustiça mas lá ouço falarem dos arquitectos,Gio Ponti, Carlo Scarpa, Piero Portaluppi, Le Corbusier, Mies Van der Rohe, Philip Johnson, Luis Barragán e dos decoradores Jean-Michel Frank, Billy Baldwin, William Haines, Francois Catroux Artistas e os Lucio Fontana, David Hockney, Jean Cocteau, John Currin, Elisabeth Peyton

Afinal a lista ia longa e para rematar, Michael Miranda acaba por citar, Oscar Wilde – “Be your self. Everyone else is already taken” – uma das suas verdades absolutas para além de todas as referencias que possam ter.

@dingdong.pt

www.dingdong.pt