Saint Caboclo: ritmo e melanina desafiando a reinvenção
Dengo Club volta a promover uma nova festa cuja a temática é o Futurismo e acontece dia 17 de Dezembro no Village Underground Lisboa. Esta é a segunda festa promovida por Saint Caboclo, o mentor deste novo conceito de noite multicultural. A festa anterior, a primeira que organizou, tinha como tema o ano 2000 e foi a confirmação da noite que sentia faltar no panorama noturno lisboeta; um olhar alternativo, dirigido por mulheres, marcado pela sensibilidade da cultura negra dada por pessoas que se sentem imigrantes em Portugal. Segundo Saint Caboclo, jovens de cor e mulheres não têm um espaço alternativo dedicado à sua expressão, muito menos quando nos referimos a “as festas LGBTQI+” que se focam muito em pessoas brancas e cis. Nesse sentido, segundo Saint Caboclo este é um novo espaço que pode garantir um “ambiente seguro para pessoas de cor e, principalmente, imigrantes.” Nesse sentido, o Dengo Club também vem quebrar a perceção de que o meio alternativo é só feito para música eletrónica ocidental, trazendo música negra performada por pessoas de cor para dentro do espaço underground e artístico de Lisboa. Para que o projecto se realize Saint Caboclo conta com o apoio de artistas como, Cyber Tokio, Soya Marega e Ricardo ‘Banu’, amizades inquestionáveis do DJ, todos unidos por valores comuns
Publicamos a entrevista que Saint Caboclo dá a Kássia Laureano
1. Como surgiu exatamente a Dengo Club?
Durante o mês de Janeiro eu tive a ideia de trazer mais criatividade para as noites de Lisboa. Eu sabia que assim que os clubs voltassem a abrir seria o momento certo para mostrar para às pessoas algo mais interessante e interativo para quem estava com tantos looks e criatividade presa em casa. Eu sabia que precisávamos de algo mais artístico como uma noite em Nova York e Madrid, onde a influência de moda e “Club Kid” é mais presente.
2. Enquanto criador da marca e devido ao que representa, qual a tua relação com a vida noturna de Lisboa e quando começaste a perceber o que estava em falta?
Eu comecei a minha carreira em 2019 e sempre senti falta de mais. Eu me vestia extremamente extravagante porque cada Dj Set era como uma performance e, com tempo, o meu público começou a fazer o mesmo. Agora tenho um following que se prepara e cria looks para estas festas e, eventualmente, eu senti que isso devia se tornar numa plataforma/marca/evento específico, onde todos podem vir extremamente preparados e excêntricos sem ter medo dos olhares, porque nesse espaço todos são os seus próprios personagens.
3. Onde ocorrem os eventos da Dengo Club?
Cada evento precisa de um espaço diferente, é importante que o espaço ajude a criar a magia da noite. Se a música é mais industrial, queremos um espaço industrial, por exemplo. O espaço e o tema ajudam o público a sentir que estão em uma realidade diferente naquele momento onde criamos um “mundo criativo”.
4. Além de ter um conceito inovador na noite lisboeta, o que faz da Dengo Club e respetivos eventos tão únicos e incomparáveis a outras iniciativas?
Em Lisboa existe uma certa falta de pessoas negras e, principalmente, imigrantes na organização de eventos queer. Um espaço seguro para uma pessoa queer nem sempre significa seguro para uma pessoa queer racializada. A diferença que queremos é um espaço queer onde não sejam apenas pessoas brancas cis nos cartazes, e sim onde os Djs representam o público de uma forma mais diversa.
É necessário criar algo que seja para todos, mas que tenha sempre em mente a segurança de quem ainda não tem esse privilégio. A Dengo Club procura encontrar essa união entre as mentes criativas de todos os backgrounds.
5. Como é que o público-alvo aderiu à primeira edição?
A nossa primeira edição aconteceu à 00:00 do 22 de Outubro, o mesmo dia que comemorei o meu aniversário de 23 anos. Para mim isso era o início de algo que eu queria para o meu futuro, partilhar as minhas ideias e ver a juventude criativa a tomar conta da noite lisboeta.
A primeira edição foi baseada nos anos 2000 e todos queriam mostrar como essa ‘época’ influencia a juventude de hoje.
6. Qual é a periodicidade prevista para a realização dos eventos?
Temos o evento principal a cada 2 meses, mas fazemos também pequenos encontros irregulares (Warm-Up) para a comunidade se conhecer e fazer novas amizades.
7. O que traz a próxima festa de novo relativamente à festa anterior?
A nossa primeira festa foi um throwback e essa nova festa é uma forma de adaptar o street style ao futuro que cada pessoa imagina. ‘O Baile do Futuro’ – ANTÍDOTO acontece no dia 17 de Dezembro no Village Underground Lisboa.
Cada festa tem um tema diferente para incentivar o público a experimentar coisas novas.
8. Quem são os artistas convidados?
Nessa festa trazemos o nosso primeiro cartaz internacional em colaboração com a DJ de Los Angeles BAE BAE que traz o som sexy e eufórico do afrobeat, amapiano e dembow. E também o artista espanhol Laskaar., conhecid por músicas como ‘Traición’ e o seu novo single ‘Tu y Yo’, onde o mesmo escreve sobre amor e sua vida pessoal usando toda a beleza dos ritmos electrónicos e a língua espanhola.
9. Qual é o input de cada criativo que te acompanha na gestão do projeto?
Cada pessoa que eu convidei para fazer parte do projeto foram amigos que acreditaram sempre nas minhas criações. Soya é hairstylist e tem um trabalho incrível criando arte visual com cabelo; Tokio é fashion designer com uma visão única e influência “Club kid” que trouxe sempre muita inspiração para a forma como e vejo o público na Dengo Club e como fazer para garantir a segurança delas;
Ricardo ‘Banu’ é o nosso designer gráfico e ele faz todas as artes, e está sempre disposto a dar vida às ideia que eu imagino para projeto.
Eu eusou o organizador e promotor da festa, faço o trabalho de booking e curadoria de todos os eventos, artistas e espaços.
10. Como te sentes por dar nome a algo que poderá ser revolucionário na cidade que te acolhe atualmente?
Eu escolhi o nome ‘Dengo’ que no Brasil é uma palavra usada para algo ou alguém que gostamos e queremos cuidar. Para mim esse projeto é sobre amor, eu quero criar algo que eu amo, algo que as pessoas possam amar e principalmente algo para a nossa geração. Existiu alguém revolucionário antes do nosso grupo e agora é o momento de trazer algo novo com novas caras e diversidade na busca em manter a cultura e a comunidade viva em Portugal.