Texto por Bernardo Semblano @bernardosemblano

A série biográfica sobre o estilista espanhol Cristóbal Balenciaga teve estreia no dia 19 de janeiro de 2024 na plataforma de streaming Disney+.

Como nos dizem nos créditos iniciais, para cada um dos seis episódios, que variam entre 45 e 60 minutos, “esta série é inspirada nos 30 anos que Cristóbal Balenciaga passou em Paris, desde os seus inícios, até chegar a converter-se no rei da alta-costura”.

No piloto, vamos encontrar um aposentado Balenciaga (interpretado pelo madrileno Alberto San Juan) que muito reticentemente concede uma entrevista à jornalista Prudence Glynn (papel da inglesa Gemma Whelan, mais conhecida por ter sido a Yara Greyjoy em Game of Thrones). O estilista, que sempre preferiu ficar por detrás das cortinas do seu atelier, conta a sua história de vida a Prudence (e ao público).

Balenciaga chega então a uma Paris já há muito rendida aos pequenos vestidos pretos e às pérolas de Coco Chanel. Porém, a criadora francesa rapidamente reconhece o talento dele e vê-o como um amigo, e não como um concorrente. Aliás, tal como Chanel disse, e estas palavras são trazidas para o programa televisivo: “Só Balenciaga é um costureiro no verdadeiro sentido da palavra. Só ele é capaz de cortar material, montar uma criação e costurar à mão, os outros são simplesmente estilistas”. Adicionalmente, a trama também acaba por explorar o azedume que se irá criar entre ambos com o passar dos anos.

No entanto, Mademoiselle Coco Chanel está longe de ser o único easter egg do mundo da alta-costura dentro desta trama. Christian Dior é visto como o verdadeiro adversário de Cristóbal. Não só Dior era capaz de o fintar em termos de criatividade e habilidade, mas era também um revolucionário pela sua perfumaria (a história por detrás do perfume Miss Dior é revelada) e pelo facto de se posicionar como um verdadeiro comunicador e face da sua marca. No fundo, para além de estilista, era uma celebridade. Inevitável será dizer que toda esta fama e, nova forma de marketing, eram repudiadas por Balenciaga que, na série, é pintado como um controlador obsessivo e um introvertido que nem com os seus próprios clientes fala, salvo raríssimas exceções.

Outra presença frequente é Hubert de Givenchy que, para além de confidente de Balenciaga, é o único que este último considera como um par em termos de mérito artístico e de aptidão. Para os fãs de Audrey Hepburn, a atriz é mencionada e o início da colaboração entre ambos também é introduzida.

Para além da timidez e da obsessão com os detalhes, Cristóbal Balenciaga é um homem extremamente resistente à mudança – havendo uma recusa clara do processo de massificação das suas indumentárias (o tão terrível prêt-à-porter) e uma inflexibilidade em alterar os seus vestidos tendo em conta os pedidos das clientes.

No fundo, a série apresenta-o como uma mente artística brilhante, mas torturada. Sendo as suas ideias fixas o seu pecado capital. Não obstante, é importante sublinhar os seus grandes obstáculos, desde o exílio em Paris para escapar à ditadura espanhola, à invasão dos Nazis em França, a contrafação dos seus produtos através da cópia e ter de desenhar um vestido para um casamento real.

O programa televisivo é também um grande teste de línguas. Em toda a série são faladas múltiplas línguas, muitas vezes existindo pulos de umas para as outras dentro da mesma cena. O critério está assente na nacionalidade das personagens que falam entre si. Como tal, espanhol e francês são as mais frequentes. O alemão e o inglês são as guest stars.

Tendo falecido em 1972, a série faz-nos debater sobre o seu legado artístico e como este se mantém (ou não) na marca homónima nos dias de hoje: Será que a marca Balenciaga se aproxima ou se afasta do homem Cristóbal? Os mais recentes desfiles seriam próximos de algo que ele criaria hoje? Não sabemos com 100% de certeza, mas vale a pena refletir…